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Santa Germana Cousin

Num século habituado aos prazeres e deleites da vida, onde o sofrimento e a dor eram considerados com repugnância, surgiu uma alma humilde: Santa Germana Cousin, cuja memória a Igreja celebra no dia 15 de junho.

Santa Germana

Redação (15/06/2024 09:41, Gaudium Press) Guillaume Cassé trabalha com ardor no piso da igreja de Pibrac para remover uma grossa laje. Falecera uma piedosa paroquiana e seus familiares desejam que o corpo repouse no recinto sagrado.

Subitamente, um grito de assombro se faz ouvir, atraindo todos os circunstantes para junto da abertura. Algo ao mesmo tempo prodigioso e assustador contemplam: o corpo de uma donzela ali jaz em perfeito estado. Tão viva parece estar que todos percebem a marca vermelha que a picareta de Guillaume lhe deixou no rosto. Que milagre!

Quem seria aquela Santa nascida em seu meio, mas de cuja virtude sequer tinham se dado conta? Por fim, alguns mais experientes e avançados em idade a reconhecem: é Germana Cousin, a pobre pastorinha escrofulosa que falecera havia mais de quarenta anos.

Mas, afinal, quem era aquela jovem tão atraente quanto desconhecida?

Contemplação em meio à dor

A História não registra com segurança o nome dos pais de Germana, mas sabe-se que ela pertencia à família Cousin, proprietária de uma fazenda em Pibrac.

Além do braço direito atrofiado, cuja deformação se constatava no angelical corpo, Germana padecera uma terrível doença, a escrofulose. À época, essa enfermidade era incurável e, por ser contagiosa, trazia para a menina, ademais do sofrimento físico, o desprezo e o trato desumano por parte de sua madrasta.

Entre as humilhações que esta lhe infligia, estava a proibição de aproximar-se da mesa da família e a sujeição a dormir num canto do corredor ou mesmo na estrebaria, de onde devia sair bem cedo para passar o dia no campo a guardar o rebanho.

Nos meses de frio ou de calor vestia sempre a mesma roupa, e lhe davam para levar como alimento apenas um pedaço de pão.

Sempre alegre, elevada e generosa, a pastorinha não passava suas horas de solidão pensando nas tristezas e dificuldades da vida. Afastada das agitações do mundo, da ebulição das paixões e das ambições humanas, aproveitava para contemplar as maravilhas da criação que tão bem refletiam a Deus e sua Mãe, à qual a jovem devotava especial carinho.

Entretanto, não raras eram as jornadas que terminavam em surras e castigos por parte de sua madrasta, que descarregava seu mau humor sobre a inocente menina.

Jamais perdia um momento de convívio com Jesus e Maria

Santa Germana3Se os habitantes de Pibrac pouco viam Germana e quase nada conheciam dos seus afazeres, em um lugar era certo que poderiam encontrá-la diariamente: a igreja paroquial.

Ao ouvir os sinos chamando os fiéis para junto de Deus, a pastora encomendava o rebanho a algum conhecido – e, quando não encontrava quem lhe prestasse esse auxílio, confiava as ovelhas a seus companheiros celestes – e dirigia-se sem tardar à celebração da Eucaristia.

Também era sagrada na rotina da pastorinha a hora do Angelus, que soava no campanário. Onde e como se encontrasse, ela interrompia o que estivesse fazendo, punha-se de joelhos e recitava a oração.

Não hesitou mesmo, certa vez, em ajoelhar-se em meio às águas de um rio ao ouvir o toque durante a travessia, ou a sujar-se no barro por estar passando num lugar pantanoso.

Outro forte elemento da piedade de Germana era a recitação do Rosário. Dele tirava as forças necessárias para enfrentar com galhardia, confiança e espírito sobrenatural sua difícil existência e fazer dela um instrumento de combate para o próprio Deus.

Em certa ocasião, notando-a ainda mais débil e sem forças, souberam que naquela semana privara-se de seu único pedaço de pão para destiná-lo a um pobre homem desfalecido de fome, com o qual se encontrara no caminho.

