Sagrado Coração de Jesus: manancial inesgotável de bondade
Conhecendo nossas misérias e debilidades, o Coração adorável de Jesus, humano e, ao mesmo tempo, divino, tudo tolera, compassivo, sem nunca diminuir seu amor, apesar das inúmeras ocasiões em que Lhe damos motivo para isso…
Redação (07/06/2024 09:32, Gaudium Press) De acordo com nossos critérios, a ingratidão humana em relação a Deus era suficiente para Ele proferir um “basta!” e abandonar a humanidade à própria malícia. Pelo contrário, tomado de compaixão por sua criatura, quis Deus encarnar-Se, unindo a natureza divina à humana, na Pessoa do Verbo. E ao assumir a nossa natureza com todas as suas contingências, elevou-a, diz Santo Agostinho, “para que o homem tivesse no Homem-Deus um caminho aberto para chegar ao Deus dos homens”.
É uma manifestação de amor tão incompreensível que só mesmo um Deus a poderia excogitar! Começou, então, a verdadeira História, cuja fonte está no Coração mil vezes adorável que a Santa Igreja comemora no dia de hoje.
A figura do pastor que, desdobrando-se em afeto e atenções para com suas ovelhas, reflete – embora de modo imperfeito – a bondade do Sagrado Coração de Jesus. Desde sempre, Deus teve em mente a criação das ovelhas e do pastoreio com o intuito de tornar mais acessível ao homem a compreensão de sua imensa misericórdia, elevando-lhe a alma até o Arquétipo do Pastor, o próprio Cristo. Ele veio, pois, à nossa procura, como busca o pastor a sua ovelha, e restaurou em nós tudo quanto havíamos perdido pela desobediência original.
Contudo, a imagem do pastor, por mais excelente que este seja, reproduz de maneira pálida e insuficiente a benignidade de Deus, que Se encarnou para ser nosso Bom Pastor, e cujo Coração Sagrado exulta de alegria quando uma ovelha tresmalhada volta a seu divino redil.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus deve tornar inabalável nossa confiança, a qual é a esperança fortalecida por uma firme convicção. A prática dessa virtude teologal nos dá um anseio, cheio de certeza, de que, graças à benevolência de Deus – e não por nossos merecimentos –, alcançaremos um dia a visão beatífica, valendo-nos dos recursos que Ele põe à nossa disposição.
É próprio àqueles que buscam a perfeição perceber o quanto sua natureza é insuficiente e necessitada de auxílio sobrenatural para a prática da virtude, pois já diz a Escritura que o justo peca sete vezes ao dia (cf. Pr 24, 16). Entretanto, ao nos depararmos com nossas debilidades não percamos uma fímbria sequer de confiança, certos de que, no fundo, elas proporcionam à Providência ocasião de manifestar ainda mais sua grande misericórdia. Devemos, pois, abandonar-nos sem reservas nas mãos do Divino Pastor e deixarmo-nos conduzir enquanto meros objetos de sua bondade infinita. A celebração do Divino Coração poderia ser chamada, então, de festa da confiança inabalável.
Coração de Jesus, cheio de bondade e amor
Algumas horas antes de ser traspassado o Coração de Jesus pela lança de Longinus, estando prestes a consumar-se a Paixão, dirigiu Nosso Senhor uma súplica a Deus, recolhida pelo Evangelho: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Por que quis Jesus chamá-Lo de Pai e não de Senhor? Dir-se-ia ter chegado o momento da indignação divina, à vista da rejeição de que era objeto o Cordeiro sem mancha. Nessa hora Ele lembra ao Eterno Pai sua condição de Filho, procurando, em função dela, comovê-Lo tanto quanto estava comovido seu Sagrado Coração, e deixando transparecer seu anelo de salvar até mesmo aqueles que O martirizavam.
Ora, esses algozes não tinham ideia de quem estavam crucificando e viam-se na contingência de pregar um suposto criminoso no madeiro da Cruz, em obediência a uma ordem recebida. Nós, porém, quando ofendemos gravemente a Deus não podemos afirmar que não sabemos o que fazemos, uma vez que para haver pecado mortal é preciso pleno conhecimento e deliberado consentimento do que se faz.
Pai, perdoa-lhe porque ele sabe o que faz!
Deveríamos, pois, tomar a firme resolução de voltar para Deus o nosso coração, apesar de nossas inúmeras misérias, rezando:
“Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, estando no alto da Cruz, vosso primeiro pensamento foi o de perdoar os que vos supliciavam, porque não sabiam o que faziam. E esse desejo se realizou: pelo efeito de vossa oração, no mesmo dia eles abriram os olhos para vossa divindade, como atestou o centurião romano (cf. Mt 27, 54; Mc 15, 39). Mas, Senhor, eles eram menos pecadores do que eu, porque não sabiam o que faziam, e eu bem sei o que faço e quão miserável sou. Ó Jesus, ó Sagrado Coração, quantas vezes não fui eu também vosso algoz! Quantas vezes não fui eu causa da vossa crucifixão! Por isso, na Solenidade de hoje eu vos imploro: sede Vós o meu intercessor junto ao Pai, agora que Vos encontrais sentado à sua direita! Vossa misericórdia se tornou brilhantíssima aos olhos de toda a História quando pronunciastes esta primeira palavra: ‘Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem’. Peço-Vos que a façais refulgir ainda mais, implorando: ‘Pai, perdoa-lhe, porque ele sabe o que faz!’ Ao perdoardes os que sabem o que fazem, usais de maior clemência do que quando perdoais os que não o sabem. Não é ilimitado o vosso Coração? Senhor, aqui está alguém que Vos oferece a oportunidade de mostrar, mais do que na Cruz e no Calvário, a infinita bondade depositada pela Santíssima Trindade em vosso Sagrado Coração. Tende pena de mim e implorai o perdão de todas as minhas faltas cometidas com inteira consciência”.
Esta é a grandeza da Solenidade de hoje! É a festa da misericórdia, da benevolência, do perdão! Supliquemos, por intercessão do Imaculado Coração de Maria, que Ele dilate nosso coração, aumentando-lhe a capacidade para receber a bondade incomensurável de seu Sagrado Coração, e a graça de nunca desconfiarmos de sua dadivosidade.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 210, jun. 2019.
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