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Santuário do Sameiro: grande centro de devoção à Virgem Maria

 “Não se concluirá, ao ler a sua história, que foi Deus quem realmente fez aparecer o ‘Sameiro’ em tempos borrascosos para a Igreja, fazendo dele o ‘Farol e guia da vida católica em Portugal’?”[1]

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Redação (31/12/2021 08:54, Gaudium Press) 28 de maio de 1834: decreta-se a expulsão das Ordens Religiosas do reino de Portugal; 577 casas religiosas, onde habitavam 12.980 pessoas, sendo 7.000 frades e 5.980 freiras com educandas e criadas, são suprimidas.

O que teria acontecido com esta nação conhecida por “Terra de Santa Maria”, devido à sua devoção à Mãe de Deus e por seus navegantes heroicos que espalharam a cruz de Cristo pelo Orbe? O Liberalismo, o Positivismo, o Regalismo, palavras tão em voga no séc. XIX, em Portugal não eram meros vocábulos ardilosos, mas sim doutrinas que faziam parte de um conluio para a destruição e a espoliação da Igreja.

Ora, quando a impiedade parecia triunfar, uma antiga mas entranhada devoção se acenderia como um farol em meio à tempestade para o povo luso.

A Imaculada Conceição[2]

No berço da nação – a cidade de Braga – a Imaculada Conceição da Virgem Maria, já há dois séculos, era reconhecida como verdade de Fé. Foi em 1637 que D. Sebastião de Matos de Noronha convocou um Sínodo Diocesano e, em união com o Cabido e os altos dignatários, fez um juramento de que para sempre na Diocese de Braga se guardaria a fé na Imaculada Conceição.

Poucos anos depois, em 25 de março de 1646, o reino foi consagrado a Nossa Senhora da Conceição e D. João IV lhe ofereceu a coroa portuguesa, aclamando-a Rainha de Portugal.

E esse vínculo com a Imaculada Conceição fez com que os lusitanos atravessassem o funesto século de liberalismo que assolou sua nação. A reação católica despontou na pessoa de um incansável pregador da devoção a Maria, Pe. Martinho Antônio Pereira da Silva, o qual fez unicamente o que lhe competia: ser “sal da terra e luz do mundo”.

Quando sua Santidade Pio IX definiu, a 8 de dezembro de 1854, o dogma da Imaculada Conceição, o zeloso Pe. Martinho festejou, em meio ao ateísmo que grassava no país, a definição dogmática com toda pompa merecida. E para coroar seu desejo de homenagear a Mãe de Deus, estando a passear com um amigo num monte afastado e inóspito, lhe veio à mente a ideia de colocar naquele local um monumento em louvor à Imaculada Conceição. Depois de inúmeras dificuldades, conseguiu que uma imagem de 3 metros de altura, esculpida numa peça única de mármore por Emídio Carlos Amatucci, fosse colocada no dia 12 de agosto de 1869 naquele monte chamado Sameiro.

“Ponto de convergência de todos os que pelejam o bom combate”

Localizado geograficamente no centro da região Entre-Douro-e-Minho tornou-se, o Sameiro um abençoado local, escolhido pela Mãe de Deus para fazer ali a sua morada.

827px Senhora SameiroEm 18 de julho de 1870, passado menos de um ano da entronização da imagem no monte Sameiro, Pio IX proclamou o dogma da Infalibilidade Pontifícia. O povo de Braga, então, voltou a regozijar-se em belas cerimônias, e o infatigável Pe. Martinho propôs, para que se marcasse para sempre essa vitória da Santa Igreja, a construção de uma capela em honra à Imaculada Conceição. A primeira pedra foi solenemente colocada no dia 31 de agosto de 1873.

“Estava lançado o gérmen de uma grande obra, que aparece, deste modo, como a profissão de fé, como adesão à doutrina da Igreja, como recusa, consequentemente, de aderir às negações positivistas e materialistas do tempo; o Sameiro torna-se o ponto de convergência de todos os que pelejam o bom combate”.[3]

Este templo foi levantado próximo ao monumento da Imaculada, o qual havia sido erigido anos atrás, e sua inauguração foi celebrada no dia 29 de agosto de 1880, acompanhada de uma procissão com a imagem de Nossa Senhora do Sameiro, obra de Eugenio Maocegnali, a qual fora abençoada pelo Beato Pio IX.

Passados 10 anos, o número de fiéis e peregrinos era tão grande que se fez mister construir uma igreja maior; assim, no dia 31 de agosto de 1890, na tradicional peregrinação anual, D. Antônio José de Freitas Honorato colocou a primeira pedra do novo templo. Infelizmente, devido às convulsões políticas que transtornaram Portugal no início do séc. XX e que se seguiram à queda da Monarquia, o término do edifício sagrado tardou 40 anos.

Contudo, o Sameiro já se tinha tornado um farol das almas devotas, apesar das atrapalhações e, como bem observara o Dr. Guilherme Braga da Cruz: “precisamente para assinalar este intercâmbio de dádivas entre o Céu e a Terra, entre Cristo e sua Igreja – intercâmbio de dádivas que tem como fulcro a Imaculada Mãe de Deus – no alto do Sameiro se levantou um monumento e se construiu um templo, que em breve se converteria em um dos maiores centros de devoção à Virgem de toda a Cristandade”.[4]

Por Danilo César Cabral


[1] FERNANDO LEITE, S. J. História do Sameiro. Braga: Confraria de Nossa Senhora do Sameiro. 2004, p. 10.

[2] Subsídios extraídos de: CARLOS DE AZEREDO, Antonio. Sameiro, Bom Jesus e Falperra. Barcelos: Caminhos Romanos, 2006.

[3] COELHO, Constantino. Ecos do Sameiro. 1952. In: FERNANDO LEITE, S. J. História do Sameiro. Braga: Confraria de Nossa Senhora do Sameiro, 2004, p. 10.

[4] BRAGA DA CRUZ, Guilherme. O Sameiro à luz dos dogmas comemorados na sua fundação: a Imaculada Conceição e a Infalibilidade Pontifícia. Separata das Atas do Congresso de Estudos do I Centenário do Santuário de Nossa Senhora do Sameiro. Braga, 1964.

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