Quando chegar a hora
O justo Juiz, enquanto não chegar a hora da sentença final, é infinitamente paciente, clemente e misericordioso.
Redação (31/08/2020 14:47, Gaudium Press) Era uma vez um homem que preparou um jantar e convidou muitas pessoas de sua cidade para que compartilhassem com ele. Quando a mesa foi montada, mandou seus servidores avisarem aos convidados: venham, está tudo preparado.
Com palavras semelhantes, se inicia uma parábola contada por Nosso Senhor na presença de alguns fariseus (cf. Lc 14,16-24). Sabemos a continuação da história: os convidados pediram desculpas, dando razões diversas para explicar o motivo pelo qual não compareceriam ao jantar. Isso irritou o dono da casa, que os excluiu de sua amizade e colocou pobres, aleijados e cegos em seu lugar. E como os lugares à mesa não estavam totalmente preenchidos, ordenou que trouxessem à força os que se encontravam fora da cidade, nos cruzamentos dos caminhos.
Outra parábola semelhante é ainda mais terrível. É sobre um rei que convida para um banquete nupcial pessoas que já não lhe prestam a menor atenção. O rei insiste através de seus servos para que venham, está na hora!… mas os convidados não se importam, e alguns chegam a espancar e até assassinar os enviados. O rei enfurecido mandou matá-los e incendiar a cidade (cf. Mt 22, 2-14).
Aplicação da parábola do banquete
Estas histórias contêm um rico ensinamento moral que diz respeito a todos nós batizados. Elas se aplicam imediatamente aos judeus daquela época, mas seu alcance é universal: é para todos os tempos, todos os povos e todos os indivíduos.
Ao não acolher coerentemente o convite que o Senhor nos faz de santificarmos assumindo os compromissos da Fé, Deus se ofende, a quem teremos que prestar contas. Pela graça, enquanto há tempo, podemos sempre nos arrepender, nos confessar e receber a absolvição de nossas faltas e, assim, passar o dia com Ele… que esquecerá das ofensas. Sim, o justo Juiz, enquanto não chegar a hora da sentença final, é infinitamente paciente, clemente e misericordioso.
O Banquete da Eucaristia
Ora, estas parábolas que nos falam de uma mesa servida, aplicam-se à Eucaristia, que é, propriamente dito, um banquete para o qual todos somos convidados. Chegamos a ele com encanto no dia da Primeira Comunhão. Mas verifica-se que a mesma mesa permaneceu posteriormente servida, sempre à nossa espera, mais… “comprei um campo”, “adquiri cinco juntas de bois”, “casei-me”, são as desculpas que damos.
Pensemos nas circunstâncias em que, “quando chegou a hora” (Lc 22,14), o Senhor instituiu a Eucaristia durante a Última Ceia. “Desejei ansiosamente celebrar este banquete convosco” (Lc 22, 15); era sua última Páscoa antes de morrer e a festa de despedida na qual reuniu seus amigos mais próximos. Nessa ocasião, Ele deixaria, a título de testamento, seu Corpo e seu Sangue junto com um mandato formal: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Os Apóstolos receberam este tesouro para perpetuá-lo e dá-lo aos fiéis.
Entre os doze apóstolos, somente o traidor estava em contraste direto com aquele momento sublime. Alguns exegetas acreditam que ele não chegou à comungar, tendo partido antes da instituição da Eucaristia para negociar a mais vil entrega do Mestre por trinta moedas. Outros dizem que sim, que ele recebeu o Divino Sacramento, deixando depois o Cenáculo e mergulhando na noite. Em todo caso, se ele chegou a comungar, o fez sacrilegamente, comendo e bebendo sua própria condenação. “Ai daquele homem por quem o Filho do homem é entregue!” (Lc 22, 22).
Estamos correspondendo aos convites do Senhor?
A estas alturas, examinemos nossa consciência tendo como pano de fundo as duas parábolas mencionadas. É possível que não estejamos correspondendo à altura aos convites do Senhor. Não teremos que fazer alguns propósitos e dar certos passos? Atenção: que não se pense que o exame de consciência é colocar o dedo em uma chaga ou derramar vinagre em uma ferida… é valer-se da misericórdia de Deus com sinceridade, arrependimento e confiança!
Voltemos ao Cenáculo. Nosso exame pode ser orientado assim: consideremos que, entre a amizade dos onze Apóstolos e a malícia de Judas, existem situações intermediárias, porque não é somente se é terrível ou excelente. Agora, sucede que o estado mais generalizado entre os fiéis em relação à Eucaristia, é hoje em dia, justamente, de total indiferença. Se acredita no mistério eucarístico, sim, mas isso não tem um grande impacto na vida pessoal. E o que aconteceu com os convidados indiferentes e ingratos das parábolas? Não saíram bem…
Em relação à Eucaristia dominical, recebemos não só um convite, mas uma ordem com força de lei, um mandamento: santificar o dia do Senhor. Além do domingo, há outras ocasiões em que o banquete é servido e nos espera, por exemplo, quando o Senhor é exposto em uma capela de culto, ou quando está no tabernáculo de uma igreja -ele sempre está- aguardando uma visita, ou ao menos uma breve saudação durante uma pausa no caminho: Adorar é também uma forma de conviver, de compartilhar, de banquetear!
Como estava minha constância em atender ao convite do Senhor antes do coronavírus?
É verdade que nos últimos meses tivemos uma desculpa: devido a pandemia do coronavírus, as Missas públicas foram suspensas e as portas das igrejas foram fechadas. Mas, como estava minha constância em atender ao convite antes do coronavírus? E, sobretudo, como será a minha correspondência quando a situação voltar ao normal e o banquete for celebrado, quando chegar a hora?
Concluamos com uma breve lição dirigida aos que padecem “desafeição”, digamos assim, em relação à Eucaristia. As virtudes são bons hábitos que se adquirem através de exercícios que acabam forjando uma segunda natureza. No início, você tem que fazer um pouco de violência; depois, a prática é estabelecida sem muita dificuldade, e você até começa a sentir o gosto pela coisa!
Que a Virgem nos leve ao seu Filho escondido no tabernáculo, no altar durante as Missas ou na custódia, quando exposto para adoração.
Mairiporã, Brasil, setembro de 2020
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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