Santa Radegunda e São Venâncio Fortunato
No século VI, na França, Radegunda, uma rainha de especial beleza, brilhou por suas altíssimas virtudes e obteve a glória dos altares.
Redação (06/12/2021 09:57, Gaudium Press) Radegunda nasceu em 518 e era filha do Rei da Turíngia, região central da atual Alemanha.
Estando ela com treze anos de idade, a Turíngia foi conquistada pelo Rei Clotário I – filho de Clóvis e Santa Clotilde – e seus pais morreram vítimas dos massacres. Desejando desposá-la, Clotário salvou-a e lhe proporcionou esmerada educação.
Alguns anos depois, Clotário anunciou o casamento, contudo, na noite anterior à cerimônia, Santa Radegunda conseguiu fugir. Por ordem do rei, cavaleiros foram ao seu encalço, trouxeram-na de volta e as bodas foram celebradas.
Tornando-se rainha, ela doava aos mosteiros o dinheiro que recebia e mandou construir um hospital para indigentes. Esquivava-se dos festins reais e cuidava com suma bondade dos doentes.
Certa ocasião, caminhando por uma estrada, acompanhada por uma comitiva de nobres, ela viu um templo pagão e mandou que fosse queimado.
Mas logo surgiu um magote de idólatras armados de lanças que avançaram contra ela. A Santa montou num cavalo e com seu olhar dominou a cólera deles, dizendo-lhes palavras cheias de unção. Todos se converteram e concordaram com a destruição do templo.
Recebida triunfalmente em Poitiers
Certo dia, Clotário I mandou eliminar um irmão de Santa Radegunda. Desse modo, ela tornou-se a única sobrevivente de sua família. Atendendo a seus rogos, o rei permitiu que ela se fizesse religiosa e lhe concedeu os meios para construir um convento em Poitiers – Centro-Oeste da França.
Em sua viagem para essa cidade, em 544, ela passou por Tours, onde se encontrou com Santa Clotilde, sua sogra, com a qual permaneceu durante algum tempo. Terminada a edificação da casa religiosa, ela se dirigiu a Poitiers onde foi recebida triunfalmente pela população, e se enclausurou no convento, passando a levar uma vida de oração e rigorosas penitências.
Clotário I conquistou os outros reinos em que estava dividida a França e fixou sua residência em Paris. Apesar de seus crimes, ele não perdeu a Fé. Certo dia, dirigiu-se à Basílica de São Martinho, em Tours, prosternou-se diante do túmulo do Santo e pediu a Deus misericórdia; morreu alguns meses depois.
Um varão com excelentes dons musicais
Nessa época, a Providência suscitou um varão com excelentes dons musicais: São Venâncio Fortunato.
Nasceu, em 530, nos arredores de Treviso, Norte da Itália, e fez seus estudos em Ravena. Aos 30 anos de idade, tendo perdido a visão, foi a um oratório dedicado a São Martinho de Tours a fim de implorar a cura; colocou óleo bento nos olhos e ficou curado. Para agradecer esse milagre, encetou uma peregrinação à cidade francesa de Tours.
Em sua longa viagem, hospedava-se em residências de bispos e nobres, e pagava suas despesas cantando hinos nos quais descrevia as igrejas, os monumentos, as casas, os rios, as florestas, as plantações dos campos e outras belezas da natureza.
Em Tours, ele venerou as relíquias de São Martinho e, logo depois, foi a Poitiers a fim de conhecer Santa Radegunda. Resolveu tornar-se sacerdote e passou a ser o capelão do convento onde ela vivia.
Continuou a compor hinos religiosos muito apreciados por Santa Radegunda e também por São Gregório de Tours, que escreveu a famosa “História dos francos” e divulgou as músicas de São Venâncio.
Hinos que se propagaram pelo mundo inteiro
Em 569, Santa Radegunda escreveu ao Imperador do Oriente, Justino, o Jovem, pedindo-lhe uma parte do Santo Lenho que existia em Constantinopla. O Imperador aquiesceu e, com a notícia da breve chegada da Sagrada Relíquia a Poitiers, Santa Radegunda ordenou que fosse feita uma procissão desde a entrada da cidade até o mosteiro.
Durante o cortejo se cantava o Vexilla Regis – O estandarte do Rei – e o Crux fidelis – Ó Cruz fiel –, compostos por São Venâncio. O povo chorava; cegos, mudos e paralíticos foram curados. A Relíquia foi colocada no convento que passou a se chamar “Mosteiro de Santa Cruz”. A partir de então, aqueles hinos começaram a ser difundidos pelo mundo inteiro.
No ano 600, São Venâncio foi sagrado Bispo de Poitiers. Além de eminente compositor musical, escreveu obras em prosa, entre as quais a vida de Santa Radegunda.
“Não retireis a luz de nossos olhos!”
Ela morreu em 17 de agosto de 587. Uma religiosa escreveu que, durante a agonia da Santa, as monjas, ajoelhadas em torno dela, derramavam copiosas lágrimas e, batendo no peito, diziam: “Senhor, livrai-nos desse desastre! Não retireis a luz de nossos olhos!”
São Gregório de Tours, que dirigiu os funerais, escreveu posteriormente que no convento havia 200 religiosas, muitas das quais eram princesas de sangue real, filhas de senadores, de destacados oficiais, de nobres.
Porém, passado algum tempo, uma parte das monjas, lideradas por duas filhas de reis, se rebelaram contra a abadessa. Devido à firme reação das freiras virtuosas, as revoltosas reuniram soldados que atacaram o mosteiro e houve mortes e pilhagem. Por fim, o Conde de Poitiers, com a ajuda de toda a população, conseguiu desalojar as rebeldes que foram depois excomungadas, e a fiel abadessa reassumiu o seu cargo.
Novo Paganismo
Ficamos horrorizados com os crimes praticados naquela época devido aos restos do paganismo. Entretanto, no mundo atual ocorrem hediondezas mais degradantes, como afirma Monsenhor João Clá:
“A terra inteira sucumbe a um novo paganismo, pior que o antigo, onde se cometem crimes de uma violência que clama aos Céus: a inocência daquelas crianças que não são assassinadas nos ventres de suas mães perde-se tão cedo quanto possível; a amoralidade reina na maioria dos corações; a injustiça, o ateísmo e o pragmatismo dominam a quase totalidade das leis e dos costumes; em síntese, o mundo tocou, por assim dizer, o abismo mais fundo da baixeza.”
Peçamos a Santa Radegunda e São Venâncio Fortunato que nos ajudem a lutar com denodo contra esses males, certos de que em breve haverá o triunfo do Coração Sapiencial e Imaculado de Maria.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
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