A correnteza amainada

Santa Germana2Embora o povo de Pibrac não lhe desse atenção, a família a desprezasse e ninguém reconhecesse suas virtudes, sem dúvida muitos sentiam, no fundo da alma, que aquela pastorinha representava algo superio. Não faltaram testemunhas disso no seu processo de canonização, havendo inclusive relatos de fatos milagrosos ocorridos com a menina.

Por exemplo, aproximava-se ela em certa ocasião do Rio Courbet, que sempre atravessava para chegar à igreja. Naquele dia, porém, a chuva tinha sido intensa e a correnteza era forte. Sem titubear, Germana avançou em direção às águas, que se amainaram permitindo-lhe passar tranquilamente.

Também houve quem atestasse milagre semelhante ao ocorrido com Santa Isabel da Hungria: em pleno inverno, Germana saiu de casa levando restos de pão para os pobres, ocultos no avental. Percebendo o volume que a jovenzinha carregava, a madrasta correu furiosa atrás dela e abriu-lhe à força o tecido, fazendo cair ao solo inúmeras flores…

Apagada aos olhos dos homens, mas preciosa diante de Deus

No sofrimento e apagamento, com a saúde debilitando-se cada vez mais, a pastora atingia seus vinte e dois anos.

Ora, certa manhã, provavelmente no ano 1601, o rebanho não saiu para as pastagens. O que sucedera? Entraram no estábulo e viram que a alma de Germana subira para a eternidade tão serenamente quanto vivera; apenas seu corpo permanecia deitado em meio às ovelhas.

Nenhuma palavra saída dos lábios de Germana ficou registrada, mas ela ensinou ao mundo inteiro como o verdadeiro valor, glória e sucesso são aqueles conquistados diante de Deus.

O corpo mantido intacto, os inúmeros milagres e a contínua devoção dos fiéis demonstram o empenho do Altíssimo em defender uma causa que era somente sua!

Num século assolado pelos erros de pseudorreformadores e constantes guerras contra a Santa Igreja, a existência de Germana bem pode ser considerada uma reparação ao Coração Divino.

Com o contínuo oferecimento de suas dores, Germana não só apresentava a Deus um desagravo pelas afrontas dos homens, como também atenuava os males que esses mesmos desregramentos atraíam sobre o mundo.

Começam os milagres

Após a descoberta do corpo de Germana, o Pe. Sounilhac, pároco da Igreja de Santa Maria Madalena de Pibrac, mandou que o depositassem num sarcófago simples e o deixassem na lateral do templo, pois o povo não se afastava daquela que já considerava sua Santa.

Mas logo os milagres começaram e a fama de Germana ultrapassou os limites do povoado…

Em 1680 dirigem-se até a igreja os comendadores da Ordem de Malta, sob cujos cuidados se encontrava aquele templo, desejosos de ver o prodígio. Admirados, comprovam eles que o corpo da pastorinha se encontrava “inteiro, parecendo ainda de carne, com flexibilidade em todos os seus membros, quando segurados e movidos”.

Afinal, a canonização!

Após alguns anos de espera, o prelado encarrega o Pe. Morel de iniciar o processo de canonização. Em 1700, com uma solene Missa, à qual acorre uma multidão de devotos, esse sacerdote abre novamente a urna e contempla o prodígio.

O Pe. Morel encaminha um dossiê a Roma, com os milagres operados pela intercessão de Germana, através de um padre capuchinho. Décadas se passam e não recebem resposta alguma…

O que aconteceu?

Só muito mais tarde se soube que o material se perdera e nunca chegou ao destino. Foi preciso travar ainda muitas batalhas para, no século XIX, Gregório XVI retomar o processo e Pio IX concluí-lo com a solene canonização em 1867.

Quão oportuna é, também para o nosso conturbado século XXI, a exclamação saída dos lábios do Papa Gregório XVI ao tomar contato com os documentos para a beatificação da pastorinha de Pibrac: “É a Santa que precisávamos”.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 234, junho 2021.

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