Gaudium news > Quem foi a vidente de Lourdes?

Quem foi a vidente de Lourdes?

“Deus exaltou os humildes” (Cf. Lc 1,52). Assim poderíamos resumir a vida de Santa Bernadette Soubirous, que soube corresponder ao anúncio de Maria, conquistando as graças e milagres que até hoje contemplamos em Lourdes.

Nossa Senhora de Lourdes SantaBernadete

Redação (11/02/2023 09:31, Gaudium Press) Na solenidade da Epifania do Senhor do ano de 1844, nascia a filha primogênita de Francisco Soubirous e Luisa Castérot: Bernarda Maria, também conhecida como Bernadette.[1] Pertencente a uma família humilde que sofria imensas privações materiais, a jovem Soubirous já estava sendo preparada pela Santíssima Virgem para uma missão ímpar que repercutiria até nossos dias.

No ano de 1858, numa fria manhã de inverno, a Divina Providência resolveu levantar alguns véus que separam este mundo material do outro, sobrenatural.

As aparições e a mensagem da Imaculada

Bernadette, ao sair com sua irmã e sua prima para apanhar lenha, chegou a uma região chamada Massabielle, em Lourdes, onde há uma gruta. Não podendo atravessar um canal, devido ao cuidado com sua saúde, a jovem resolveu sentar-se e descansar um pouco, enquanto suas companheiras continuavam suas diligências.

Foi então que ouviu o misterioso rumor de uma brisa que parecia anunciar uma tempestade. Entretanto, enquanto procurava nuvens carregadas no horizonte, seus olhos pousaram sobre as ramagens da cavidade da gruta, onde se encontrava uma Dama de inenarrável beleza.[2] Começaram, então, os anúncios celestes.

A “jovem toda de branco”, assim chamada por Bernadette,[3] era encantadora. Portava um Rosário em suas mãos, uma faixa azul na cintura e, sobre os pés, duas rosas de ouro. Todavia, a vidente não sabia que aquela era Nossa Senhora, e permanecia extática contemplando a maravilhosa visão.

Nas duas primeiras aparições, a Dama não disse nada, apenas sorria e fazia gestos à sua eleita. Porém, na terceira visão, a Senhora pediu a Bernadette que retornasse à gruta durante quinze dias. E assim se deu, não sem muitas dificuldades e obstáculos da parte da família e dos conhecidos, bem como do poder civil e eclesiástico.

A Virgem Santíssima ao longo de suas dezoito aparições manifestou seus desejos: oração e penitência pelos pecadores, a construção de uma capela em sua honra, uma procissão de velas e círios. Também pediu para que Bernadette cavasse uma fonte, tomasse da água e com ela se lavasse.

Após longo período de lutas, perseguições e oposição da parte do clero, inclusive sendo levada diante de um comissário da polícia, tida como louca, enfim, sabotada de todas as formas pelo poder das trevas, a donzela de Lourdes, com sua heroica fidelidade, concorreu para que graças especialíssimas começassem a baixar dos Céus em profusão: os milagres começam a abundar, a fonte milagrosa passou a curar corpos e almas.

Em determinado momento, a veracidade das aparições pôde ser seguramente comprovada: o clero pedia um sinal de confirmação às visões. Após certa insistência da vidente junto a Maria Santíssima, Ela revelou: “Sou a Imaculada Conceição”.[4] Bernadette, que mal conhecia o significado desta expressão, a repetiu junto aos clérigos, os quais viram, na alusão ao dogma recém-proclamado por Pio IX e no patente desconhecimento deste fato por parte da vidente, um claro sinal. Depois dessa ocasião, a Virgem nunca mais apareceu.

Bernadette, religiosa

Alguns anos depois das aparições, Bernadette ingressou na ordem religiosa das Filhas da Caridade e da Instrução Cristã de Nevers. Maria Santíssima desejava de sua escolhida uma plena configuração com tudo aquilo que ela lhe havia revelado.

Em Nevers, muito sofreu a vidente de Lourdes, pois, além de ser tratada com desmedida severidade por sua mestra, também padecia de asma. Isso sem mencionar as duríssimas provas interiores que Deus, como a todos os seus escolhidos, lhe enviava continuamente.

Bernadette Soubirous, sob certo prisma, foi uma autêntica vítima expiatória. Sua vida no convento foi marcada pela oração, pelo sacrifício constante de sua própria pessoa, pela caridade levada até os extremos do esquecimento de si mesma. Praticou as virtudes com verdadeira radicalidade[5] e manifestou também carismas extraordinários que Deus lhe havia concedido: curas, além de intuições proféticas sobre mortes, vocações e conversões.[6]

Deus exalta somente os humildes

Bernadette encerrou seus dias inteiramente configurada com Cristo crucificado, numa quarta-feira de páscoa. Todos correram para contemplar o corpo da Santa, que até hoje permanece admiravelmente incorrupto.

Logo, começaram as peregrinações e a preparação da causa para beatificação. Tendo sido comprovados dois milagres, no dia quatorze de junho de 1925, Bernadette foi beatificada em Roma. Oito anos mais tarde, outros dois milagres foram verificados e, no dia oito de dezembro de 1933, festa da Imaculada Conceição, Bernadette foi declarada santa.

* * *

O Criador convida a cada uma de suas criaturas a serem instrumentos seus para o cumprimento de seus desígnios. Isso se deu com Santa Bernadette: aos olhos do mundo, era uma humilde pastora, filha de donos de moinhos, de condição simples. Mas, para Deus, o que realmente importa é a fidelidade à sua vontade. E essa humilde jovem, sendo fiel à sua vocação, levou a mensagem da Virgem Santíssima ao mundo e à Igreja; de seu sacrifício unido aos desígnios de Maria, brotaram todas as maravilhas que, até nossos dias, se verificam em Lourdes.

No dia de sua canonização, o Papa Pio XI pronunciou, em sua homilia, as seguintes palavras: “santa autêntica, cuja mensagem proporcionou ao mundo, graças às revelações da Rainha dos Céus e suas exortações à penitência, o maravilhoso espetáculo de Lourdes, seus três santuários, suas peregrinações, suas graças de conversões, convites à perfeição, curas milagrosas… Neste dia de máximos louvores, Deus exaltou a sua insignificante serva. Em realidade, a grande lição da vida de Bernadette é que Deus exalta somente aos humildes”.[7]

Por Matheus Gavioli


[1] Cf. TROCHU, Francis. Bernadeta Soubirous: La vidente de Lourdes. Barcelona: Herder, 1957, p. 37-38. (Tradução pessoal) Na ata de seu batismo, por um erro providencial do pároco, seu nome consta como Maria Bernarda.

[2] Ibid., p. 85.

[3] Ibid.

[4] Ibid., p. 222.

[5] Ibid., p. 413-477.

[6] Ibid., p. 477-485.

[7] PIO XI, apud TROCHU. Ibid., p. 529.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas