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Santa Catarina de Bolonha

A vida desta santa abadessa, Catarina de Bolonha – cuja memória a Igreja celebra no dia 9 de março –  nos convida a tomar uma atitude de gratidão perante o afeto divino que desce sobre nós.

Foto: Wikipedia

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Redação (09/03/2024 08:17, Gaudium Press) Nascida na própria Bolonha a 8 de setembro de 1413, Catarina era filha de João de Vigri, nobre cavaleiro da corte de Ferrara, e Benvenuta Mammolini. Inteligente e vivaz, desde cedo foi alvo da admiração dos que a cercavam em razão da generosidade e firmeza com que se afeiçoava às coisas do Céu em preferência às do mundo.

Aos nove anos de idade foi viver na corte de Ferrara, tornando-se dama de honra da Princesa Margarida d’Este. Ali pôde estudar literatura, poesia, música e pintura, revelando excelentes dotes artísticos, os quais punha em uso com singular despretensão. Esse é o motivo pelo qual se tornou padroeira dos artistas.

Contava ainda seus treze anos quando, tendo morrido o pai e sentindo-se atraída à vida religiosa, juntou-se a uma comunidade criada por um grupo de nobres mulheres da cidade. Ao cabo de cinco anos esse núcleo se desfez, mas Catarina e outras das suas companheiras formaram um novo conjunto, regido pela espiritualidade de São Francisco de Assis.

Três anos mais tarde, em 1432, o provincial dos franciscanos colocou-as sob a primeira regra de Santa Clara. Tornaram-se filhas da Dama Pobreza e, enquanto tal, caberá à jovem Catarina exercer as mais diversas funções: será mestra de noviças, mas também porteira e padeira.

Sobre o desempenho deste último ofício, Sor Illuminata Bembo, coetânea da Santa, conta um episódio pitoresco. Certo dia houve uma pregação no mosteiro da qual Catarina não queria ausentar-se. Então, pôs o pão no forno, disse “eu te confio a Cristo” e em seguida saiu para ouvir o sermão, que durou mais de quatro horas. Ao voltar para remover o alimento, enquanto muitas irmãs pensavam que já estaria completamente queimado, encontrou-o no ponto. Percebendo tratar-se de um milagre, todas queriam comer logo daquele pão!

Foto: Reprodução

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Como soldados no campo de batalha

Como mestra de noviças, Santa Catarina deixará um importante tratado de vida espiritual, que, séculos depois, continua sendo útil, não somente para as religiosas, mas para todos os que almejam trilhar as vias da perfeição.

Logo nas primeiras páginas desse livro, intitulado As sete armas espirituais, assim descreve ela a vida de um cristão: “Ao início e ao final desta batalha, deve-se passar pelo mar tempestuoso, isto é, por muitas e angustiantes tentações e acirrados combates”. E para nos ajudar a vencer nessa lide, acrescenta: “Quero apresentar-vos logo no início algumas armas que vos permitam combater eficazmente a astúcia de nossos inimigos. Mas quem quiser empreender esta batalha precisa nunca as abaixar, visto que os inimigos nunca dormem”.

Santa Catarina concebia a vida religiosa como a de um soldado em campo de batalha que luta com coragem diante do inimigo. Por isso, estimulava as religiosas de sua comunidade com palavras como estas: “Caríssimas irmãs, o dote que Cristo Jesus deseja encontrar em cada uma de vós é que sejais valorosas nas batalhas, isto é, fortes e constantes na luta”.

Contudo, não foram apenas seus dotes de piedosa escritora que puderam apreciar as noviças de Ferrara. Uma delas, que mais tarde tomaria o nome de Cecília, acometida de uma terrível tentação e fortes ataques do demônio, aproximou-se de Catarina pedindo-lhe auxílio. Ela a abençoou e, como a jovem se sentiu de imediato livre do inimigo infernal, perguntou à Santa que palavras ela havia dito. Santa Catarina deu-lhe, então, a fórmula que usara: “Jesus, Maria, Francisco, Clara. O Senhor tenha piedade de ti, te abençoe e te ilumine; volte para ti o seu rosto e te dê, ó Cecilia, sua santa paz. Assim seja!”

Um ósculo do Menino Jesus

No Natal de 1445, Santa Catarina de Bolonha pediu à superiora permissão para passar aquela noite em oração. Desejava rezar mil Ave-Marias em honra da Mãe de Deus.

À meia-noite apareceu-lhe Nossa Senhora, tendo o Menino Jesus estreitado junto ao peito. A Virgem depositou a Criancinha nos braços da Santa, de cujo coração brotaram ardentes atos de afeto e ternura. Os lábios virginais da religiosa tocaram o rosto do Menino, o Qual, em retribuição pelo amor de sua esposa, também lhe obsequiou um ósculo.

