Pregações de São João Batista
Sua pregação produzia um grande movimento popular rumo à virtude, como nunca se vira na história de Israel.
Redação (24/06/2021 09:47, Gaudium Press) São João Batista, que levava uma vida de oração e penitência no deserto, inspirado por Deus deixou seu retiro e começou a pregar por toda a região do Rio Jordão. Estava se cumprindo assim a profecia de Malaquias: “Vou mandar o meu mensageiro para preparar o meu caminho” (Ml 3, 1).
Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João
Também Isaías profetizou sua vinda, segundo atestam os quatro evangelistas. Havia 400 anos que não aparecia nenhum profeta em Israel. A chegada desse varão extraordinário é expressa por estas palavras do Apóstolo que Jesus mais amou: “Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João” (Jo 1, 6).
Esse grandioso acontecimento ocorreu quando Tibério César, enteado do célebre Augusto, era o imperador romano. Governava a Judeia, então inteiramente dependente de Roma, Pôncio Pilatos. Herodes Antipas, filho de Herodes Idumeu, era o rei da Galileia, e Anás e Caifás, os sumos sacerdotes (cf. Lc 3, 1).
São João Batista atraía multidões: “E saíam para ter com ele toda a Judeia, toda a Jerusalém” (Mc 1, 5). Inclusive mulheres de má vida, publicanos e soldados iam ver São João Batista. Os publicanos não gozavam de boa reputação porque geralmente cometiam furtos na cobrança dos impostos; os soldados – do exército de Herodes Antipas ou legionários romanos – eram frequentemente aventureiros, devedores insolventes, perdulários, bandidos, vagabundos.
O Precursor dizia-lhes: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Converter aqui significa mudar de vida e mentalidade. Eles precisavam deixar seus vícios, o apego às coisas terrenas, o comodismo, e se voltarem para Deus, praticando os Mandamentos e fazendo sacrifícios. E acrescentava: “Produzi frutos que mostrem vossa conversão” (Lc 3, 8). “Esses frutos, ou seja, esses atos de penitência, mostrarão a veracidade de sua conversão.”
Fariseus e saduceus foram ao encontro do Precursor…
“Sua pregação produzia um grande movimento popular rumo à virtude, como nunca se vira na história de Israel”. Maravilhadas pela pessoa e pregação de João Batista, vendo nele um grande santo, as pessoas lhe perguntavam se era o Messias. E com sua retidão e humildade luminosas, ele respondia: “Eu vos batizo com água, mas virá Aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desatar a correia das suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3, 16).
“Os fariseus e os saduceus, cuja influência dominava todo o panorama sociopolítico judaico da época, estavam sempre muito atentos a qualquer variante na opinião pública, pois não lhes era conveniente perder o apoio das bases da sociedade. “O entusiasmo pela figura do Precursor suscitado nas multidões, que afluíam para ouvi-lo, supunha para os membros de um e de outro partido uma ameaça ao seu poder.
“Querendo causar a impressão de que também haviam aderido à onda de fervor religioso, resolveram ir ao encontro de João. Não obstante, como eles se julgavam perfeitos a ponto de não terem pecado algum, sua intenção não era a de confessarem suas culpas, mas apenas receber o batismo como um carimbo que os justificasse aos olhos da opinião pública.”
… que os increpou com voz possante
Conhecendo suas péssimas intenções, o Precursor os increpava: “Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? […] O machado já está posto na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo” (Mt 3, 7.10).
“E não devemos imaginar São João dizendo isto em voz baixa ou de forma pouco expressiva. Decerto ele possuía uma voz possante que, por assim dizer, atingia a espinha dorsal dos ouvintes como se o próprio Deus lhes falasse. Na verdade, João, ‘cheio do Espírito Santo’ (Lc 1, 15), representava a Deus e transmitia sua vontade”. “É sem dúvida uma linguagem dura e severa, mas inspirada pelo zelo e pela caridade; é preciso às vezes desferir grandes golpes nos pecadores endurecidos e soberbos”.
E fazendo referência ao Messias, São João Batista dizia: “O trigo, Ele o guardará no celeiro, mas a palha, Ele a queimará num fogo que não se apaga” (Mt 3, 12). O trigo representa os homens que creem em Nosso Senhor, a palha, os incrédulos e os pecadores empedernidos; o celeiro, a Igreja e o Céu; o fogo inextinguível, o Inferno. “Assim, se iam dividindo os campos dentro da própria opinião pública judaica, como vieram a confirmar os acontecimentos posteriores”.
“Eis o Cordeiro de Deus”
São João Batista batizava aqueles que o desejassem. Esse batismo “não imprimia caráter, não perdoava os pecados nem conferia a graça, pois, embora inspirado por Deus, era simbólico […] Por isso, todos aqueles que foram batizados por São João tiveram de ser batizados de novo pelos Apóstolos (cf. At 19, 3-6)”. Com o passar do tempo, apareceram discípulos que o assistiam. Por exemplo, São João Evangelista e seu irmão, São Tiago Maior, eram fiéis discípulos do Precursor que depois se tornaram Apóstolos de Nosso Senhor.
Em dado momento, o próprio Jesus veio ao encontro de São João Batista e lhe pediu o batismo. Ao vê-Lo, o Precursor afirmou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29); e depois O batizou. Pelos séculos dos séculos essas palavras são repetidas, durante a Missa, quando o sacerdote mostra aos fiéis a Hóstia pouco antes da Comunhão.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 147)
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1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte bible avec commentaires – Évangile selon S. Luc. Paris: Lethielleux. 1889, p. 96.
2 – Idem, ibidem, p. 94.
3 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. III, p. 157.
4 – CLÁ DIAS, op. cit. 2013, v. I, p. 33-34.
5 – Idem, ibidem, p. 34.
6 – FILLION, La sainte bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris:
7 – Lethielleux. 1895, p. 72.
8 – Cf. Idem, ibidem, p. 75.
9 – CLÁ DIAS, op. cit., 2012, v. V, p. 165.
Idem, v. V, p. 166.
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