Pregadores evangélicos e “declamadores fúteis”
Já que há, entre as coisas reveladas por Deus, algumas que assustam a débil e decaída natureza humana, e por isso não são próprias a atrair multidões, destas eles cautamente não falam; preferem tratar de temas nos quais, exceto a natureza do lugar, nada há de sagrado.
Redação (09/11/2021 10:11, Gaudium Press) Sabemos o motivo pelo qual Cristo desceu do Céu, pois Ele o declarou expressamente: “Vim ao mundo para dar testemunho da verdade” (Jo 18, 37); “Vim para que tenham vida” (Jo 10, 10). Portanto, os pregadores sacros devem visar uma e outra coisa, ou seja: difundir a verdade revelada por Deus, suscitar e desenvolver nos fiéis a vida sobrenatural; em suma, promover a glória de Deus, empenhando-se na salvação das almas.
Errado seria denominar médico alguém que não exerce a medicina, ou mestre em alguma arte quem não a ensina. Do mesmo modo, quem prega sem cuidar de conduzir seus ouvintes a um maior conhecimento de Deus poderá ser definido como um declamador fútil, não um pregador evangélico […].
E já que há, entre as coisas reveladas por Deus, algumas que assustam a débil e decaída natureza humana, e por isso não são próprias a atrair multidões, destas eles cautamente não falam; preferem tratar de temas nos quais, exceto a natureza do lugar, nada há de sagrado.
E não é raro acontecer que, tratando da verdade eterna, baixam ao nível da política, sobretudo se algo desse gênero fascina seus ouvintes. Sua preocupação parece ser apenas esta: agradar aos ouvintes e contentar aqueles que, segundo São Paulo, “têm prurido de escutar novidades” (II Tim 4, 3).
Daí aqueles gestos não calmos nem graves, próprios de espetáculos e de comícios; daí as patéticas entonações da voz ou as impetuosas tragicidades; daí o estilo de falar próprio dos jornais; daí aquela abundância de citações colhidas, não nas Sagradas Escrituras nem nos Padres da Igreja, mas em escritores ímpios e acatólicos; daí, por fim, a vertiginosa verbosidade, que se encontra na maioria deles, a qual serve para entorpecer os ouvidos e pasmar os ouvintes, mas não lhes proporciona nada de bom.
Extraído de:
BENTO XV – Encíclica Humani generis redemptionem, 15/6/1917.
In: Arautos do Evangelho, ano XX, nº 232, abr. 2021, p. 6-7.
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