Quatro exércitos de Cruzados
No século XI, os turcos provindos da Tartária dominaram diversas regiões do Oriente e se tornaram maometanos. Conquistaram Jerusalém, mataram milhares de católicos, destruíram igrejas e outros locais sagrados.
Redação (05/02/2023 18:24, Gaudium Press) O novo império turco estabeleceu sua capital em Nicéia, onde massacraram os fiéis a Cristo, impuseram às virgens um suplício muito pior de que a morte, circuncidaram os meninos.
A fim de libertar Jerusalém, dominada pelos turcos em 1073, quatro grandes exércitos partiram de diversas regiões da Europa, planejando encontrarem-se em Constantinopla.
Godofredo de Bouillon: protótipo do autêntico Cruzado
O exército comandado por Godofredo de Bouillon era composto de 90.000 guerreiros – dos quais 10.000 cavaleiros – franceses do Norte e Leste, belgas e alemães. Dele também participavam seus irmãos: Balduíno e Eustáquio. Após a conquista de Jerusalém, em 1099, Balduíno foi seu Rei e Eustáquio retornou à França onde, tendo enviuvado, se tornou monge.
Santa Ida, mãe desses valorosos guerreiros, doou toda sua fortuna em benefício da Cruzada. Godofredo colocou seu exército sob a proteção de São Miguel Arcanjo.
Os príncipes e cavaleiros consideravam Godofredo seu modelo, os soldados seu pai, e os povos seu sustentáculo. Era “um homem magnífico moral e fisicamente, alto, de ombros largos e cabeça altiva, dotado de uma força e uma coragem sobre-humanas, mas ao mesmo tempo modesto, generoso, de uma piedade exemplar, o protótipo do autêntico Cruzado”.[1]
Quando jovem, por uma equívoca interpretação da obrigação de fidelidade ao imperador, havia apoiado o ímpio Henrique IV contra o Papa São Gregório VII. Mas se arrependeu profundamente de seu pecado e fez o voto de ir à Terra Santa.
Bispo Ademar de Monteil: coordenador dos exércitos
O Conde Hugo de Vermandois, irmão do Rei da França Felipe I – que estava excomungado –, capitaneava os guerreiros franceses da região central, bem como os da Normandia trazidos pelo Duque Robert Courteheuse, filho de Guilherme, o Conquistador.
Porém, depois de ter participado da tomada de Antioquia, em junho de 1098, Hugo regressou à Europa…
Raimundo de Saint-Gilles, Conde de Tolosa, comandava 100.000 cruzados do Sul da França, sob a orientação espiritual do Bispo Ademar de Monteil o qual fizera uma peregrinação à Terra Santa e conhecia toda a problemática do Oriente.
Saint-Gilles levou consigo sua esposa e um filho bebê. Embora fosse um grande guerreiro, em diversas ocasiões, ele se deixou levar por invejas e teve graves desentendimentos com os chefes cruzados.
O quarto exército estava sob as ordens de Bohemond, Príncipe de Tarento – Sul da Itália –, auxiliado pelo valoroso Tancredo, Duque da Sicília e Calábria. O primeiro era filho e o segundo, neto do célebre Robert Guiscard, da raça dos vikings, que falecera havia uns dez anos.
A responsabilidade de coordenar as ações dos chefes de exército foi confiada pelo Papa Beato Urbano II ao Bispo Ademar de Monteil. No início da caminhada dos Cruzados do Sul da França, esse valoroso prelado os abençoou e cantou a Salve Rainha cuja composição, segundo alguns autores, é de sua autoria.
Os Cruzados derrotaram o sultão de Niceia…
Nos primórdios de 1097, os quatro exércitos se encontraram em Constantinopla, que aderira ao cisma do Oriente quatro décadas antes, rejeitando o Papa. O Imperador de Bizâncio, Alexis Comneno, além de ser cismático, era um indivíduo astucioso e falso.
Em troca da ajuda alimentar aos cruzados, Alexis exigiu que todos os territórios conquistados por eles passassem a pertencer ao seu império. Espírito traiçoeiro, fez contatos com os turcos a fim de atacarem os guerreiros católicos em sua marcha rumo a Jerusalém.
Em maio de 1097, os Cruzados se reuniram nas proximidades de Niceia, onde haviam sido se realizados, séculos antes, concílios ecumênicos. A cidade era cercada por sólidas muralhas e largos fossos.
Os Cruzados totalizavam 600.000 pedestres – incluindo soldados e peregrinos de ambos os sexos – e 100.000 cavaleiros. Foi necessário passar uma semana preparando aríetes, torres rolantes, catapultas, para iniciar o combate marcado para a solenidade da Ascensão de Nosso Senhor.
O sultão que governava Niceia havia se retirado da cidade anteriormente, a fim de reunir nas redondezas muçulmanos para combater os Cruzados. Sob seu comando, milhares de infiéis investiram contra os nossos que se defenderam firmemente e passaram à contraofensiva.
Os raios de um Sol ardente faziam brilhar na planície o ouro e a prata dos elmos e dos escudos dos Cruzados. “Os cavaleiros, com suas lanças erguidas, formavam uma espécie de muralha de ferro vivo e vibrante. Vendo isso, o terror dominou o coração dos turcos”[2] os quais, encabeçados pelo sultão, fugiram apavorados deixando 4.000 mortos e muitos prisioneiros.
Os Cruzados, então, com “suas máquinas lançaram mais de mil daquelas cabeças [dos turcos] para cidade”[3], a fim de comunicar aos habitantes a derrota de seu sultão.
… mas o Imperador Alexis se apoderou da cidade
Os sitiados lançavam contra os cruzados flechas envenenadas; qualquer ferimento por elas causado era mortal. No alto da muralha, um arqueiro muçulmano de estatura gigantesca atirava setas que matavam inúmeros católicos.
O brutamontes caminhava sobre os muros gritando injúrias contra Deus e os nossos; jactancioso, em certos momentos retirava sua couraça, jogava seu escudo e berrava mais alto. Godofredo preparou uma catapulta e, quando o gigante estava com o peito descoberto, lançou uma pedra que o matou instantaneamente; seu cadáver caiu junto aos pés dos Cruzados.
Em seguida, os cruzados, precedidos pelos bispos e padres, fizeram em redor da cidade uma procissão durante a qual se aspergia água benta e se rezava.
Através de um artifício, os cruzados conseguiram derrubar uma importante torre de Niceia e estavam a ponto de conquistar a cidade. De repente, apareceram, no lago vizinho à cidade, navios gregos trazendo o Imperador Alexis e muitos soldados de Constantinopla. Alexis declarou que Niceia pertencia ao Império bizantino e dela se apoderou.[4]
Os Cruzados nada puderam fazer contra essa atitude própria de um traidor e continuaram sua marcha rumo a Antioquia, em junho de 1097.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas.São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 488.
[2] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. XXIII, p. 455.
3 MICHAUD, Joseph-François. História das Cruzadas. São Paulo: Editora das Américas. 1956, v. I, p. 196.
[4] Cf. MICHAUD. Op. cit., v. I, p. 66, 206, 226; GROUSSET, René. La epopeya de las Cruzadas. Madrid: Palabra. 2014, p. 19; DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. XXIII, p. 366, 453, 457 passim.
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