Santa Catarina de Siena: O que é o perfeito amor a Deus?
Esse assunto é tratado por Deus com Santa Catarina de Siena no livro O diálogo.
Redação (29/04/2021 11:02, Gaudium Press) Entre meus servidores de confiança, há alguns que me servem com fé e livre de temor servil. Mas este amor é imperfeito, porque procuram sua própria utilidade, sua satisfação e o contentamento que em mim encontram. Semelhantes imperfeições se acham no amor que têm ao próximo.
Sabes no que se manifesta a imperfeição de seu amor?
Em que, se alguma vez se veem privados do consolo que em Mim encontravam, este amor já não lhes basta, começa a declinar e deixa de existir. Definha e se esfria mais e mais, quando, para exercitá-los na virtude e tirá-los de suas imperfeições, privo-os de sua consolação espiritual, e lhes envio dificuldades e contrariedades.
Eu faço isto com único fim de conduzi-los à perfeição, ensinando-os a conhecer-se interiormente e lhes fazer compreender que nada são e que por si mesmos não possuem graça alguma.
Acontece muitas vezes que os imperfeitos, em lugar de tirar proveito desta prova, se relaxam e voltam atrás com uma espécie de ira espiritual, que lhes cobre o olho da santa fé.
Se esse véu se tivesse desprendido, veriam que todas as coisas procedem de Mim, e que não cai uma só folha da árvore sem uma ordem de minha Providência: que tudo o que lhes prometo e dou é só para sua própria santificação, ou seja, para que possam alcançar o bem e o fim para o qual os criei.
Quando existe apenas este amor imperfeito e mercenário de Deus e do próximo, a alma procura a si quase inconscientemente em todas as coisas. É preciso, pois, “arrancar de si a raiz do amor próprio espiritual”.
Com este amor imperfeito amava São Pedro ao doce e bom Jesus, meu único Filho, quando tão deliciosamente degustava as doçuras de sua intimidade no Tabor. Porém, chegado o tempo da tribulação, o valor o abandonou. Não só careceu de coragem de sofrer por ele, mas a primeira ameaça pôs por terra sua fidelidade e renegou jurando jamais tê-lo conhecido.
A passagem do amor mercenário ao amor filial
Pouco mais adiante, no capítulo LXIII do mesmo Diálogo, diz falando da passagem do amor mercenário ao amor filial:
Toda perfeição e toda virtude procede da caridade, e a caridade se alimenta da humildade; a humildade por sua vez procede do conhecimento e ódio santo de si mesmo […].
Pode também acontecer que, para atingir o perfeito amor a Deus, a pessoa passe por uma grande aflição sem que haja uma falta grave que reparar. Como por exemplo, por ocasião de uma injustiça que nos é feita, ou de uma calúnia, que, pela graça divina, provoca em nós, não desejos de vingança, mas fome e sede de justiça.
Em tal caso, o fato de perdoar generosamente a injúria atrai às vezes sobre a alma uma grande graça, que a faz remontar a uma região superior da vida espiritual. Acontece que a alma recebe, com essa prova, nova visão das coisas divinas e alguns voos que antes não conhecia.
Isso aconteceu com David ao perdoar a Saul que o havia ultrajado e amaldiçoado e até o havia apedrejado (II Rs, 16, 6).
Essa nova visão profunda das coisas de alma pode também sobrevir por ocasião da morte de um ser querido, de uma grande desgraça ou fracasso, ou de tantas circunstâncias a propósito para fazer-nos ver a futilidade das coisas da Terra, e, por contraste, a importância do único necessário e da união com Deus, prelúdio da vida do Céu.
Em seu Diálogo, fala com frequência Santa Catarina da necessidade de sair do estado de imperfeição no qual se serve a Deus mais por interesse, pela própria satisfação, e se tem a ilusão de poder voar até Deus Pai sem passar por Jesus Crucificado [Cf. Diálogo, c. LXXV, CXLIV, CXLIX, CLI, CLIV].
Para sair de tal estado, é preciso que a alma que ainda procura a si mesma se converta ou mude de rumo, esquecendo-se e buscando tão só a Deus pelo caminho da abnegação, que é o da paz mais profunda.
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