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Santa Margarida, padroeira da Escócia

Por suas altíssimas virtudes e seu apostolado, a Rainha Santa Margarida, sobrinha-neta do Rei da Inglaterra Santo Eduardo, o Confessor, tornou-se padroeira da Escócia.

Santa Margarida da Escocia

Redação (18/12/2022 15:47, Gaudium Press) Nasceu Santo Eduardo na Inglaterra, em 1003. Quando essa nação foi conquistada por Canuto, o Grande, Eduardo, sendo ainda menino, exilou-se na Normandia governada por seu tio Ricardo II, duque dessa região do Norte da França.

 Exerceu inicialmente o ofício de pastor. Aos 18 anos, já cavaleiro, distinguiu-se por suas excelentes qualidades militares em diversas batalhas e recebeu o governo de uma província com o título de conde.

Santo Eduardo, o Confessor

Tendo Canuto falecido, seu filho chamou de volta Eduardo que se tornou Rei da Inglaterra, em 1042. Casou-se com Edith, de alta nobreza, e não tiveram filhos, pois ambos haviam feito voto de virgindade e o cumpriram integralmente. Santo Eduardo morreu em 1066 e foi sepultado na Abadia de Westminster que ele havia mandado construir.

Junto ao seu corpo, encontrado incorrupto em 1102, muitos milagres se realizaram. Recebeu o título de “Confessor” por ter confessado heroicamente a Fé católica diante de Deus e dos homens. Sua memória é celebrada em 5 de janeiro.

Logo depois eclodiu uma guerra entre dois pretendentes ao trono da Inglaterra: o Conde Harold, chefe dos saxões, o qual se fez coroar rei, e Guilherme, Duque da Normandia, sobrinho-neto de Santo Eduardo que o indicara como seu sucessor.

Anteriormente, o próprio Harold estivera na Normandia e havia feito um juramento, diante de relíquias de santos, de que sempre defenderia ser um direito de Guilherme a coroa inglesa.

O Duque da Normandia recorreu ao Papa Alexandre II, o qual declarou ser ele, Guilherme, o sucessor de Santo Eduardo e lhe enviou um estandarte, símbolo da realeza.

Guilherme, o Conquistador

 E o Arquidiácono Hildebrando – futuro São Gregório VII–, conselheiro do Papa Alexandre II, fez com que este apoiasse Guilherme em sua investida militar para conquistar a Inglaterra.

Guilherme fez um apelo a toda França e conseguiu reunir 60.000 homens e 750 navios; muitos cavalos foram também transportados. Atravessaram o Canal da Mancha e chegaram ao Sul da Inglaterra.

Os exércitos de Guilherme e de Harold se enfrentaram em outubro de 1066, nas proximidades de Hastings. A maior parte da noite anterior à batalha final, os saxões passaram cantando e bebendo. Os normandos permaneceram em orações e se confessaram para poderem comungar na Missa que foi celebrada na manhã seguinte.

Pouco antes do início da luta, os guerreiros de Guilherme cantaram a Chanson de Roland, que rememora o heroísmo de Carlos Magno e seus pares. Ao final, bradaram “Que Deus nos ajude!” e se lançaram contra os saxões, que foram massacrados pelos normandos, cuja cavalaria era muito eficaz; Harold estava entre os mortos.

Em 1070, três legados do Papa Alexandre II coroaram Guilherme como Rei da Inglaterra, o qual passou para a História com o título de “Conquistador”. No local onde se desenrolou a batalha, ele posteriormente mandou edificar um mosteiro.

Com apoio do novo monarca, os legados excomungaram os eclesiásticos simoníacos que ocupavam altos cargos na Igreja. O Conquistador trabalhou para que clérigos normandos ocupassem as principais sedes episcopais da Inglaterra, e o francês tornou-se o idioma oficial do país. Mas ele não foi inteiramente fiel à Igreja: nomeou bispos sem consultar o Papa.

Elevou o nível cultural e espiritual do povo

Nesse mesmo ano de 1070, Santa Margarida – nascida na Hungria e descendente de um monarca da Inglaterra – casou-se com Malcom III, o qual havia matado o Rei da Escócia Macbeth e assumira o trono dessa nação. Shakespeare escreveu uma peça teatral intitulada Macbeth.

Malcom era um homem semibárbaro, e Santa Margarida ensinou-lhe a Doutrina Católica conseguindo de certa forma civilizá-lo.

Em 1093, caminhando por uma estrada desarmado, foi atacado por um grupo de indivíduos, comandados por um de seus sobrinhos, que o assassinaram.

Tiveram oito filhos. Três deles foram reis da Escócia, e uma filha se tornou Rainha da Inglaterra pelo seu casamento com Henrique I, filho de Guilherme, o Conquistador.

Grande admiradora da Liturgia, Santa Margarida introduziu o belo na vida de corte, como meio indispensável para elevar o nível cultural e espiritual do povo. Estabeleceu que a família real fosse servida à mesa com baixelas de ouro e prata.

Levava uma existência de intensa oração e jejuava frequentemente. Cuidava dos desvalidos com especial zelo e carinho. Na quaresma, atendia os pobres no palácio real e os servia. Santa Margarida “considerava o reino da Escócia como uma grande família do qual ela era a mãe”.[1]

Três meses após a morte de seu esposo, Santa Margarida entregou sua alma a Deus[2].

Sacralização da dignidade régia

A respeito dela, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:

“Na vida de Santa Margarida da Escócia nota-se a existência do maravilhoso na Idade Média. Não do maravilhoso como uma fábula ou lenda, mas como algo de realizável.

“Para a brumosa Escócia, então terra de missão, essa princesa vinha trazendo sangue ilustre, toda a flor da civilização ocidental, tornando-se uma rainha magnífica, que deixa vários filhos ilustres por suas virtudes, e que intercedeu a favor do povo, deu esmolas, realizou milagres.

“Tudo isso sempre ungido pela coroa real, além de uma ideia completa da realeza, apresenta um mundo concreto onde maravilhas são possíveis e o extraordinário, o estupendo, a ordem, mesmo a mais excelente e audaciosa, são realizáveis na Terra.

“Santas como esta de tal maneira difundiam o bom odor de Jesus Cristo por toda parte, que acabavam sacralizando a própria dignidade régia e criando uma espécie de ambiente de feeria, de maravilhoso da civilização medieval, do qual os vitrais são um reflexo, apresentando os bem-aventurados em meio a pedacinhos de vidros dourados, cor de rubi, de esmeraldas, com uma luz na cabeça, a coroa real sobre uma mesa, uma santa que derrama flores em torno de si.

“Tudo isso é a imagem do próprio modo como o medieval concebia a vida, por exemplo, de uma Santa Margarida, Rainha da Escócia.”[3]

Peçamos a Santa Margarida, cuja memória se celebra em 16 de novembro, que nos obtenha de Nossa Senhora graças para sempre estarmos voltados ao maravilhoso, a fim de atuarmos eficazmente face ao mundo de hoje, que se precipita no hediondo.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Paris : Louis Vivès. 1901, v. VII, p. 312.

[2] Cf. AIMOND, Charles. Le Moyen Âge. Paris: J. de Gigord. 1939, p. 177-180. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. XXI, p. 463. 474, 478 passim.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O maravilhoso realizado na terra. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XX, n. 236 (novembro 2017), p. 2.

 

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