Sandálias velhas leiloadas por 1 milhão
Quando um católico leva no bolso ou na carteira a relíquia de um santo ou uma foto de uma pessoa que viveu de forma piedosa e honrada e morreu em estado de graça e em odor de santidade, logo é acusado de fanático.
Redação (20/11/2022 11:48, Gaudium Press) No mundo megalomaníaco da idolatria a artistas e personalidades famosas, o título deste artigo soaria como uma heresia. Como assim, sandálias velhas? São as sandálias do Steve Jobs! Podem ser do Steve Jobs ou de quem quer que fosse, isso não muda o fato de serem sandálias velhas, usadas por muito tempo, por pés humanos, que devem ter produzido suor, mau cheiro e até alguma micose. Ah, mas, é o Steve Jobs! Sim, mas ele é humano e as sandálias são velhas.
O leilão das excêntricas sandálias aconteceu no último dia 13 de novembro, em Nova York, promovido pela Juliens Auctions House, famosa por esse tipo de realização. Segundo noticiado na imprensa, o valor de US$ 218.750 (cerca de R$ 1,1 milhão!) surpreendeu até os organizadores do leilão, cuja expectativa era de alcançar algo em torno de US$ 80 mil (cerca de R$ 430 mil).
As sandálias, que aqui no Brasil chamaríamos de chinelos, foram usadas pelo famoso fundador da Apple entre as décadas de 1970 e 1980, e as informações são de que ele as usou tanto que as palmilhas trazem as marcas de seus pés.
Quem foi Steve Jobs
Jobs morreu no dia 5 de outubro de 2011, aos 56 anos de idade, devido a um câncer no pâncreas. Não há dúvidas que o inventor e magnata americano desempenhou um importante papel na área da informática e das comunicações. É provável que ele tenha sido uma das mentes mais brilhantes que passou pelo planeta, deixando uma marca que não se apagará tão facilmente. No entanto, é exatamente isso, ele passou, porque era humano e, como todos os humanos, ele era mortal.
O brilhante inventor do iphone, do ipod e do ipad ostentou também o título de um dos homens mais ricos e poderosos do mundo, porém, teve uma origem curiosa. Steve Jobs nasceu do relacionamento entre dois jovens oriundos de famílias muito ricas, mas o romance não foi aceito pelas famílias de nenhum dos dois, e o fruto da gravidez que dele resultou teve como destino a adoção. E, curiosamente, diferente do que costuma acontecer – uma criança nasce na extrema pobreza e é dada em adoção para uma família de posses –, apesar de ter cada um dos pezinhos pousado em um berço de ouro de cada lado, Jobs acabou sendo adotado por uma família pobre, um mecânico e uma dona de casa, que não haviam concluído o atual ensino médio.
Decidi partilhar esses dados com vocês não para fazer apologia a Steve Jobs, mas para situá-lo dentro do contexto; afinal trata-se de um homem admirável, que conseguiu fazer o marketing de si mesmo como poucos têm habilidade para fazê-lo.
Ele foi um gênio? Foi. Foi um modelo de superação? Foi. No entanto, não conseguiu e, certamente nem desejou, ser mais do que um ser humano bem sucedido. O problema não está nele, mas em quem promove e participa de leilões desse tipo.
Excêntricos colecionadores X católicos
As sandálias, ou chinelos velhos de Steve Jobs, não foram os únicos calçados arrematados por uma fortuna. No ano passado, um tênis da Nike usado pelo rapper norte-americano Kanye West, no Grammy de 2008, foi vendido por US$ 1,8 milhão (quase R$ 10 milhões!!!). E um par de tênis da mesma marca, usado pelo ex-jogador de basquete Michael Jordan em 1984, foi arrematado por US$ 1,47 milhão (quase R$ 8 milhões).
Mas a coisa não para por aí; os itens mais bizarros são disputados a tapas em leilões por excêntricos colecionadores, muitos deles anônimos. É o caso de um dente molar do ex-Beatle John Lennon e, mais inacreditável ainda, um lenço usado pela atriz Scarlett Johansson para assoar o nariz num programa de TV, num dia em que estava gripada. E para encerrar a lista dos absurdos, um chiclete mascado por Alex Ferguson, treinador do time inglês de futebol Manchester United, foi recolhido por um fã ao ser cuspido por Ferguson. O rapaz guardou a “raridade” numa urna de vidro e a leiloou algum tempo depois, pela modesta quantia de 500 mil euros, que correspondem a quase três milhões de reais!
Contudo, quando um católico leva no bolso ou na carteira a relíquia de um santo ou uma foto de uma pessoa que viveu de forma piedosa e honrada e morreu em estado de graça e em odor de santidade, logo é acusado de fanático. Imaginem por exemplo, se fizessem um leilão com as luvas do Pe. Pio, com o véu do hábito de Santa Teresinha de Lisieux ou com o terço usado por São João Bosco?
Mesmo que a finalidade fosse arrecadar fundos para a construção de um asilo, um hospital ou para outra causa social legítima, as críticas não tardariam: “Não pode! É fanatismo! É idolatria!”, porque a ligação com a memória de qualquer pessoa santa, que viveu retamente, rejeitando o pecado, fazendo o bem e obedecendo as leis de Deus, incomoda. É preferível que essas pessoas sejam esquecidas, e é desejável que aqueles que as admiram não tragam delas nenhum objeto, nenhuma pétala de flor recolhida de seu túmulo, nem uma foto para se inspirar nos momentos de angústia, porque o bem precisa ser sufocado neste mundo às avessas em que vivemos.
Mas as sandálias, provavelmente malcheirosas, de um gênio – que nasceu no cristianismo, mas rejeitou a própria religião, afiliando-se a seitas orientais – podem ser vendidas por um milhão. As meias purpurinadas usadas por Michel Jackson em um show estão estimadas em quatro milhões. E muitos outros objetos orbitam em torno desses valores, coisinhas fúteis, sem quê nem porquê, objetos que não acrescentarão nada a ninguém, exceto dinheiro no bolso de quem promove o leilão.
A relíquia de um santo ou de uma pessoa piedosa nos estimula, ao evocar a bondade, a piedade, a graça e a fé dela. Já os objetos usados por homens e mulheres que estiveram por algum tempo em evidência nos palcos da fama adquirem um valor desproporcional e evocam o ardente desejo, alimentado por muitos, de vencer as leis divinas e se tornarem imortais.
A relíquia nos faz vislumbrar e desejar o Céu, enquanto as sandálias velhas, as meias brilhantes, os chicletes mascados e os lenços com assoada de nariz, tentam nos fixar na Terra, de onde muitos temem sair, por não saberem ao certo aonde vão parar, embora suas consciências lhes mostrem que, ao Céu, com esse tipo de apego e tanto apreço ao pecado, será muito difícil conseguirem chegar.
Por Afonso Pessoa
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