Conta a tradição que a marca branca que ficou no corpo incorrupto de Santa Catarina seria o exato local em que Jesus lhe cumulara de carinho com aquele ósculo. Em recordação deste fato, até hoje os bolonheses guardam a tradição de, nas vésperas do Natal, rezar mil Ave-Marias.

Aconteceu-lhe também, em outra ocasião, ser acometida por um profundo e persistente sono durante uma Missa. Mas enquanto lutava contra si mesma para resistir à dificuldade e suplicava o auxílio divino, o sacerdote começou a entoar o Sanctus, e então ressoaram aos seus ouvidos extraordinários cantos angélicos. Catarina temeu que sua alma deixasse o corpo naquele instante.

Serenidade e confiança a toda prova

Durante o período que esteve em Ferrara recebeu muitas graças místicas, mas inúmeras foram também as provas espirituais que ali enfrentou. Assim o deixa transparecer em uma das preces estampadas no mencionado livro: “Dulcíssimo Senhor meu, Jesus Cristo, que pela vossa infinita e indizível caridade sofrestes cruéis tormentos atado a uma coluna e suportastes os ásperos e duros golpes de vossos inimigos pela minha salvação, suplico-Vos me concedais tanta fortaleza que, com a vossa graça, possa eu vencer e suportar com paciência esta e qualquer outra batalha”.

Estando nesse período perturbada por tentações do demônio, Santa Catarina rezava dia e noite suplicando que a luz divina incidisse sobre si, até que, numa noite, apareceu-lhe São Tomás de Cantuária, vestido com roupas pontificais. O Santo permaneceu em oração por algum tempo, após o qual deitou-se e recolheu-se em profundo sono. Em seguida despertou e pôs-se a rezar novamente, para então aproximar-se da Santa e oferecer-lhe as mãos, as quais ela devotamente osculou.

A visão significava que, por maiores que fossem as provações, sua atitude deveria ser sempre a de rezar e entregar-se nas mãos de Deus com serenidade e confiança. Este conselho Catarina compreendeu e observou integralmente a partir daquele momento.

Abadessa de um novo mosteiro

540px Caterina bolognaAo ser erigido em Bolonha um novo mosteiro da ordem, Santa Catarina foi enviada a ele como abadessa. Retornará, então, à sua terra natal, onde será lembrada para sempre.

O dia 22 de julho de 1456 tornou-se um marco para aquela cidade. As autoridades eclesiásticas e civis, como também o povinho, receberam com grande deferência as fundadoras do novo convento, no qual viverá Santa Catarina durante sete anos, até o momento em que for levada desta terra. Junto com ela estará também sua mãe, a qual, sendo viúva, terciária franciscana e enferma, fora acolhida pelas irmãs como religiosa.

Nesse mesmo dia em que empreenderam viagem para Bolonha, pela manhã, a Santa havia despertado sentindo-se muito mal, a ponto de não conseguir manter-se sentada sozinha, e menos ainda caminhar. Tão grave era seu estado, que se receava pela morte da nova superiora antes de que pudesse assumir o cargo…

O percurso de Ferrara para Bolonha, naquela época, era feito por vias fluviais. Ao entrar na balsa, Catarina recobrou as forças inexplicavelmente e, chegando ao mosteiro, durante três dias seguidos atendeu inúmeras pessoas de modo tão zeloso que todos ficaram tocados, sem imaginar que há pouco estivera enferma.

Como abadessa em Bolonha, acolheu inúmeras vocações e operou muitos milagres. Um deles se deu no jardim: uma irmã, lá trabalhando, ao dar um violento golpe de enxada cortou seu próprio pé… Imediatamente, Santa Catarina foi ao encontro da desafortunada e com toda a serenidade juntou o pé ferido ao corpo, traçando sobre ele o sinal da Cruz. Instantaneamente a jardineira se viu curada, não restando nela sequelas ou marcas.

Depois, olhando compassivamente para a feliz monja, a santa abadessa disse: “Filhinha, eu te dou este pé. Cuida dele como se fosse meu e não lhe faças mais mal”.

Mais um tempo de vida obtido pelas religiosas

As penitências, trabalhos e lutas contra o demônio fizeram sua saúde definhar. Santa Catarina estava convencida de que o momento da partida deste mundo não ia demorar, mas suas filhas espirituais, embora resignadas ao desígnio divino, redobravam as orações e súplicas pedindo ao Céu que a deixasse mais algum tempo entre elas.

