São Bonifácio de Mogûncia: Pai dos povos germânicos
5 de junho, a Igreja celebra a memória de São Bonifácio, cujo zelo apostólico, coroado pelo martírio, fez nascer o povo germânico para Cristo.
Redação (05/06/2024 07:15, Gaudium Press) Detenhamo-nos nestas linhas a contemplar o homem providencial ao qual coube por missão cristianizar os povos de além do Reno e oferecer por eles sua vida em holocausto.
A Inglaterra, recentemente cristianizada por Santo Agostinho de Cantuária, havia-se deixado cativar pelas graças beneditinas. E foi ali que nasceu, por volta do ano 680, um menino que rapidamente se enleva por esse modo de viver.
Beneditino aos cinco anos de idade
Com apenas cinco anos de idade, Vinfrido, de família anglo-saxã, pede para ingressar numa abadia. Seu pai resiste, por julgá-lo ainda muito criança, mas dois anos depois permite sua entrada no mosteiro de Nursling.
Educado na sábia regra de “ora et labora”, o pequeno aprende Latim, Métrica, Poesia e Exegese. Quando já adolescente, torna-se professor de Gramática Latina, compõe várias poesias nessa língua e escreve alguns tratados.
Vinfrido é ordenado sacerdote no ano 710, quando contava, provavelmente, trinta anos de idade.
Convocado o Concílio de Wessex, recebe uma delicada missão junto ao Arcebispo de Cantuária, na qual obtém tal sucesso que logo sua fama começa a se espalhar. Ao dar-se conta disso, pede permissão a seu abade para ser missionário, renunciando a qualquer prestígio mundano.
A primeira missão fracassa
Os olhos do santo presbítero se voltam para um povo inculto, mas cheio de vigor. E, tendo antes se encomendado a inúmeras comunidades religiosas, que passaram a rezar pelo êxito de seu empreendimento, no ano 716 desembarca nas costas da Frísia, nas proximidades da atual Utrecht.
Após alguns meses auxiliando no seu apostolado o Bispo São Vilibrordo, vê-se obrigado a retornar à pátria, sem ter obtido muito sucesso.
Visando munir-se dos mais poderosos meios, aos quais nem os infernos nem mesmo os Céus resistem, dirige-se em 718 a Roma para pedir cartas de apoio ao Papa Gregório II.
Ciente do valor daquele varão, o Pontífice mantém-no por um tempo junto a si e, no ano seguinte, com uma carta datada de 15 de maio de 719, envia-o à Germânia com o objetivo de levar a Palavra de Deus aos povos ainda mergulhados nas trevas da idolatria. A fim de consagrar tal mandado, dá-lhe o nome de Bonifácio.
Abatendo o carvalho sagrado
Ao chegar ao coração do território germano, Bonifácio vê o grande labor que tem a desenvolver. A pequena comunidade cristã ali existente encontrava-se em tal decadência que os seus membros chegavam a participar de cultos e banquetes em honra ao deus Thor.
De forma incansável põe-se a campo para atraí-los à verdadeira Religião e, como primeira providência, pede auxílio a seus caros monges da Inglaterra, muitos dos quais, atendendo a seu apelo, logo acorreram à aquelas terras para eles selvagens e ignotas.
Graças a eles, as regiões de Hesse e Turíngia tornam-se, assim, objeto de constantes pregações e missões.
Em certo momento, o Santo decide abater o carvalho “sagrado” de Thor, para demonstrar àquelas almas a impotência dos ídolos e arrancá-las pelas raízes da falsa religião.
Elevado sobre a montanha de Gudenberg, em Geismar, ao oeste de Fritzlar, ele constituía o símbolo do paganismo germânico. Mas Bonifácio, desafiando com audácia o furor dos bárbaros, apanha um machado e começa a golpear aquela simbólica árvore.
Os céus mostram-se favoráveis a seu empreendimento: nesse instante começa a soprar um vento impetuoso que a derruba, partindo-a em quatro pedaços.
Vendo aquela manifestação do Deus verdadeiro, um Deus ciumento que julga com justiça, grande número de pagãos converte-se à Fé Católica. Uma capela dedicada a São Pedro é erigida no local antes ocupado pelo carvalho.
Bispo e organizador de um exército espiritual
Após três anos de frutuoso apostolado, Gregório II chama Bonifácio a Roma para impor-lhe a dignidade que tantas vezes recusara: o episcopado.
A mesma despretensão que levara o Santo a negar tantas vezes essa honra, impele-o a inclinar-se diante da vontade do Vigário de Cristo. No dia 30 de novembro de 722, o Sumo Pontífice o ordena Bispo da Germânia, diocese vastíssima que compreendia toda a região transrenana.
Gozando da estima do Papa e contando com o valioso apoio de Carlos Martel, o avô de Carlos Magno, Bonifácio dedica-se a conquistar mais almas para o rebanho de Cristo. Além de Hesse e Turíngia, também a Baviera e outras partes do território germânico beneficiam-se de seu zelo.
