Por que e como descansar?
O espírito humano busca a paz, em meio à movimentação intensa a que é submetido no decurso da vida.
Redação (24/07/2021 17:59, Gaudium Press) Deus criou o universo em seis dias e descansou no sétimo. A cada etapa, Ele contemplava a obra realizada e via que era boa. Após ter analisado o conjunto, Ele o classificou como ótimo, e “descansou do seu trabalho” (Gn 2, 2).
“O fim coroa a obra”, diz um antigo ditado latino. E “todo movimento tende ao repouso”, afirma, por sua vez, São Tomás de Aquino.
A própria natureza nos ensina essa lei. Após as tempestades, os mares se acalmam, a atmosfera se torna serena e o ar se purifica; nessas ocasiões, é extremamente agradável elevar os olhos ao Céu e contemplar a Deus, sua infinita bondade e misericórdia.
As quatro estações também nos dizem algo nessa linha, pois aos rigores do inverno se sucedem as cores, os perfumes e os frescores da primavera, os calores do verão são temperados pelo lento e crescente refrigério do outono.
Lei do repouso
Assim também o organismo humano, em seu equilíbrio normal, exige um certo número de horas de sono cada noite. É inerente ao homem, concebido no pecado, padecer cansaço; o lado animal de nossa natureza facilmente se fatiga.
Depois de nossos afazeres diários, sejam trabalhos ou estudos, chegada a noite temos uma necessidade vital de repousar, com maior razão se acordamos cedo.
E talvez seja esta uma das razões pelas quais quis Deus fazer a Terra girar em torno de seu próprio eixo ao longo das vinte e quatro horas do dia.
Sim, Deus instituiu a lei do repouso na ordem dos seres criados; e procura habituar os homens, durante o estado de prova nesta existência terrena, ao recolhimento com vistas à vida eterna.
À primeira análise, o descanso poderia parecer uma imagem da inação estagnada, infrutífera e deteriorante. Porém, é nele que o homem reencontra o melhor de suas energias e de sua operosidade eficiente.
O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, isento do pecado original e de qualquer outra mancha, quis assumir certas deficiências da natureza humana e Se cansava, como no episódio em que O encontramos dormindo na barca de Pedro, em meio à tempestade, e censurou os Apóstolos por não terem suficiente fé quando estes O acordaram (Mt 8, 23-26).
Aos próprios discípulos, aconselhava Nosso Senhor o repouso depois das grandes atividades. “Tendo os Apóstolos voltado a Jesus, (…) Ele disse-lhes: Vinde à parte, a um lugar solitário, e descansai um pouco” (Mc 6, 30-31). Aprendamos a descansar com Jesus.
Ação e recolhimento
Certo conceito de repouso em nossos dias leva as pessoas a julgarem erroneamente consistir este no completo relaxamento físico e espiritual.
Apesar de estarem os Apóstolos tomados pela fadiga, Jesus os fez subir o monte, pois era necessário contemplarem o panorama das atividades já realizadas e das que ainda estavam por vir.
Sentados no alto desse mirante, seus olhos desvendaram um belo horizonte geográfico. É indispensável trabalhar em Deus como também descansar em Deus.
Nossa vida em sociedade — sobretudo quando apostólica — deve ser conduzida numa mescla de ação e recolhimento. É na oração que o homem de fé recupera suas energias e adquire novas forças para empreendimentos mais ousados.
Por isso, afirma São João Crisóstomo que Jesus subiu ao monte “também para nos ensinar a descansar, em toda ocasião, do alvoroço e do barulho, pois, com efeito, a solidão é conveniente para a meditação. Com frequência Ele sobe sozinho ao monte e passa ali a noite a rezar, indicando-nos que quem se aproxima de Deus necessita afastar-se do ruído e buscar tempo e lugar distante do tumulto”.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho, agosto 2003.
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