Quem não estiver bem ancorado, afundará…
Diante do mar encapelado que abala a barca de Pedro, onde ancorar nossas esperanças? A autêntica devoção à Eucaristia e a Maria Santíssima são o único meio eficaz de atravessar as crises e o naufrágio.
Redação (11/09/2020 11:48, Gaudium Press) A Igreja parece estar paralisada.
Valendo-se de uma metáfora, a Igreja está em uma situação semelhante a de um homem que, em certo momento, vê-se privado de todos os seus sentidos externos: aos poucos deixou de ouvir; ficou destituído de qualquer olfato; nem mesmo tocar se lhe é permitido; ver? Antes de ter sido vendado, tudo era tão turvo quanto confuso, e, agora, sente-se cego. Ademais, encontra-se mudo.
Ou seja, os meios pelos quais a Igreja vivifica e santifica os batizados parecem inexistentes: os sacramentos ficaram relegados ao segundo plano.
A conjuntura mundial sugere, inevitavelmente, insegurança, medo e indecisão. Que rumos tomará a Igreja? As consequências do afastamento progressivo dos fieis face à liturgia, provocará sequelas dificilmente mensuráveis, pois sendo muito profundas e interiores, são atinentes à alma.
A Igreja acha-se em um mar encapelado. Todavia, haverá algum “cabo das tormentas” que possa vir a se chamar “boa esperança?” Os Lusíadas da Igreja, que cantarão? Os versos ainda estão sendo escritos…
Fato é que muitos fieis, genuflexos, rogam a Deus uma intervenção, posto que a situação aparenta ser sem saída, cujo desfecho provável é um naufrágio universal.
Neste sentido, salta aos olhos a narração – diríamos, de nossos dias — de um sonho contado por São João Bosco, num daqueles “Boa noite”, aos seus jovens do oratório.
O sonho de Dom Bosco
São João Bosco via um mar revolto no qual se travaria uma batalha encarniçada entre duas frotas; uma comandada pelo Papa e a outra, por infiéis.
Ambas as frotas estavam fortemente armadas, munidas de toda a espécie de petrechos e materiais mortíferos, tais como canhões, fuzis, peças variadas de artilharia, entre outros. Entre esses materiais, São João Bosco via também livros, jornais e revistas, pois dizia ele que também são armas mortíferas…
Porém, a frota do Papa constava de apenas quatro naus: a capitânia, comandada por ele próprio, e mais três outras que lhe faziam escolta e a protegiam contra as investidas do inimigo. A frota inimiga, entretanto, era gigantesca a ponto de se tornar incontável o seu número.
“As duas colunas”
Em determinado momento, surgem do mar duas fortes colunas. A primeira era coroada por uma imagem da Santíssima Virgem, com a inscrição: Auxilium Christianorum. A outra, visivelmente mais robusta, estava encimada por uma Hóstia e com a inscrição: Salus credentium.
O conselho de guerra
Vendo o Papa a grande desproporção que havia entre os seus fieis e os inimigos, convocou um conselho de guerra entre os seus capitães com o intuito de ver as possibilidades de investida. Porém, os ventos eram tão fortes que cada um decidiu voltar para a sua própria nau a fim de resguardá-la do perigo.
Acalmada a tempestade, o Papa voltou a chamar os seus capitães ao conselho, ao que, de imediato, a tempestade voltou com mais violência do que antes. O Sumo Pontífice, então, governou ele próprio o timão da nau em que estava, conduzindo-a às duas colunas com a intenção de lá ancorá-la, e, assim, afastar para longe o perigo.
Ao ataque!
Vendo que o Papa se dirigira para as duas colunas, todos os inimigos se lançaram enfurecidos ao seu encalço com a intenção de matá-lo. Uns lançavam jornais incendiários, livros e revistas, e outros a danificavam com canhões e fuzis, abrindo uma brecha no seu casco.
Entretanto, por um misterioso vento que partia das colunas, a brecha foi fechada.
Sob novo ataque, porém, a brecha logo voltou a abrir-se e a embarcação ficou vulnerável a uma violenta abordagem feita pelos inimigos que, dizendo blasfêmias e maldições ao Pontífice, conseguiram feri-lo de morte e por fim o mataram.
