Santa Joana de Valois sofreu com dignidade e serenidade
Filha de Luís XI, Rei da França, Joana de Valois nasceu num castelo de Nogent-le-Roi nas proximidades de Chartres, em 23 de abril de 1464.
Foto: Wikipedia
Redação (07/04/2025 17:02, Gaudium Press) Quando soube que Joana apresentava deformidades no rosto e ficaria quase anã, encurvada e manca, seu pai indignou-se e a desprezou. Mas sua mãe, Rainha Carlota de Saboia, tratou-a com extremos de carinho e ensinou-lhe a sempre voltar-se para Deus, o Pai eterno.
Assim que pôde caminhar, Joana frequentemente pedia às damas de honra que a levassem a uma igreja a fim de rezar. E o rei, para afastá-la da rainha, mandou a menina à residência dos barões de Linières, um casal sem filhos, situada em Berry – Centro da França.
Católicos fervorosos, os Linières a acolheram com alegria e aprimoraram seus conhecimentos religiosos. Fizeram com que aprendesse tocar alaúde, bordar e outros ofícios manuais. Porém, o melhor de seu tempo dedicava à oração.
Muito devota de Nossa Senhora, certo dia ela perguntou-Lhe o que deveria fazer para agradá-La. E a Mãe de Deus respondeu que Joana fundaria uma ordem religiosa para louvá-La. Fez, então, o propósito de entregar-se totalmente à Santíssima Virgem.
Tendo apenas doze anos e idade, seu pai promoveu o casamento dela com Luís XII, Duque de Orléans, com quatorze.
Ao receber a notícia de que deveria casar-se, ela se prosternou diante de um crucifixo e suplicou ao Redentor graças para manter seu propósito de total consagração a Jesus e Maria.
Duquesa de Berry
Luís XI faleceu quando Joana contava 19 anos de idade. Sucedeu-o seu filho Carlos VIII. O Duque de Orléans ergueu armas contra o novo rei, visando usurpar o trono, porém foi derrotado e condenado à morte.
Lançado na prisão, onde permaneceu durante três anos, a Santa ia visitá-lo, mas ele sempre se negou a vê-la e a dirigir-lhe a palavra.
Embora ciente da culpa do marido, ela pediu com insistência ao seu irmão, Carlos VIII, sua libertação e conseguiu-a. Mas o duque nunca lhe agradeceu o favor recebido…
Tendo falecido Carlos VIII sem descendentes, em 1498, o Duque de Orléans tornou-se Rei da França com o nome de Luís XII. Uma das primeiras medidas por ele tomada foi promover a anulação de seu casamento com Joana, a qual Alexandre VI aprovou.
Embora humilhada publicamente, a Santa comunicou ao novo rei que agradecia a Deus por tal separação, pois assim podia melhor dedicar-se a servi-Lo.
Impressionado pelas excelsas virtudes de Joana, Luís XII concedeu-lhe o usufruto do ducado de Berry. Ela tornou-se Duquesa de Berry.
Antes de partir para Bourges, sua capital, Joana despediu-se do rei e disse-lhe que lhe agradecia porque a livrara da dura servidão do mundo. Pediu perdão pelos erros que pudesse ter cometido.
E declarou que desejava expiá-los consagrando sua vida à oração pelo rei e pela França.
Duas luminosidades miraculosas
Joana havia mantido intercâmbio epistolar com São Francisco de Paula, o qual lhe confirmara ser de origem divina a inspiração que ela tivera na infância, e recomendou-lhe empreender a fundação da ordem religiosa.
Em Bourges, ela reuniu um grupo de moças dispostas a dedicar suas vidas pela glorificação de Nossa Senhora e fundou a Ordem da Santíssima Anunciação da Santa Virgem Maria a qual foi reconhecida pela Santa Sé, em 1501.
Santa Joana, que havia administrado o ducado de modo exímio, encarregou outras pessoas para esse encargo e passou a cuidar apenas das religiosas.
Em 4 de fevereiro de 1505, ela expirou serenamente rodeada pelas religiosas de sua Ordem. Uma claridade miraculosa brilhou sobre sua cama por uma hora e meia, desde que exalou o último suspiro.
Na hora exata de sua morte, uma outra luminosidade descida do firmamento incidiu sobre o palácio de Luís XII. Impressionado por esse sinal divino e movido pela graça divina, ele arrependeu-se dos maus-tratos que lhe dispensara e ordenou serem oferecidas à sua antiga esposa pompas fúnebres reais.[1]
Trombetas de prata soaram na Basílica de São Pedro
A respeito dessa admirável heroína Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:
“Santa Joana de Valois foi desprezada por todo mundo, até pelo pai e, por fim, repudiada pelo marido. Mas ela conduziu a vida com dignidade e serenidade. Fundou uma Ordem Religiosa e governou muito bem o feudo adquirido depois de sua separação conjugal.
“Após sua morte, recebeu a honra dos altares. Apesar de tudo quanto pudessem dizer dela, só uma coisa importava: ela era católica, e isso bastava. Para sua segurança, seu cartão de visita estava pronto: católica apostólica romana. É um título lindíssimo! Essa ufania de ser católico é a raiz daquilo que Camões chamava ‘os cristãos atrevimentos’.
“Quando temos essa ufania é que nos atrevemos a nos lançar. Não porque sejamos mais na ordem humana dos valores; talvez até sejamos menos do que alguns. Mas isso não importa. O que tem importância é o fato de sermos católicos, termos recebido o sinal do Batismo na fronte, sermos filhos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana”.[2]
Dr. Plinio assistiu à cerimônia de canonização de Joana de Valois efetuada em 28 de maio de 1950, na Basílica de São Pedro, em Roma. Posteriormente, ele afirmou:
“Coube-me um assento ao lado do embaixador muçulmano do Egito. No momento da Consagração, as trombetas de prata começaram a soar. Tinha-se a impressão de serem tocadas por Anjos no Céu. Uma verdadeira maravilha! E uma emoção intensa apoderou-se
dos fiéis.
“Eu estava profundamente compenetrado, mas não sou emotivo. Deitei um olhar sobre o embaixador do Egito para ver como uma cena assim repercutiria na mentalidade de um maometano. Ele estava inclinado e notei que saíam de seus olhos lágrimas abundantes.
“Terminada a Consagração, ele voltou à sua posição normal. A repercussão da lembrança dessa graça, vinda à hora da morte, saberemos no dia do Juízo”.[3]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] GUÉRIN, Paul. Sainte Jeanne de Valois. In: Les petits bollandistes. Vies des Saints. 7.ed. Paris: Bloud et Barral, 1876, t. II.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A ufania de ser católico! In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XX, n. 227(fevereiro 2017), p. 2.
[3] Idem. Canonização de Santa Joana de Valois. In Dr. Plinio. Ano XVI, n. 182 (maio 2013), p. 5.
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