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Quando Jesus Cristo não sabe por onde entrar na igreja: a derrota estética do pós-Concílio

Segundo o arquiteto Andrea Pacciani, vencedor de prêmios internacionais, a arquitetura contemporânea ou experimental representa para o espírito humano o mesmo “que a Al-Qaeda representa para a paz mundial”.

oto: Job savelsberg/ unsplash

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Redação (15/07/2025 10:29, Gaudium Press) No último 07 de julho de 2025, o diário italiano Nuova Bussola Quotidiana publicou uma entrevista provocadora, conduzida por Tommaso Scandroglio, com o arquiteto Andrea Pacciani, vencedor de prêmios internacionais e declarado inimigo da estética modernista. A conversa, permeada por ironia sutil e diagnósticos incisivos, gira em torno de uma pergunta que arde como incenso mal queimado: por que as igrejas construídas hoje são tão feias? A resposta é mais teológica do que arquitetônica.

Aos católicos de missa dominical, o ano de 2024 representou mais do que uma Quaresma longa e uma Pascoela enfumaçada, pois custou-lhes a quantia 32.250.000 euros, destinados à construção de novas igrejas na Itália; um investimento desnecessário em tempos de inverno demográfico, que há anos afeta os fiéis praticantes. Mas deixemos de lado, por um momento, a pertinência pastoral ou o critério econômico. A pergunta que Andrea Pacciani, arquiteto e designer premiado, considerado um “herege” pelos adeptos do modernismo litúrgico, formula com precisão cirúrgica é outra: “Essas igrejas são belas?”

Mais precisamente: são essas estruturas – de concreto pálido, madeira desidratada e vidros sem vida – adequadas a expressar o culto que se deve a Deus? Pacciani, que venceu prêmios internacionais com sua predileção pela arquitetura clássica e a estética, não hesita em afirmar: a nova arquitetura litúrgica é um fracasso monumental.

“Nossas igrejas antigas têm o defeito de serem belas demais, obras-primas artísticas absolutas e construções arquitetônicas funcionais para o culto. E, no século XX, decidiu-se abandonar o modelo de construção seguido até então, para dar lugar à arquitetura contemporânea, criando disparidade. Assim, infelizmente, a arquitetura sacra, na era moderna, perdeu suas funções instrumentais primárias – assim como aconteceu com a arte em geral – com a esperança ou ingenuidade consciente de que outros meios trariam os mesmos ou melhores resultados do que aqueles alcançados e garantidos por antecedentes históricos”, afirma Pacciani.

E aqui, antes que os espíritos apressados bradem contra ele o epíteto de “tradicionalista hostil”, convém ouvir o argumento. Pacciani não denuncia apenas a feiura, mas a substituição de função. A igreja moderna, segundo ele, perdeu seu propósito. Se a lex orandi é lex credendi, então também vale dizer: “lex aedificandi, lex credendi”, afirma o arquiteto.

As basílicas, templos, altares vivos, ou seja, as igrejas antigas, lembra ele, tinham um “defeito”: eram belas demais. Hoje, os edifícios eclesiais lembram hangares, salas multiuso e — perdoe-me a crueldade — auditórios de universidade pública. Cumprem mil funções, exceto a mais importante: apontar para o céu. São templos do imediato, da experimentação estética e da engenharia modular, não os da adoração.

A crítica de Pacciani vai mais longe. Ele denuncia o despropósito de certos templos modernos. “Os arquitetos-estrela fazem o seu trabalho, pelo qual são generosamente pagos: expressar conceitos arquitetônicos maravilhosos que impressionam as pessoas, tornar a religião realmente o ópio do povo. A missão dos construtores de igrejas sempre foi a de criar um ponto de encontro entre Deus no pão e no vinho e aqueles que creem na salvação após a morte. Só isso. Um lugar para fazer “isto em memória de mim”. O objetivo das igrejas, portanto, é perpetuar, não inovar”.

“É difícil fazer isso com sucesso na busca estética ou extática da novidade! Com a perda da importância da função primária da igreja, descrita acima, os outros aspectos mais versáteis que a igreja atende atualmente (sala de concertos, local seguro e de abrigo, estacionamento útil porque gratuito para visitas ) nos deixam satisfeitos com edifícios capazes de cumprir pelo menos essas funções secundárias, mais seculares […]. Para fazer piada, inventamos igrejas sensíveis às condições climáticas!”, acrescentou. Scandroglio perguntou ainda ao arquiteto: “Como podemos reverter o curso? Como podemos trilhar pela via pulchritudinis?”

 “Acredito que existam áreas na vida humana — como a fé, o lar, a família e a alimentação— em que a evolução de certos aspectos essenciais ocorre por meio de mudanças extremamente lentas, ou às vezes apenas aparentes. Os fracassos do experimentalismo, resultantes de uma ruptura com o passado, nunca levaram a resultados apreciáveis e dignos a longo prazo. Minha esperança é que não apenas a arquitetura, mas toda a abordagem experimental nesses contextos seja gradualmente abandonada”, disse o arquiteto. Segundo ele, a arquitetura contemporânea ou experimental representa para o espírito humano o mesmo “que a Al-Qaeda representa para a paz mundial”.

O arquiteto, então, joga a cartada final: “não tenho conhecimento de nenhum santo ou beato que tenha crescido, se convertido e sido iluminado em uma paróquia ou igreja com arquitetura moderna ou experimental, mas posso estar enganado”.

“Devo enfatizar que esse erro grosseiro não foi cometido por outras religiões monoteístas, como o islamismo e o budismo que, mesmo em cidades mais impulsionadas pela arquitetura experimental contemporânea, continuaram a construir seus templos religiosos de acordo com a hermenêutica de sua continuidade estética e funcional, certas de seu sucesso espiritual, garantido pela história de sua religião. O resultado de quase um século de arquitetura sacra experimental é infelizmente o de edifícios nos quais não só muitas vezes se pode errar a localização da entrada, como também o próprio Jesus Cristo nem saiba por onde entrar! Imagine então os fiéis em busca da  conversão ou santidade!”, arrematou.

Por Rafael Tavares

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