Qual o contexto do Consistório Extraordinário de Cardeais em janeiro?
Diversos analistas já se pronunciaram sobre o assunto, sobre o que começa a ser chamado de “verdadeiro início” do pontificado do Papa Leão XIV.
Redação (10/11/2025 16:10, Gaudium Press) Já existe uma grande expectativa em torno do Consistório Extraordinário (reunião de Cardeais) que será realizado nos dias 7 e 8 de janeiro, o primeiro sob o pontificado de Leão XIV. Embora a agenda oficial ainda não tenha sido divulgada, já começam a circular especulações não só sobre os temas, mas também sobre a ênfase que o Papa dará a este importante encontro. Certamente, será pautado por uma das principais tarefas atribuídas ao Pontífice nas congregações gerais: a manutenção e a proteção da unidade, que tem sido seriamente desafiada desde o pontificado anterior.
De acordo com o direito canônico, estas reuniões, das quais participam tanto Cardeais eleitores quanto não eleitores, podem ser convocadas para examinar “assuntos de especial gravidade”, mas também “necessidades particulares da Igreja”, que estão sempre presentes.
Em todo caso, nestas reuniões, o Pontífice não só tem a oportunidade de expressar as suas preocupações e interesses, mas também de ouvir as vozes de Cardeais do mundo inteiro, o que favorece uma visão universal aplicável a cada realidade local. Talvez essas interessantes condições de tais encontros expliquem certas críticas dirigidas ao pontificado anterior, que em mais de dez anos convocou apenas dois: um no ano seguinte ao início de seu mandato, sobre a ‘família’ (do qual Francisco teria saído um tanto irritado), e outro em 2022, quando o objetivo era contextualizar a nova constituição Praedicate Evangelium, que reformava a Cúria Romana.
Além disso, se o objetivo é promover a unidade, é importante ouvir as opiniões dessas vozes particularmente relevantes.
E embora ainda não haja uma agenda oficial, analistas como Franca Giansoldati (Il Messaggero – 10 de novembro de 2025) veem indícios do que poderá estar por vir, por exemplo, na homilia de ontem na Basílica de São João de Latrão, na qual o Papa evocou a imagem de um “canteiro”, isto é, uma “obra em andamento”, “uma bela imagem que fala de atividade, criatividade, compromisso, mas também de esforço, de problemas a resolver, por vezes complexos”. E para enfrentá-los, como expressa Giansoldati, o estilo “tipicamente agostiniano” do Papa Prevost consiste mais em “escutar os seus interlocutores, dialogar, partilhar em comunidade e, depois, avançar”. Não só esta jornalista, mas vários outros analistas já se referem a esta data como “o início do seu ‘verdadeiro’ pontificado”, após o fim do Jubileu, uma vez que “de fato, até agora Leão XIV tem avançado, cumprindo todos os compromissos do Papa Bergoglio”.
“Com o término do Ano Santo, previsto para o dia da Epifania, é como se chegasse a segunda fase, uma fase mais pessoal e individual”, onde o peso das “tarefas herdadas e inacabadas” será menor.
“Leão XIV quer primeiro ouvir os seus colegas Cardeais, partilhar análises, sintetizá-las e concentrar-se em novos desafios. Porém, ainda não existe uma agenda definida [do pontificado], e provavelmente também não existirá neste consistório. É bem possível que Prevost permita que os temas mais urgentes venham à tona livremente e fomente o debate, precisamente o que faltou durante demasiado tempo ao pontificado de Francisco e que foi a raiz de tantas divisões internas”, afirma Giansoldati.
Com outras nuances, mas concordando em numerosos pontos, se expressa Francesco Capozza em Il Tempo (9 de novembro de 2025), quando intitular a convocação de “um consistório extraordinário pela pax cardinalícia”. Entre os dados importantes fornecidos por Capozza está o de que, embora a mensagem convocando este consistório seja datada de 6 de junho, “muitos Cardeais estrangeiros entrevistados pelo Il Tempo confirmaram que já estão cientes da vontade papal e do anúncio iminente deste tipo particular e também raro de consistório”.
O certo é que, como recorda Capozza, nas congregações gerais prévias ao Conclave, não havia muita familiaridade entre os purpurados, e inclusive havia alguns Cardeais que só tinham visitado a cidade eterna no momento da sua elevação ao cardinalato, o que não deixava de ser um inconveniente para se chegar a consensos sobre a situação, a unidade, os desafios da Igreja e a indagação sobre candidatos que pudessem abordá-los, pois, apesar de ser verdade que o Espírito ilumina, até para as Escrituras quis contar com instrumentos humanos, com inteligência, experiência, vontade e sensibilidade humanas.
Essa comunicação ampla e mútua, que ele procurou cultivar frequentemente como meio de promover a unidade, parece estar presente na mente do Papa ao convocar este consistório, especialmente porque “nestes primeiros meses de seu pontificado, Leão XIV já demonstrou querer uma ‘pax’ entre as várias correntes cardinalícias, dando, por exemplo, sua aprovação a um documento (muito criticado) da Conferência Episcopal Italiana apoiado pelos progressistas, mas também concedendo aos tradicionalistas (…) permissão para celebrar uma missa no rito antigo na Basílica de São Pedro”.
Esses equilíbrios não são fáceis de alcançar, por vezes são ameaçados por certos gestos e ações, mas devem ser procurados, sempre dentro da verdade cristã, pois a história já mostrou o grande prejuízo causado pelos desequilíbrios. (CCM)





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