Havia à época no mosteiro uma menina de doze anos, chamada Rosa Madalena. Entrara em religião havia dois anos e, por sua inocência, reconhecia e admirava as virtudes da abadessa. Por isso, procurou a todo custo um meio para servir-lhe de enfermeira, o que incluía lavar-lhe os pés. Fê-lo com toda a reverência de filha, e ao terminar o serviço, segurou-os e beijou-os com profunda veneração.

Santa Catarina, em sua humildade, proibiu-a de repetir o gesto, ao que a menina, antevendo o futuro, respondeu: “Minha mãe, vós podeis proibir-me de fazê-lo enquanto viverdes nesta terra; mas não podereis mais mo impedir quando de todas as partes do mundo vierem fiéis visitar-vos e, com profunda veneração, se ajoelharem para beijar os vossos pés!”

Como a enfermidade de Santa Catarina seguia piorando, foram-lhe administrados os últimos Sacramentos. Estando em tal estado, quase em agonia, a abadessa entrou em êxtase e teve uma visão: encontrava-se num extraordinário jardim, adornado de múltiplas e belíssimas flores. Diante dela havia um trono fulgurante como o sol, no qual estava Jesus, ladeado dos diáconos São Vicente e São Lourenço, e cercado de Anjos.

À direita do trono encontrava-se um Arcanjo, provavelmente São Gabriel, que, tocando giga, cantava: “Et gloria ejus in te videbitur – e sua glória resplandecerá em ti” (Is 60, 2). Com um gesto de mão, o Redentor mandou a virgem aproximar-se e explicou-lhe o mais profundo significado dessas palavras, referentes a ela mesma. Revelou-lhe, ademais, que embora tivesse chegado o momento de sua alma subir aos Céus, as preces de suas irmãs de vocação obtiveram mais algum tempo de vida para ela.

Ao voltar do arroubamento, restabeleceu-se em Catarina a robustez. E ao narrar às religiosas o que vira, imitou tanto quanto possível o cântico do Arcanjo, deixando as ouvintes estupefatas de admiração.

Suave passamento após as últimas dores

Em fins de fevereiro de 1463, a santa abadessa reconheceu aproximar-se verdadeiramente o seu fim. Fora acometida por uma febre altíssima, dores no peito e enxaqueca, além de sofrer hemorragia.

Chegado o dia 9 de março, por volta das duas horas da tarde, pediu que viesse um sacerdote para atender-lhe em Confissão e ministrar-lhe o Viático e a Extrema-Unção. Disse, depois, suas últimas palavras às filhas espirituais e entregou-lhes o livro As sete armas espirituais, que até então não havia sido revelado. Contava quarenta e nove anos de idade, e trinta e dois de vida consagrada. Em seguida, repetindo três vezes o doce nome de Jesus, voou ao encontro do Cordeiro.

Enquanto as irmãs sepultavam o corpo no cemitério do mosteiro, um misterioso e suave perfume começou a sair do local, impregnando todos os arredores. Não havia árvores, ervas nem sequer flores ali, e milagrosamente o aroma foi se intensificando ao passar dos dias. Pessoas com doenças incuráveis começaram a recuperar inteiramente a saúde e três crianças mortas voltaram à vida.

Obediência até após a morte

À época, o costume das clarissas não permitia que as irmãs fossem enterradas num caixão. As religiosas, porém, percebendo as lamentáveis consequências que isso acarretaria para a preciosa relíquia, pediram autorização para, já no décimo oitavo dia, exumarem o corpo da abadessa a fim de depositá-lo numa urna.

E eis que o encontraram em perfeito estado. Somente a face havia se danificado com o peso da terra, mas pouco tempo depois voltou milagrosamente ao normal. Após ser examinado pelos médicos, ficou exposto para a devoção dos fiéis por seis dias, até que o depositaram em uma cripta debaixo do altar.

No ano de 1475, decidiu-se que as relíquias seriam postas numa capela lateral da igreja pertencente ao mosteiro. No entanto, um problema surgiu logo de início: o local destinado para acolhê-las era pequeno demais. A superiora da época não pensou duas vezes e mandou que Santa Catarina se sentasse, ordem que o cadáver acatou eximiamente. De tal modo viveu o que ensinara que, até com a alma separada do corpo, sabia efetuar o que se lhe impunha.

Em meados do século passado, uma urna de vidro foi construída para sua proteção. O corpo, infelizmente, ficou enegrecido com o decorrer dos anos, devido à incúria dos primeiros devotos, os quais usavam, em suas vigílias de orações, lamparinas de óleo e velas votivas muito próximas ao corpo da Santa.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 231, março 2021. Por Ir. Angelis David Ferreira, EP.

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