A eleição do próximo Papa
Ufanos e com gritos de vitória, os maus festejavam a sua morte, porém por pouco tempo, pois, junto com a notícia da sua morte, chegou também a notícia da eleição do Novo Papa, feita pelos capitães em uma reunião.
O Papa, então, conduziu a embarcação às duas colunas e, finalmente, lá a ancorou com duas correntes, uma amarrada à coluna da Eucaristia e, outra, à da Santíssima Virgem, Auxílio dos Cristãos.
Durante a batalha, duas posições; na vitória, uma única…
Os inimigos entraram em colapso ante a ancoragem da capitânia e saíram espavoridos para longe da batalha.
Surgiram, então, entre os presentes, duas posições: A primeira foi a dos que combateram ao lado do Pontífice e que lhe deram proteção. Esses, logo que viram ancorada nas colunas a embarcação, apressaram-se em ancorarem-se também a elas.
Outros foram os que, pelo encarniçado da luta, se afastaram do combate para ver o que sucederia. Esses, assim que os inimigos se perderam de vista, correram em disparada para se unirem ao Papa e seus fiéis.
Após tudo isso, o mar se acalmou e São João Bosco acordou de seu sonho.
Não serão os dias de hoje?
Se o Santo Salesiano precisou dormir e sonhar para achar-se na grave situação descrita, a atualidade reclama que simplesmente cabe não sonhar e estar bem acordado para dar-se conta que ela retrata dias tempestuosos e agitados.
A brecha que tenta fazer sucumbir a nau de Pedro não é pequena: os incêndios de igrejas e catedrais passam a ser quase diários; profanação de lugares santos, imagens e altares é moeda comum e notícia frequente. No tocante ao culto litúrgico, as esperanças de significativas e piedosas reformas, distante.
Haverá almas que se cruzem para socorrer a nau de Pedro? Quem a poderá sustentar? Seu peso é enorme; e, infelizmente, os Domingos de Gusmão e os Franciscos de Assis nem sempre são apercebidos por todos. De fato, poucos são os que têm a fortuna e ventura da virtuosa personalidade de um Inocêncio III, capaz de auferir de um sonho o destino de sua época.
Fato é que, embora muitas vezes, em outras circunstâncias históricas, a Igreja passou por momentos turbulentos e, à primeira vista, sem saída, em todos eles, um único fator conquistou-lhe a vitória: estar unida às duas colunas que tudo sustentam, a Eucaristia e Maria Santíssima.
Somente unidos, fixados e presos pela âncora de tais devoções, os homens terão como discernir quem sopra, como sopra e para onde sopra o Espírito Santo, o qual é quem vivifica a Igreja.
Até lá, a nau continuará afundando, embora se deseje muitas vezes pintar seu casco, envernizar seu mastro ou cerzir sua vela. Nada adianta, enquanto não se repara a quilha e se “fecha a brecha”.
Ora, isso não é papel só do Espírito vivificante, mas também dos homens que devem alicerçar sua fé nas verdadeiras colunas capazes de amparar e suportar as tempestades. Tudo que não seja isso é passageiro, escolhos que por instantes sustentam, mas que ao cabo de mais tempo, também afundam.
Com efeito, ao término da “Boa Noite”, indagou aos seus jovens o santo Salesiano: “O que significa tudo isso?”
E um dos jovens respondeu: “O triunfo da Igreja por meio da Sagrada Eucaristia e da devoção à Santíssima Virgem.”
Ele disse: “Exato! o mesmo creio eu.”
E depois disso acrescentou São Miguel Rua: “As lutas da Igreja, tão combatida hoje, e seu triunfo por Cristo e Maria!”
Rezemos, portanto, para que mais uma vez as predições de São João Bosco se cumpram, e as colunas da Fé Católica não venham a ser carcomidas pelas mossas da incredulidade galopante que tanto a debilitam.
A estas alturas, duvidar que estamos vivendo momentos decisivos – num curto período de tempo – seria como assistir a um naufrágio de braços cruzados…
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