Quem tem a última palavra?
Enquanto houver neste vale de lágrimas um sacerdote que consagre o pão e o vinho, e fiéis que adorem a Jesus na Hóstia Santa, tudo podemos esperar!
Redação (23/04/2024 16:22, Gaudium Press) Em nossos dias, os mais diversos e graves acontecimentos se sucedem de forma contundente, sem que as pessoas tenham tempo de digeri-los. Alguns são inesperados, outros tragicamente previsíveis. O desânimo, o desencanto, quando não, o desinteresse, costuma ser a resposta que os homens geralmente dão a esses eventos.
Outrora, a tradição era valorizada porque servia de guia para abrir caminhos para o futuro. No alvorecer do século XX, se apostou com frenesi na engenhosidade humana e nos progressos da técnica; acreditava-se que eles trariam a solução dos problemas. Mas descobriu-se que o remédio tão esperado não só não curou os males, mas, em grande medida, os multiplicou. Sobre isto, Bento XVI sabiamente escreveu: “A ambiguidade do progresso se faz evidente. Sem dúvida oferece novas possibilidades para o bem, mas também abre possibilidades malignas esmagadoras que não existiam antes. Todos nós testemunhamos como o progresso, em mãos equivocadas, pode chegar a ser e se converter em um aterrador progresso no mal. Se o progresso técnico não corresponde ao progresso correspondente na formação ética do homem, no crescimento interno do homem, então não é um progresso, mas uma ameaça ao homem e ao mundo.” (Encíclica Spe salvi, n. 22).
Hoje, para muitos, vale apenas o presente como ele é, de forma crua, sem esperança de mudança. Trata-se de “sobreviver”, sem um pensamento coerente, no marco de uma “religião light” que não comporte grandes compromissos. Se diria que chegou a hora de renunciar às ideias, à moral, às cerimônias, para dar lugar ao relativismo e à espontaneidade.
Este diagnóstico pode parecer demasiado pessimista, e a verdade é que há algo disso. Para que a análise crítica possa ser criteriosa, seria necessário considerar outro fato muito importante da situação: a resposta de Deus. Uma vez que o Criador existe – e quanto concordamos com isso – como podemos não contar com Ele?
O Santíssimo, Rocha Segura
Agora, numa sociedade tão arbitrária e mutável como a nossa, há algo seguro que permanece: o Santíssimo Sacramento. Tem sido assim desde os tempos apostólicos, assim será até o fim do mundo. A Igreja imortal, sobre a qual não prevalecem as portas do Inferno, vive da Eucaristia, esse alimento substancial que dá vida divina e é fonte constante de graças.
Assim, enquanto houver neste vale de lágrimas um sacerdote que consagre o pão e o vinho, e fiéis que adorem a Jesus na Hóstia Santa, tudo pode ser esperado. Sim, tudo: as regenerações mais extraordinárias e os benefícios menos imagináveis pelos cálculos humanos.
Ao considerar a realidade contemporânea em profundidade, esta deve ser vista como uma moeda de duas faces. Um lado é essa crise patente e abrangente que apontamos. O outro é aquele que se esconde nos sacrários, nas almas eucarísticas, nos “tempos” providenciais de Deus que costumam demorar, mas acabam chegando (Deus está fora do tempo, daí as aspas).
Duas pequenas notícias recentes falam-nos dessa “realidade oculta”, digamos assim; foram publicadas no número 266 da revista Arautos do Evangelho de fevereiro passado.
Uma juventude especial
“Apesar da forte secularização, o número de devotos da Adoração Noturna na cidade de Barcelona não para de crescer. Em 2023, foram admitidos setenta novos membros, muitos deles jovens, durante a cerimônia anual realizada na Paróquia Santa Teresinha. Atualmente são mais de 350 fiéis inscritos para adorar o Santíssimo Sacramento na cidade, abrindo mão de algumas horas de sono para cobrir os horários da vigília que se prolonga das 22h às 6h, todas as noites do ano. Soma-se ao aumento de adoradores o aumento de capelas de Adoração Perpétua na região, que nos últimos anos passou de uma para dez”.
E agora, a outra notícia: “Uma pesquisa realizada pelo jornal católico ‘La Croix’ entre seminaristas franceses revelou que a concepção do ministério sacerdotal destes futuros clérigos difere muito dos padrões comumente aplicados à juventude contemporânea. Dos 434 seminaristas que participaram na pesquisa, 72% provêm de famílias que frequentam a missa dominical e 61% consideram que a família é o principal núcleo para a transmissão da Fé. Na verdade, para 36% deles a vocação foi delineada antes dos dez anos, e a figura dos pais foi importante na aceitação do chamado divino em 62% dos casos (…)”. Quanto ao futuro sacerdócio, 73% dos seminaristas pretendem usar batina regularmente, 48% pretendem vesti-la de forma habitual e 70% querem fazer da celebração dos Sagrados Mistérios e Sacramentos o centro de sua vida pastoral (…)”.
Estas informações não são desprovidas de interesse nem se tratam de casos isolados, são fatos sintomáticos. O mal é dinâmico e astuto, mas não tem a última palavra. O bem, por outro lado, é difuso e conta com a ajuda da onipotente graça divina. Quem está em vantagem? É enorme a fecundidade de benefícios que residem, por exemplo, nos seminaristas franceses ou nos adoradores catalães que perseveram em seus compromissos com o Senhor; são faíscas que podem desencadear um incêndio. Mas isso é dizer pouco.
Porque, em última análise, não será apenas pelo mérito de alguns clérigos ou leigos deste ou daquele país que a salvação chegará até nós… embora Deus utilize as causas segundas como instrumentos providenciais; haverá instrumentos, mas a salvação nos chegará de uma fonte sobrenatural: os Corações de Jesus e de Maria que pulsam em uníssono. “Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará”, disse Nossa Senhora em Fátima.
Deste triunfo vindouro são precursores os apóstolos eucarísticos que testemunham a sua Fé sem respeito humano, orando e trabalhando para alterar o curso da história, convencidos do ensinamento de São Paulo: “Tudo posso naquele que me conforta” ( Fl 4, 13). Sim, tudo.
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
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