O venerável Bispo funda o Mosteiro de São Miguel de Ordhuff, lá estabelecendo sua residência. E, compreendendo a eficácia do exemplo da vida religiosa para civilizar aqueles povos, edifica mosteiros em quantidade. De 740 a 778, vinte e nove são construídos na Baviera.
À frente desse exército espiritual põe seus fiéis colaboradores anglo-saxões, que haviam acorrido a seu apelo no início da missão e perseveravam junto a ele.
Reforma da Igreja franca
O zelo de Bonifácio não conhece limites e ultrapassa os já enormes limites de sua diocese. Atendendo ao pedido de Carlomano, filho de Carlos Martel, viaja para a Austrásia e convoca ali o sínodo que passaria para a história com o nome de Concilium Germanicum.
Grande era o relaxamento moral naquelas regiões habitadas pelos povos francos, ainda governados pela dinastia merovíngia. Servindo-se desse concílio e de outros sínodos convocados posteriormente, o santo Bispo reestrutura as dioceses, reúne todos os mosteiros debaixo da regra e do carisma beneditinos e consegue uma restituição parcial dos bens da Igreja, utilizados por Carlos Martel em suas constantes guerras.
Com a ajuda dos condes, proíbe também os costumes pagãos ainda existentes.
Para coroar e firmar tais reformas, convoca no ano 747 o Concílio Geral do Império Franco, no qual ficou estabelecida a unidade da Fé, e fá-lo concluir com uma carta de submissão e fidelidade à Sé de Pedro.
Fundação da Abadia de Fulda
No decorrer dos anos, vinha Bonifácio acalentando o desejo de erigir algum mosteiro no qual repousassem seus restos mortais e ficasse de alguma forma perpetuada sua presença junto àquele povo, filho seu.
Com a ajuda de Santo Estúrmio, oriundo de nobre família da Baviera e por ele mesmo educado desde jovem, escolhe um espaço retirado no meio da floresta, no atual estado de Hesse.
Tendo-lhes sido cedida de bom grado a propriedade pelo poder real, o discípulo e mais sete monges tomam posse do local e, em 12 de janeiro de 744, começam a levantar com suas próprias mãos a célebre Abadia de Fulda, alternando o trabalho com orações e cânticos de Salmos.
Assim escreverá São Bonifácio ao Papa São Zacarias a respeito da nova fundação: “Lugar selvagem, no ermo de uma vastíssima quietude, no meio dos povos confiados à nossa pregação. Ao construirmos o mosteiro, nele pusemos monges que vivem segundo a regra do Patriarca São Bento, em estrita observância, sem comer carne nem beber vinho ou cerveja, e sem ter criados, contentando-se com o trabalho das próprias mãos”.
Ainda em vida de seu primeiro abade, Fulda chegou a abrigar quatrocentos monges, constituindo um manancial de sacralidade e virtude do qual germinaram muitos dos esplendores germânicos da Idade Média.
“Eis o dia há muito desejado!”
Aproximando-se de sua oitava década de vida, São Bonifácio não se sente saciado de amor a Deus. Seu coração arde em desejos de novas conquistas para a Santa Igreja.
Deixando São Lulo como seu sucessor na Arquidiocese de Mogúncia, São Bonifácio resolve enfrentar novamente o desafio com que dera início à sua missão: a conversão da Frísia.
Na primavera de 754 parte para a Frísia, acompanhado por cerca de cinquenta monges, para evangelizar povos ainda mais selvagens que aqueles com os quais até então convivera.
Após alguns meses de árduo, porém fecundo apostolado, o Santo resolve reunir todos os convertidos na cidade de Dokkum, na atual Holanda, a fim de administrar-lhes o Sacramento da Confirmação.
Corria o ano de 755. No horário marcado, eis que os religiosos veem chegar, em lugar dos cristãos, uma feroz tropa de bandidos.
O fiel Bispo encontra-se em sua tenda, lendo um livro. Ao ver avançar sobre si a horda bestial, levanta-se com coragem e diz:
“Eis o dia há muito desejado, chegou o tempo do nosso fim; tende coragem no Senhor. Sede fortes, não vos deixeis aterrar por aqueles que matam o corpo, mas não podem matar o espírito imortal; alegrai-vos no Senhor e fixai a âncora da vossa esperança em Deus, que depressa vos dará a paga do prêmio eterno e um lugar no Reino Celeste com os cidadãos do Céu, que são os Anjos”.
Usando o livro para defender-se, é golpeado na cabeça e apresenta-se ante seu Senhor para receber a recompensa tão merecida.
Ao saberem do ocorrido, os cristãos da Frísia apressam-se em recolher as preciosas relíquias dos mártires: São Bonifácio e os cinquenta e dois que com ele subiram vitoriosos ao Céu.
O corpo do pai dos povos germânicos foi transladado para a Abadia de Fulda, não sem resistência dos fiéis das Dioceses de Utrecht e de Mogúncia, que desejavam tê-lo consigo.
Assim culminou a gloriosa epopeia daquele menino que, no silêncio e na disciplina do claustro beneditino, descobriu o segredo do triunfo sobre si mesmo, sobre a barbárie e sobre os infernos.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.222, junho 202o. Por Ir. Maria Teresa Ribeiro Matos, EP.
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