São Bernardo e a Ordem dos Templários
Chamado Doutor Melífluo por sua imensa bondade, São Bernardo de Claraval brilhou também pela combatividade. Lutou contra os cátaros, pregou a Segunda Cruzada e enalteceu ardorosamente a Ordem de Cavalaria dos Templários.
Redação (10/07/2023 09:56, Gaudium Press) Hugo de Payns, em 1104, realizou uma peregrinação a Jerusalém, acompanhando seu suserano o Conde de Champagne – Nordeste da França. Indignado contra as violentas agressões feitas pelos muçulmanos contra os católicos, ele reuniu, em 1118, um grupo de cavaleiros nobres – um dos quais era tio de São Bernardo – com o objetivo de defender os fiéis e combater os inimigos de Cristo. Adotaram o nome de “Pobres Cavaleiros de Cristo”.
O Rei de Jerusalém intercede pelos Templários
O Conde de Champagne possuía muitas terras na França e havia doado a São Bernardo o Vale do Absinto, que se transformou em Claraval. Movido pela graça divina, ele transmitiu seus bens a um sobrinho e entrou para o grupo, passando a obedecer a seu antigo vassalo Hugo de Payns.
Tendo sido aprovados pelo Patriarca de Jerusalém, o Rei da Cidade Santa, Balduíno II, concedeu-lhes uma parte de seu palácio situado no local onde existira o Templo de Salomão, e ali passaram a ter uma vida religiosa, cumprindo os votos de obediência, castidade e pobreza. Por essa razão passaram a ser chamados “Cavaleiros do Templo”, ou Templários.
Balduíno II escreveu a São Bernardo – chamando-o “venerável pai” – uma carta, na qual pedia que os orientasse em seu nobre ideal. Enviou também uma missiva ao Papa Honório II rogando sua aprovação. Para tratar desse importantíssimo tema, o pontífice determinou a realização de um concílio em Troyes, na Champagne.
A fim de participar dessa assembleia, Hugo de Payns partiu de Jerusalém, acompanhado de cinco cavaleiros, e visitou diversas cidades da França, Bélgica e Inglaterra, onde recebeu generosas ajudas.
“Louvor da Nova Milícia”
Em janeiro de 1129, reuniu-se o concílio do qual participaram diversos bispos e abades, entre os quais São Bernardo de Claraval e Santo Estêvão Harding, de Cister. Estavam também presentes destacados nobres.
O Concílio de Troyes aprovou a Ordem dos Templários e a Regra escrita por São Bernardo, o qual, posteriormente, compôs o De laude Novum Militiae – Louvor da Nova Milícia.
Nessa obra, um verdadeiro Tratado, ele afirma que o combate do cavaleiro contra os inimigos da Igreja é uma continuação da luta efetuada por Jesus Cristo, o “Chefe dos cavaleiros” o qual, entrando no Templo de Jerusalém, inflamado de santa cólera expulsou os vendilhões, tendo nas mãos, não uma arma de ferro, mas um chicote.[1]
O Papa Honório II aprovou as decisões do Concílio de Troyes e, em 1139, Inocêncio II escreveu uma bula declarando que os Templários eram “defensores da Igreja Católica e impugnadores dos inimigos de Cristo”.[2]
Realmente, o homem combativo não deve apenas defender o bem, mas pugnar contra – impugnar – o mal. Se um cavaleiro, numa guerra, quer somente usar o escudo é um derrotado de antemão. Precisa utilizar a espada a fim de atacar o inimigo e derrotá-lo.
“A castidade é a segurança da coragem”
Os Templários eram constituídos por sacerdotes e cavaleiros, pertencentes à nobreza, bem como por escudeiros e artesãos, membros do povo.
Trajavam um manto branco, tendo ao peito bordada uma cruz vermelha. O branco simbolizava a pureza de corpo e alma; o vermelho, a disposição de derramar seu próprio sangue e o dos inimigos da Igreja, nas lutas travadas por amor a Deus.
E cumpriam uma Regra a qual, tratando da virtude da pureza, afirmava: “A castidade é a segurança da coragem.” Comentando essa frase, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira explicou:
“A castidade é por excelência uma firmeza. É exatamente aquele alto grau de firmeza e de coragem por onde, quando está convicto de que deve ser puro, o homem compreende a beleza e a nobreza incomparáveis do ideal de pureza.
“Quando ele compreende ser essa a vontade de Deus, e que assim deve ser; quando tem amor a essa pureza por amor à vontade do Criador, ainda que seja tentado, ele recusa a sugestão da tentação e se mantém puro. O ato de fidelidade na pureza é, por definição e na sua substância, um ato de coragem”.[3]
Com o elogio entusiástico que lhes fizera São Bernardo, os Templários tiveram um crescimento extraordinário. Construíram castelos-fortalezas e navios no Oriente. E no Ocidente receberam terras onde edificaram capelas e dependências para os professos e noviços; dedicaram-se à produção agrícola e outras atividades, tais como a criação e o adestramento de cavalos a fim de enviá-los aos Cavaleiros da Terra Santa.
Obtiveram também muitas doações monetárias e passaram a exercer transações comerciais nas chamadas comendadorias. Na França o número delas atingiu a impressionante cifra de 700.
Um papa aboliu a Ordem dos Templários
Tendo os muçulmanos dominado a Terra Santa, em 1291, os Templários se estabeleceram em suas comendadorias situadas na Europa, e incrementaram operações financeiras, chegando, inclusive, a fazer empréstimos a reis…
Em 1306, o Papa Clemente V, então instalado em Poitiers – Centro Oeste da França –, convocou o Grão-mestre dos Templários, Jacques de Molay, para vir a essa cidade, pois o pontífice pretendia organizar uma Cruzada.
Ele ali compareceu e, logo depois, o ímpio Rei da França Felipe, o Belo, – que pedira empréstimo de dinheiro à Ordem dos Templários e não saldara a dívida –, em 13 de outubro de 1307, mandou que todas suas dependências fossem invadidas e açambarcados seus bens. Muitos cavaleiros foram aprisionados, entre os quais Molay.
Difundiram-se por todo o país, inclusive através dos púlpitos das igrejas, as mais asquerosas acusações contra eles, tais como: cuspiam no crucifixo no dia em que eram admitidos na Ordem, praticavam abomináveis imoralidades. Afirma Daniel-Rops que “nenhum documento, nem a menor prova apareceu”[4] para apoiar tais incriminações.
Cedendo às pressões do infame Felipe, o Belo, Clemente V aboliu a Ordem dos Templários, em 1312. Em 18 de março de 1314, por ordem desse monarca, Jacques de Molay foi queimado vivo numa ilhota situada em frente da Catedral Notre-Dame de Paris. E no dia 20 de abril desse mesmo ano, morreu Clemente V.[5]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. RAMOS, Gregório Diez. Obras Completas de San Bernardo. Madrid: BAC. 1955. v. 2, p. 853 881.
[2] ALBON, André d’. Recueil des chartes et des bulles relatives à l’Ordre du Temple. Paris: H. Champion. 1922, v. 2, p. 375-379.
[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Castidade e coragem. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XIX, n. 218 (maio 2016), p. 13.
[4] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 639.
[5] Cf. DEMURGER, Alain. Jacques de Molay: Le crépuscule des Templiers. Paris: Payot, 2014. Les Templiers, une chevalerie chrétienne au Moyen Âge. Paris: Seuil, 2008.
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