Prodigiosa vitória alcançada pela Santa Lança
Em uma visão mística, o Apóstolo Santo André indicou o local da Basílica de São Pedro onde se encontrava a Santa Lança que transpassara o Sagrado Coração de Jesus.
Redação (19/02/2023 10:07, Gaudium Press) Antioquia, tomada pelos Cruzados, foi cercada por uma multidão de turcos, comandados por Kerbogá. Todo o vale e as montanhas circunvizinhas ficaram cobertas por suas tendas. Depois de algum tempo, a fome começou a grassar na cidade. Passaram a comer cães, gatos e sopas de folhas de figueira, videira, cacto, misturadas com couros de cinturões e calçados. Deus, então, interveio em auxílio dos Cruzados.
O monge francês Pierre Barthélemy, antes mesmo da conquista de Antioquia, teve uma visão mística na qual o Apóstolo Santo André lhe indicou o local da Basílica de São Pedro, situada no interior da cidade, onde se encontrava a Santa Lança que transpassara o Sagrado Coração de Jesus. E mandou-lhe que informasse os chefes Cruzados a respeito disso.
Apóstolo Santo André: a Cruzada é obra divina
Mas o monge não obedeceu a essa ordem. Então, Santo André lhe apareceu novamente e o censurou dizendo: “Ignoras que a Cruzada é uma obra divina?”[1]
Na situação desesperadora em que os sitiados se encontravam, Santo André apareceu outras vezes ao monge o qual comunicou aos seus superiores a mensagem. Realizaram escavações no interior da Basílica e a Santa Lança foi encontrada.
A notícia causou entusiasmo, e Godofredo de Bouillon determinou que os Cruzados atacariam os turcos na vigília de São Pedro: 28 de junho de 1098.
Godofredo corta a cabeça de um camelo
Desde a madrugada, Missas foram celebradas. Os clérigos, levando cruzes nas mãos, percorreram as fileiras de soldados, conclamando-os para a luta com a certeza da vitória.
As portas da cidade foram abertas e, enquanto os guerreiros saíam com intrepidez, no alto das muralhas se fez uma enorme procissão conduzindo a Santa Lança, da qual participaram as pessoas impossibilitadas de batalhar fisicamente que rezavam e cantavam com fervor.
Os Cruzados, tendo à frente Godofredo e outros chefes, com seus golpes de espada ceifaram os turcos como espigas de trigo. Kerbogá conseguiu fugir. Morreram 100.000 infiéis, enquanto que os Cruzados tiveram 4.000 baixas.
A guerra terminou à noite e os vencedores, exaustos, dormiram nas luxuosas tendas dos turcos; no dia seguinte, se alimentaram com as refeições que haviam sido preparadas pelos inimigos.
Poucos dias depois, Antioquia foi atingida por uma peste que causou a morte de milhares de pessoas, entre as quais o valoroso Bispo Ademar de Monteil, e o Bispo de Bayeux – Norte da França –, irmão do Rei Guilherme, o Conquistador. Então, os Cruzados saíram da cidade rumo a Jerusalém.
Um cavaleiro embrenhou-se numa floresta e viu um leão enrolado por uma serpente. Ele a matou, e o leão passou a segui-lo nas caçadas bem como nos combates, dilacerando os infiéis.
Um bom tempo depois, o cavaleiro tomou um navio para voltar à Europa, mas o comandante não permitiu que o leão nele entrasse. Tendo a embarcação se posto em movimento, o animal se lançou no mar e, tendo nadado até onde suas forças permitiam, desapareceu em meio às ondas. Eis um exemplo de gratidão dado por um ser irracional.
Após atravessarem a Turquia, os Cruzados chegaram à Síria onde se haviam difundido notícias sobre a força de Godofredo de Bouillon. Certo dia, “alguns xeques [chefes muçulmanos] árabes, colocando-o à prova, desafiam-no a decepar com um só golpe de espada um camelo adulto e, no mesmo instante, a cabeça do animal rola a seus pés”.
Esse varão de Deus combativo brilhava também pela bondade. “No curso da Cruzada, será um peregrino piedoso, cheio de benevolência, de mansidão, de caridade, de humildade cristã.”[2]
Prova do fogo
Os Cruzados chegaram a uma pequena cidade nas proximidades de Trípoli, atual Líbano. Ao longo do trajeto enfrentaram mil dificuldades. A pior delas foi o rumor, espalhado entre os próprios Cruzados, de que a Santa Lança havia sido uma falsidade inventada pelo monge Pierre Barthélemy.
Para demonstrar sua retidão, Pierre quis se submeter à prova do fogo a qual foi marcada para 10 de abril de 1099. Fizeram uma enorme fogueira no centro da qual havia um estreito corredor.
Trajando uma túnica, descalço e segurando nas mãos a Santa Lança, o monge atravessou devagar o fogo e ficou totalmente ileso. A multidão, venerando-o como santo, lançou-se sobre ele para obter relíquias. Pierre caiu ao solo, teve ferimentos graves e faleceu alguns dias depois.
Em 13 de maio de 1099, os exércitos retomaram sua marcha e chegaram a Trípoli, às margens do Mar Mediterrâneo, cujos habitantes quiseram resistir, mas foram esmagados pelos Cruzados. O emir que governava a cidade pediu a paz, libertou 300 prisioneiros católicos, forneceu aos vencedores alimentos, trajes, cavalos, tesouros e prometeu converter-se ao Catolicismo se os Cruzados tomassem Jerusalém.
Continuando sua marcha, foram bem recebidos em Beirute – atual capital do Líbano –, passaram ao lado de Sarepta – onde uma piedosa viúva havia acolhido o Profeta Elias – e entraram no porto de São João d’Acre, cujo emir fez aliança com os Cruzados.
Junto à sepultura de São Jorge
Estando próximos da cidade de Cesareia – onde Nosso Senhor havia designado São Pedro como Papa –, uma pomba perseguida por um falcão caiu sobre alguns Cruzados; verificou-se que ela levava sob as asas um bilhete com os dizeres:
“O emir de Acco [São João d’Acre] ao emir de Cesareia. Uma raça de cães acaba de atravessar meu território (…). Se amais a lei do Corão, não negligencieis nenhum meio para exterminar esses cães. Fazei chegar esta mensagem a todas outras cidades e castelos-fortes!”[3]
A descoberta desse plano fez com que os Cruzados apressassem sua caminhada, antes que a coalizão dos inimigos se concretizasse. Entraram na cidade de Lida e, com enorme veneração, rezaram na Igreja de São Jorge, na qual este foi sepultado. Em várias ocasiões, ele aparecera aos Cruzados, ajudando-os nos combates contra os infiéis[4].
Pertencia a uma nobre família de gregos católicos e se tornara soldado do Império Romano. Os habitantes de uma localidade viviam apavorados devido a um dragão que devorava pessoas. São Jorge, com sua espada, o matou. Pelo fato de ser católico, sofreu o martírio por ordem do Imperador Diocleciano, em 303. É um dos patronos da Cavalaria.
Antes de se retirarem de Lida, um sacerdote Cruzado foi designado como Bispo dessa cidade.
Que Santo André aumente nossa Fé, confiança e combatividade para lutarmos eficazmente contra os inimigos velados ou declarados da única Igreja de Cristo.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. 23, p. 541.
[2] GROUSSET, René. La epopeya de las Cruzadas. Madrid: Palabra. 2014, p. 15.
[3] DARRAS. Op. cit., v. 23, p. 592.
[4] Cf. MICHAUD, Joseph-François. História das Cruzadas. São Paulo: Editora das Américas. 1956, v. 1, p. 375.
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