Reações à libertação e exílio dos dois bispos nicaraguenses
Após a libertação e o exílio em Roma de dois bispos nicaraguenses e vários clérigos, poucos detalhes são conhecidos sobre esse episódio.
Redação (16/01/2024 10:15, Gaudium Press) Após a libertação e exílio em Roma de dois bispos nicaraguenses e mais de uma dúzia de clérigos, não se conhecem muitos detalhes sobre como tudo aconteceu.
O regime de Ortega emitiu um comunicado ambíguo, que ao ser lido, aparenta ter sido redigido por um governo que mantém laços estreitos com a Igreja e de nunca ter expulsado um núncio, dezenas de sacerdotes, diversas comunidades religiosas, ou de ter expropriado bens eclesiásticos, entre outros atos humilhantes.
“A Presidência da República, o Governo de Reconciliação e Unidade Nacional e o Povo da Nicarágua estão profundamente agradecidos ao Santo Padre, o Papa Francisco; à Secretaria de Estado da Santa Sé; a Sua Eminência o Cardeal Pietro Parolin, e a sua Equipe de Trabalho, pela coordenação muito respeitosa e discreta que tornou possível a viagem (sic) ao Vaticano de dois Bispos, quinze Sacerdotes e dois Seminaristas”. O comunicado afirma também que os acordos para a libertação dos clérigos foram “de boa fé e vontade, que buscam promover a compreensão e melhorar a comunicação entre a Santa Sé e a Nicarágua”.
Sabe-se que os libertados deixaram a Nicarágua na noite de sábado, rumo a Roma com escala em Caracas.
Em um informe aos sacerdotes de sua diocese, o cardeal arcebispo de Manágua, Dom Leopoldo Brenes, declarou que “após um diálogo entre o governo da Nicarágua e a Santa Sé, foi acordada a transferência para Roma de Dom Rolando, Dom Isidoro, sacerdotes e dois seminaristas “.
Em nenhum momento, foi informado se essa transferência teve o consentimento de Dom Rolando Álvarez, uma vez que, em fevereiro passado, já havia se recusado a embarcar em um avião que o levaria para os Estados Unidos. As declarações sugerem que tudo foi decidido pela Secretaria de Estado do Vaticano.
A expressão “transferência” usada pelo Cardeal Brenes para descrever o banimento de clérigos é um sinal da pressão que a Igreja sente do regime nicaraguense.
Reações
As reações internacionais revelam um misto de alívio e apreensão.
Brian Nichols, subsecretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, escreveu em sua conta no Twitter: “Ortega-Murillo expulsou hoje 19 clérigos católicos detidos injustamente, incluindo o bispo Alvarez. Ficamos mais tranquilos ao ver a libertação desses líderes religiosos. Todas as pessoas têm o direito ao culto em casa e no exterior. Continuamos a pedir a libertação de todos os que foram detidos injustamente e a restauração das liberdades fundamentais do povo nicaraguense”.
Por sua vez, o congressista norte-americano Christopher Smith, presidente do Subcomitê de Direitos Humanos Globais da Câmara dos Representantes e um dos políticos mais engajados na luta pela libertação de Dom Álvarez, ressaltou que ainda existem desafios a serem superados.
“As vidas desses corajosos líderes da igreja na Nicarágua não estão mais em perigo imediato, mas eles continuam a almejar proteção e respeito pelos direitos fundamentais daqueles que ainda sofrem abuso de seus direitos humanos e punição por praticarem sua fé”, frisou ele em uma declaração enviada à Aciprensa.
“Não nos esqueceremos das outras vítimas do regime de Ortega-Murillo”, disse o parlamentar. “Ainda temos mais trabalho a fazer para garantir a libertação dos prisioneiros de consciência que ainda podem ajudar o povo da Nicarágua a garantir seu direito básico de viver como um povo livre em seu próprio país”, concluiu Smith.
Arturo McFields, ex-embaixador da Nicarágua na OEA, disse que “a ditadura sabe que a estatura moral de Dom Rolando Alvarez era grande demais para que mantê-lo preso. Hoje é um dia de grande derrota para a ditadura nicaraguense. A libertação de Dom Alvarez é um golpe na ditadura covarde que persegue a igreja… é um dia de derrota para os tiranos”.
McFields assegura que a libertação dos religiosos demonstra a fraqueza da ditadura: “Eles estão ficando cada vez encolhidos, é uma ditadura fraca, desgastada, mas perigosa e maligna que atacou seus próprios seguidores. Eles não têm mais apoio nem mesmo entre suas próprias fileiras, que são ameaçados de morte ou de prisão, e os próprios policiais não podem se demitir porque há uma lei que determina que, se eles se demitirem, vão para a prisão ou são classificados como desertores”.
Deixe seu comentário