Religiosas de Belorado: contradição entre o que professam em Cristo e o que vem do Vaticano
A Conferência Episcopal já emitiu um comunicado sobre as Clarissas que se declararam sedevacantistas na Espanha. As religiosas concederam uma entrevista à Telecinco.
Redação (17/05/2024 10:02, Gaudium Press) O caso das Clarissas de Belorado, na Espanha, rapidamente despertou o interesse do mundo, que continua ávido por conhecer todos os detalhes do drama das 16 freiras que declararam sua ruptura com o Vaticano e a Igreja Católica, referindo-se a esta última como uma “Igreja conciliar”, desconhecendo qualquer Papa depois de Pio XII e colocando-se sob a jurisdição de um “bispo” excomungado desde 2019.
Depois de ter o conhecimento de que uma das 16 freiras foi transferida para outro mosteiro da mesma congregação, expressando assim sua discordância com a ruptura, algumas fontes relataram que outra religiosa sofreu um ataque cardíaco e recebeu cuidados no Hospital San Juan de Dios, em Burgos, de acordo com a Religion Confidential.
Embora as religiosas tenham evitado se comunicar com o arcebispo de Burgos, Dom Mario Iceta, de quem dependiam, elas fizeram algumas declarações em sua conta no Instagram, como uma foto com a legenda “Te hago la luz” e um vídeo.
No vídeo, elas afirmam que “nossa realidade não é estamos sequestradas, longe de nossas famílias”. Elas expressam seu “desejo de ser fiéis à verdade de Cristo que recebemos, à fidelidade à fé, à doutrina da Igreja Católica” e anunciam que explicarão as razões de sua decisão ao longo dos próximos dias.
Entrevista na Telecinco
Na tarde do dia 15, a abadessa Isabel de la Trinidad e as outras religiosas concederam uma entrevista ao programa Tarde AR, da rede Telecinco.
Na entrevista, a jornalista pergunta se o conflito começou com a venda do mosteiro de Orduña que, segundo a abadessa, as autoridades da Igreja haviam proibido de fazê-lo, mas a irmã Isabel responde:
“Não se trata apenas de uma questão imobiliária, mas há mais de 40 anos que estou no mosteiro, e estávamos nos distanciando cada vez mais do que tínhamos professado, do que emanava do Vaticano. Começamos a obter informações de muitos lugares diferentes. Há muito tempo estamos buscando outras perspectivas sobre o que está ocorrendo, não reconhecíamos a nossa Igreja conciliar como a nossa Igreja Católica. Há quatro anos estávamos meditando sobre isso”, afirmou a abadessa.
Em seguida, uma outra religiosa, Irmã Sión, acrescenta:
“É uma questão de consciência para nós. Professamos votos solenes que afetam toda a nossa pessoa. Quando vemos que da Igreja, da autoridade, da hierarquia, o que vem é confusão, que vêm coisas com as quais não nos sentimos satisfeitos. Cria-se um dilema entre o que professamos em Cristo e o que vem do Vaticano, gerando em nós uma dúvida de consciência. Fiz votos solenes à Igreja e a Deus e tenho dificuldades com o que vem do Vaticano”.
A jornalista procura esclarecer mais o significado da resposta, e indaga se esses problemas são com o atual papa ou também ocorreriam com Ratzinger, obtendo uma resposta que não faz alusão ao papa alemão: “Do Vaticano vem uma linha diferente com a qual não podemos concordar. No nível de consciência, você não pode concordar com o que vem do Vaticano porque isso gera um problema”, frisa a irmã Zion.
Questionada se haviam se distanciado do Papa de Roma, a abadessa responde que “Sim, não acreditamos que ele seja Papa. Eles inventaram uma nova igreja depois de 40 anos para chegar onde estamos chegando.” Ele também o chama de usurpador, porque ele se autodenomina “Papa sem ser um”.
Convidado para o programa estava um jornalista, especializado em assuntos religiosos, que pergunta às religiosas quando conheceram o ‘bispo’ Pablo de Rojas, a quem reconhecem como autoridade. A resposta delas não foi direta, afirmando que encontraram nele alguém “que concorda com a fé que me ensinaram. O importante não é a data, é o ensinamento, é uma verdade que professamos. Não pertencemos à Pia União de Rojas, mas como católicas precisamos de um bispo e ele é quem escolhemos e ele nos acolheu”, explica a abadessa.
Por fim, ela dá detalhes:
“Em março de 2023, tive contato com um leigo pertencente à Pia União de Rojas, e conversei com ele durante um ano. Estabelecemos uma conexão e um entendimento, e pedi para falar com D. Rojas que prontamente deu-me respostas, algo que os bispos da Igreja conciliar não fizeram. Faço perguntas ao bispo de Vitória, mas ele não as responde. E o padre Rojas, sim, me dá respostas.”
A entrevista contou com a presença de José Ceacero, que se declara sacerdote ordenado por “Monsenhor de Rojas, meu bispo, que não é bispo da Igreja Conciliar, mas da Igreja Católica”, e que agora serve como seu capelão. Ele também é conhecido por sua carreira como bartender.
Declaração da Conferência Episcopal
Os bispos da Espanha já se manifestaram sobre o caso, por meio de um comunicado divulgado pela Comissão Episcopal para a Vida Consagrada.
Na nota, os bispos lamentam “a declaração de ruptura de comunhão com a Igreja Católica, contida na carta da abadessa do Mosteiro de Belorado, datada de 13 de maio, e no chamado ‘Manifesto Católico’, datado de 8 de maio”.
Eles rejeitam o “tom ofensivo e recriminatório do ‘manifesto’ e da ‘carta'”, cujo conteúdo “corresponde ao defendido por aqueles que negam a validade do Concílio Vaticano II e são chamados de ‘sedevacantistas'”, e ressaltam também “que os motivos de descontentamento têm soluções diferentes da resolução nela contida, e não encontramos uma relação proporcional entre as causas expostas e a conclusão alcançada”.
Na nota episcopal, solicita-se ainda que cada religiosa expresse a sua posição sobre a situação e pedem “a abertura de todas as irmãs da comunidade para um diálogo com bispos, sacerdotes, consagrados, irmãos e irmãs da Igreja Católica que, fiéis à verdade e em comunhão com o Papa Francisco, procuram o bem deste Mosteiro e de cada irmã Clarissa”.
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