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Santa Hildegarda e o início da Revolução

No século XII, houve uma abadessa que, além de advertir papas, imperadores e outros nobres, previu o início e o desdobramento da Revolução igualitária e gnóstica que hoje domina toda a Terra: Santa Hildegarda.

Sta Hildegarda Bingen

Redação (01/06/2023 10:41, Gaudium Press) Décimo filho de um casal de nobres e ricos proprietários de terras, nasceu Hildegarda em 1098, num castelo das cercanias de Mainz – Sudoeste da Alemanha –, pertencente a seus pais.

Admissão de crianças nas Ordens religiosas

Aos oito anos de idade, ingressou num mosteiro beneditino dirigido por uma condessa cujo esposo governava a região. Aí ela estudou, aprendeu a tocar harpa e teve muitas visões sobrenaturais, julgando que todas as crianças também recebiam essas graças místicas extraordinárias.

“Hoje, muitos se opõem à existência de seminários para menores e também ao fato de se admitir crianças, embora sem votos, nas Ordens religiosas. Santa Hildegarda, porém, floresceu maravilhosamente junto às beneditinas, instituição na qual ingressou em tão tenra idade.”[1]

Ao longo de três décadas, sofreu diversas enfermidades, mas continuava a receber visões. Tendo 38 anos de idade, foi eleita abadessa do mosteiro e recebeu ordem do prior para escrevê-las. Assim que iniciou esse trabalho, ditando ou redigindo em pergaminhos com pena de ganso, ficou curada de suas doenças. Tal era a sublimidade dos pensamentos contidos nos textos que, em pouco tempo, eles se difundiram.

Respondendo a uma carta que lhe enviara São Bernardo, ela o chama de pai, se declara sua escrava e escreve: Numa visão mística, “vi a ti como um homem que olha para o Sol sem temor, mas com muita audácia. […] És a águia que olha para o Sol. Sê forte nos combates de Deus. Amém.”[2]

Cartas ao Papa Beato Eugênio III…

Tendo sido convocado pelo Beato Eugênio III para orientar um sínodo em Tréveris – Oeste da Alemanha –, em 1147, São Bernardo visitou-a e levou para a assembleia textos escritos por ela. O papa ficou maravilhado e fez com que uma súmula dos mesmos fosse lida aos participantes.

Em seguida, escreveu à Santa uma carta aprovando suas visões e pediu que lhe comunicasse as revelações que havia recebido sobre a situação da Igreja e da Cristandade.

Transcrevemos alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito da resposta de Santa Hildegarda.

“A santa relatou ao Papa Eugênio, em carta bastante longa, tudo quanto ouvira da voz celeste, relativamente ao pontífice. Anunciava uma época difícil, cujos primeiros sinais já se manifestavam.

“Como se verá, essa época difícil que ela previa e cujos primeiros sinais já se manifestavam era o início da Revolução.

“Os vales se queixam das montanhas, as montanhas tombam sobre os vales”. Os vales são a parte inferior da sociedade, e as montanhas as classes superiores.

“Os súditos não mais sentem temor de Deus. Estão um tanto impacientes por subir como que ao cume das montanhas para incriminar os prelados, em vez de acusarem os próprios pecados.” O termo “prelado”, na linguagem medieval, refere-se aos primeiros, não só na ordem eclesiástica, mas também na temporal.

“Os vales dizem: ‘Sou mais adequado do que eles para superior’. Denigrem, por inveja, tudo quanto os superiores fazem.”

“Convém lembrar aqui o que afirmamos em ‘Revolução e Contra-Revolução’, a respeito do orgulho, aplicável igualmente ao vício da inveja: o orgulhoso odeia seu superior, e pode chegar ao ódio à superioridade enquanto tal. Para ele, o bem é a igualdade completa.”

“As próprias montanhas, isto é, os prelados…” Portanto, os nobres, os clérigos e, em rigor, também a alta burguesia “…em lugar de se elevarem continuamente às comunicações íntimas com Deus, a fim de cada vez mais se transformarem na luz do mundo, descuidam-se e se obscurecem.”

“Nessa passagem aparece uma linda noção sobre o papel da nobreza e do clero: ter comunicações contínuas com Deus para se iluminarem cada vez mais com o esplendor divino, para efeito, quer espiritual, quer temporal. Dessa forma, serão como a luz posta no alto da montanha a iluminar o mundo inteiro. Como eles não seguiram esse chamado, mas relaxaram no trato com Deus, foram se obscurecendo. Não espargiram mais a luz que deveriam, causando assim a sombra e a perturbação que reinava nas ordens inferiores.

“Então, setores da plebe não prestavam, mas o ponto de partida dessa decadência foi a atitude de membros da nobreza e do clero que se deixaram tomar pela tibieza. Num justo e majestoso castigo, as partes mais baixas da sociedade, cheias de inveja, investem para derrubar aqueles superiores.

“Como essa disposição das coisas nos parece lógica, grandiosa, e como demonstra toda a economia da Providência através da História!”[3]

… ao Imperador, ao Rei, ao Conde

Santa Hildegarda teve também contatos epistolares com altos dignitários da sociedade temporal.

Ao Imperador do Sacro Império Romano Germânico Conrado III, que lhe pedira conselhos, ela enviou uma carta que terminava com estas palavras: “Aquele que tudo conhece mais uma vez vos diz: Ao ouvires estas coisas, homem, domina a
tua vontade e corrige-te, a fim de chegares purificado aos tempos de que falo, e para que não precises envergonhar-te de tuas ações”.[4]

Frederico Barba ruiva, que sucedeu seu tio Imperador Conrado III – fundador da dinastia Hohenstaufen – no governo da Alemanha, escreveu-lhe uma carta fazendo consultas. Em sua resposta, ela afirmou: “Sê cavaleiro armado, combatendo corajosamente contra o demônio!”[5]

Mas, deixando-se arrastar pelo príncipe das trevas, Barba ruiva apoiou antipapas e foi excomungado. Participando da III Cruzada, morreu afogado num rio da Turquia, em 1190.

Felipe da Alsácia, Conde de Flandres, enviou à Santa uma missiva iniciada com as palavras “Vossa santidade”, na qual perguntava se deveria ir à Cruzada. Após receber a resposta, ele partiu para Jerusalém, em 1177.

Era primo coirmão do Rei de Jerusalém Balduíno IV, que embora leproso possuía uma combatividade heroica. Este pediu-lhe que comandasse uma expedição contra o Egito, porém ele rejeitou esse empreendimento que teria impedido a ascensão do ímpio Saladino.

Tendo ficado isolado por causa dessa atitude vergonhosa, o Conde de Flandres voltou para a França e o Rei Luís VII o nomeou tutor de seu filho Felipe Augusto. Algum tempo depois, movido por uma graça divina, ele regressou à Terra Santa por ocasião da III Cruzada e, atingido por uma epidemia, faleceu em 1191.

 Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Hildegarda de Bingen, um “milagre contínuo”. In Dr. Plinio. São Paulo Ano VII, n. 78 (setembro 2004), p. 26.

[2] PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen – mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos (RS) : Minha biblioteca católica. 2020, p. 92-93.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Op. cit., p. 30.

[4] ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 16, p. 252.

[5] PERNOUD, Régine. Op. cit., p. 85.

 

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