Quem acredita que o demônio não existe já pertence a ele
Estamos diante de outra guerra, muito mais terrível do que a guerra da Ucrânia, e de um potencial destruidor muito maior do que uma Terceira Guerra Mundial.
Redação (14/03/2022 10:27, Gaudium Press) Vivemos dias tristes. Dois países estão em guerra, e o mundo todo está envolvido neste conflito, que pode ser visto sob muitos ângulos.
Os estrategistas focam a sua atenção nos movimentos dos dois exércitos, na ação dos aliados de um e de outro e na atuação dos mediadores.
Os belicosos olham os aspectos estruturais dos armamentos, as novidades tecnológicas dos mísseis e drones que têm sido utilizados e medem a força dos oponentes pelo número de alvos atingidos, caças abatidos, soldados mortos e áreas destruídas.
Os pacificadores centram sua percepção no campo diplomático, naqueles que detêm o poder de fazer a guerra ou de fazer cessar a guerra. Atentam, sobretudo, à guerra de narrativas, para eles, mais importante do que aquela travada nas áreas de combate, avaliando que o sucesso ou o fracasso das batalhas não está nos soldados nem nos armamentos, mas sim nos gabinetes políticos.
Para os adeptos das escolas escatológicas, esta guerra é mais um conflito para ser analisado à luz do Apocalipse e visto como sinal do cumprimento das profecias sobre o fim do mundo, embora a complexidade deste livro possa lançar mais sombra do que luz sobre as frágeis certezas humanas.
Os economistas se debruçam sobre os números – e até os que não entendem dessa área se surpreendem com a expressividade das cifras e de onde têm saído tamanhas somas de dinheiro para alimentar a guerra, quantias suficientes para resolver os problemas mais emergentes do planeta…
Os especialistas da área financeira, embora se comovam com as mortes e a destruição provocada no local da guerra, têm um olhar abrangente, que atinge todo o conjunto das nações, e sabem que nenhuma delas sairá ilesa deste conflito, pois independentemente de qual seja o seu desfecho, o mundo já foi abalado por ele.
Os humanitários talvez sejam os que estejam sofrendo mais diante dos horrores e das tragédias que se desenrolam aos nossos olhos. Em qualquer guerra, desde os primórdios da civilização, povos são dizimados, pessoas sofrem, padecem fome, ficam desabrigadas, são feridas, adoecem e morrem. A diferença da guerra atual e de outra, que tenha ocorrido há milhares de anos, é que, com os avanços tecnológicos, podemos acompanhar os combates ao vivo, tomando nosso café da manhã ou sentados à mesa, com a família, na hora do jantar. E é doloroso ver o que vemos.
Os defensores da causa animal têm se desesperado com o abandono de animais de estimação. Considerando o quanto nossos bichos sofrem com o barulho dos fogos de artifício, nas festas de fim de ano e nos dias das grandes partidas de futebol, é duro imaginar o que esteja sendo a vida dos animais domésticos da Ucrânia, perdidos em meio a constantes bombardeios, sem água, sem comida e sem os seus donos para acalmá-los até o barulho passar.
E podemos pensar em como a guerra é vista pela ótica das mães que têm filhos em idade de servir o exército; pela ótica dos jovens que, no caso da expansão do conflito, podem ser convocados, na condição de reservistas. Ou pela ótica das crianças, dos refugiados, dos fabricantes de armas, dos médicos, dos psicólogos, dos religiosos, dos mercenários, dos oportunistas. Cada classe de pessoas, se assim podemos dividir a grande família humana, verá a guerra sob uma determinada ótica ou, sendo mais generalista, cada um de nós, em diferentes momentos e contextos, poderá ver a guerra por variados prismas.
Guerra entre o bem e o mal
O grande perigo, o ponto onde desejo chegar, é que acontecimentos como os que estamos vivenciando ensejam o aparecimento de grandes “especialistas”, cada qual vendendo o seu peixe e tentando angariar mais adeptos, ou mais “seguidores”, para usar o internetês nosso de cada dia. Assim, de um momento para outro, surgem experts em guerra e em seus principais desdobramentos e, cada um deles, oferece uma solução para você.
