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Repreensão e misericórdia: dois reflexos do amor de Deus

A correção divina é, antes de tudo, um ato de misericórdia, porque assim Deus dirige os passos de seus filhos para cruzar a porta estreita.

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Redação (24/08/2025 20:30, Gaudium Press) A ideia que paira no espírito de muitos é de que o castigo e a misericórdia são incompatíveis entre si. Entretanto, a Liturgia deste 21º Domingo do Tempo Comum marca como esses dois elementos são indispensáveis para quem se considera filho de Deus.

“Comemos e bebemos contigo…”

“Procurai entrar pela porta estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,24).

As leituras de hoje servem muito bem para elucidar uma noção errada da condição de filho de Deus, que pode se resumir nesta frase do Evangelho: “comemos e bebemos contigo e tu ensinaste em nossas praças” (Lc 13,26).

De fato, vê-se que a tendência a separar a misericórdia da justiça (representada pela correção) é um problema antigo, já alertado na Carta aos Hebreus, na qual o Apóstolo demonstra ser a repreensão, na verdade, um sinal do afeto divino, “pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho” (Pr 3,11). Deste modo, Deus nos dá a oportunidade de humilhar-nos e perceber quão elevada é a posição a que Ele nos chama, em comparação ao nosso estado decaído, devido ao pecado original. Ademais, a correção pode manifestar-se de muitas maneiras, como uma doença, ou algum fracasso inesperado, até mesmo o sermão de um sacerdote que nos incita a mudar de vida.

Assim, como rezamos no ato penitencial da Missa, precisamos reconhecer-nos necessitados da misericórdia do Pai, porque a repreensão de Deus não é um extravasamento de cólera, antes, é o anseio de limpar os defeitos de nossa alma, como Pai bondoso, desejoso de fazer-nos merecedores da herança celeste, que é a salvação eterna.

Também, através da correção, aos poucos nos tornamos como “vasos purificados” — não só por fora, mas também por dentro — para levar nossa “oferenda […] à casa do Senhor” (Is 66, 20). Ou seja, nossas orações tornam-se mais agradáveis a Deus, porque, se nenhum pai dá uma pedra ao filho que lhe pede pão, tanto mais Deus não deixará de atender um filho seu, que se apresenta, bate no peito e diz: “Pai, pequei contra o céu e contra ti” (Lc 15,21). De modo que o ser filho de Deus exige também aceitar suas correções e não só “comer e beber”, como fez o filho pródigo.

Entretanto, até mesmo quando a repreensão parece injusta, ela visa um “melhor fruto de justiça e paz” (Hb 12,11). Exemplo máximo disso foi Nosso Senhor Jesus Cristo que, embora sendo O inocente por antonomásia, recebeu o mais infame dos suplícios, como castigo por crimes que não cometeu. Com isso, o Salvador conquistou para nós o fruto de justiça e paz que se colhe da árvore da cruz no momento em que, por exemplo, se recebe a absolvição sacramental e se recobra a condição de filhos de Deus, perdida pelo pecado. Sem embargo, tão sublime filiação é abandonada por muitos, infelizmente, mais interessados em comer as bolotas dos porcos.

Podemos dizer que este é um aspecto da porta estreita pela qual os verdadeiros filhos de Deus devem passar.

Maria Santíssima, mãe de misericórdia

Mas, as considerações sobre a justiça de Deus não nos devem afligir, pois não podemos esquecer que, se não bastasse um Pai de bondade infinita, foi-nos dada também uma mãe bondosíssima: Nossa Senhora, a qual, sem dúvida, tem mais cuidado e mais preocupação com a nossa salvação do que nós mesmos.

Não é à toa que Ela é chamada “Recurso dos Aflitos”, porque a Ela podem recorrer todos que se sentem oprimidos pelo peso das próprias faltas. Por isso, não devemos ter medo se o tamanho das nossas faltas nos impede de atravessar a porta estreita, mas devemos rezar com confiança: “Salve Rainha, mãe de misericórdia…”, certos de que por mediação d’Ela, alcançaremos a salvação eterna.

Por Vinícius Mendes

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