Por que os religiosos vivem mais?
Apesar da crise de vocações, religiosos consagrados continuam batendo recordes de longevidade. As comunidades religiosas exibem uma expectativa de vida acima da média, especialmente entre as mulheres.

Foto: Abbaye Sainte Marie de Boulaur
Redação (06/12/2025 12:25, Gaudium Press) Hoje, a maioria dos mosteiros lamenta a falta de vocações novas. Por outro lado, muitos religiosos e religiosas destacam como a vida em comunidade favorece chegar a idades muito avançadas. Um fenômeno que tem várias explicações.
A religiosa brasileira Inah Canabarro Lucas faleceu em março de 2025, aos impressionantes 116 anos e 326 dias. Era a segunda religiosa mais longeva do mundo, atrás apenas da francesa Lucile Randon, falecida em 2023 aos 118 anos.
Nem todas as religiosas e monges chegam a essas idades extremas, claro. Mas basta olhar a estrutura etária dos mosteiros para perceber que a expectativa de vida lá dentro é visivelmente maior.
Nos conventos femininos, a idade média assusta (de tão alta). O convento das dominicanas de Ilanz, no cantão dos Grisões, Suíça, ainda abriga 61 irmãs. A média de idade? 86 anos. Metade delas vive na casa de repouso do próprio convento, e mesmo assim o número impressiona. No convento beneditino de Fahr, no cantão de Argóvia, são 17 irmãs, entre 60 e 92 anos. Só duas ainda não estão aposentadas; metade já passou dos 80.
Nos mosteiros masculinos também há muitos idosos, embora os números sejam menos extremos. “A média de idade da nossa comunidade é 69 anos”, conta o abade Christian Meyer, do mosteiro beneditino de Engelberg, no cantão de Obwald. Na célebre abadia de Einsiedeln, no cantão de Schwyz, a média dos 39 monges é de 62 anos.
Segundo Christian Meyer, a idade mais baixa nos mosteiros masculinos se explica pelo fato de ainda entrarem vocações novas — algo que praticamente não acontece mais nos femininos. No convento das dominicanas de Ilanz, por exemplo, ninguém faz profissão definitiva desde 1989.
Envelhecer atrás dos muros: por que é tão favorável?
Mas como é possível envelhecer tão bem em um lugar onde a vida costuma ser mais austera do que lá fora?
“Como convento quase só composto por irmãs idosas, temos uma missão profética”, afirma a Ir. Irene Gassmann. “A Igreja — e consequentemente os mosteiros— está vivendo um momento de transição. Viver e ajudar a construir esse tempo é precioso e importante”, afirma a Irmã Irene. “Isso dá esperança e sentido à nossa existência. Estamos preparando o terreno para o que está por vir”.
Já a irmã Annemarie, de Ilanz, dá uma explicação mais prática: “Vivemos segundo um ritmo diário, semanal e anual bem definido, marcado pelo ano litúrgico e pelas estações. Isso dá estrutura, sentido e alegria”. A vida espiritual fortalece a confiança. “Fé e oração desempenham um papel essencial em nosso dia a dia: podemos entregar tudo e receber tudo. E sentimos segurança — cuidamos umas das outras e nos comprometemos com a comunidade”.
O abade Christian Meyer, de Engelberg, concorda que a rotina dos religiosos bem ordenada “faz bem ao corpo”. Além disso, todo mundo continua útil, mesmo em idade avançada: “Aqui, os monges podem ficar mexendo, consertando, fazendo tarefas grandes ou pequenas até velhice, ou mesmo até não sermos mais capazes. Isso mantém a gente em forma”.
O Padre Lorenz Moser, de Einsiedeln, lista outros fatores: além da rotina diária, a comunidade alivia cada um de diversas preocupações, como financeiras e planejamento da aposentadoria. Estar ancorado em Deus e apoiado pela fé também contam muito. Estudos neuropsicológicos confirmam que a orientação religiosa pode beneficiar a saúde — desde que a pessoa se identifique de fato com aquele estilo de vida e com aquela comunidade concreta.
Para Mariano Tschuor, do mosteiro de Mariastein (SO), “nos mosteiros, reinam a consideração e o respeito. Conflitos costumam ser evitados, não enfrentados abertamente. O estresse emocional é bem menor que no mundo profissional laico. Preocupações existenciais desaparecem, mesmo vivendo-se com simplicidade”.
Mesmo para os leigos, a religiosidade está relacionada com a longevidade, ou seja, pessoas que têm uma religião vivem mais. Estudos apontam benefícios significativos associados à prática religiosa e espiritual. Publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), um estudo revelou que pessoas que participavam de grupos religiosos pelo menos uma vez por semana apresentaram uma redução de 50% na mortalidade geral, em comparação com aquelas que não mantinham essa prática regular.
Com informações kath.ch





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