E isso acontece porque as pessoas ficam vulneráveis e amedrontadas diante de um conflito difícil e principalmente diante do que este conflito pode se tornar ainda, pois não estamos falando de dois pequenos países em guerra nos confins da África ou nas conhecidas guerras domésticas do Oriente Médio. Estamos falando das maiores potências bélicas do planeta. Uma, já no campo de batalha ofensivo, e as demais, orbitando ao redor e dando as cartas que determinam o andamento do conflito. Estamos falando da Rússia e dos Estados Unidos. Estamos falando da OTAN, de países altamente militarizados e em armas nucleares.
Mas, esses fornecedores de soluções e de caminhos para as nossas vidas surgem também principalmente porque estamos diante de outra guerra, muito mais terrível do que a guerra da Ucrânia, e de um potencial destruidor muito maior do que uma Terceira Guerra Mundial.
Estamos falando da guerra entre o bem e o mal, entre anjos e demônios, uma guerra travada entre as potestades do ar, num mundo que nos rege, mas o qual não vemos. E o palco desta guerra não é o território da Ucrânia, os países da Europa, a América do Norte, a Ásia ou o Oriente Médio. O palco dessa guerra é a nossa sala de estar, o nosso travesseiro, a nossa família, o nosso posto de trabalho. O alvo dessa guerra são os nossos olhos, os nossos ouvidos, a nossa língua, os nossos sentidos, a nossa mente e, sobretudo, a nossa alma.
O nosso oponente se chama Lúcifer, mas também atende por uma infinidade de nomes. E, assim como Putin mentiu ao dizer ao mundo, às vésperas da invasão, que não invadiria a Ucrânia – e continua fazendo um esforço hercúleo para convencer os cidadãos russos (e alguns de outras partes do mundo) de que não existe uma guerra em curso, mas apenas uma operação militar especial – esse grande oponente tenta nos convencer de que essa outra guerra também não existe, que ela é invenção de pessoas ignorantes e fanáticos religiosos – principal motivo pelo qual ele tem tentado e obtido um considerável sucesso em acabar com a Religião em todos os lugares.
O dêmonio não existe?
Existe no momento, com a facilitação da circulação de conteúdos virtuais, uma infinidade de seitas e filosofias que trazem uma gama de ensinamentos, orientações e conselhos, alguns até muito interessantes e aparentemente sábios. Para quem é curioso e se interessa em conhecer coisas novas ou mesmo mergulhar em conhecimentos ocultos, muitos dos quais se alega estarem ancorados nas próprias Sagradas Escrituras, cuidado! Esteja muito atento, mas muito atento mesmo. Há muita gente tentando transformar o esotérico (fechado, oculto) em exotérico (aberto, acessível) para atrair adeptos, fingindo simplificar o complexo e trazer à luz as práticas ocultistas.
Não importa a beleza, a roupagem ou as revelações que esses movimentos ofereçam, a única coisa que precisa ser avaliada é: eles dizem que o demônio não existe? Se dizem, fuja! Delete. Apague. Bloqueie. Prefira o simples. Dobre os seus joelhos e reze uma Ave Maria. Em muitos momentos, essa ação tão simples é suficiente para nos livrar do mal. Fuja de tudo o que lhe oferece grandes ensinamentos e se ancora na afirmação de que o demônio não existe, porque quem acredita que o demônio não existe já é dele, já sucumbiu, já foi rendido.
Não importa que doutrina você segue ou em que filosofia você acredita, se ela lhe ensina que o demônio não existe, ela é demoníaca, porque essa é a mais estupenda estratégia de guerra de que já se teve notícia. Ninguém foge do que não teme e ninguém teme algo que não existe, portanto, a principal arma que o inimigo de Deus se utiliza para dominar você é a artimanha de negar a si mesmo. É assim que ele fisga os distraídos e, principalmente, os soberbos, aqueles que apreciam parecer inteligentes, saber muito e conhecer tudo, sentindo-se superiores aos tolos e ignorantes.
Seja tolo e seja ignorante, mas não abandone a sua fé e não duvide do que ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu na cruz para abrir os seus olhos: o demônio existe, ele é seu inimigo e fará tudo para enredá-lo num confronto muito pior do que este que, diariamente, você tem acompanhado pela inseparável telinha do seu celular.
Por Afonso Pessoa
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