Por que Deus mandou fazer uma serpente de bronze?
Deus anunciou um mistério por meio do qual haveria de destruir o poder da serpente, autora da pecado de Adão.
Redação (18/10/2020 20:59, Gaudium Press) Em um determinado momento, enquanto fazia a travessia do deserto rumo à Terra Prometida, o povo israelita guiado por Moisés começou a se revoltar contra ele. Ora, Deus não tolera que haja revolta contra seus mediadores, a ponto de tomar as murmurações do povo como reclamações feitas a Si próprio.
De forma análoga, também nós O provocamos quando não aceitamos os reveses, provações e dores da vida, pois essa atitude é, no fundo, um protesto contra Deus.
Para castigar os filhos de Israel, o Senhor mandou terríveis serpentes — “ardentes”, segundo o original hebraico —, que infestaram o acampamento. Sua venenosa picada causava febre altíssima que matava em pouco tempo, tendo sido grande o número de vítimas.
Depois de ter morrido “muita gente em Israel” (Nm 21, 6), o povo reconheceu nessa calamidade um castigo divino e, afinal, o medo, que nem sempre propicia a conversão, os levou ao arrependimento. E era este o objetivo de Deus. Foram eles pedir a intercessão de Moisés, admitindo que o pecado cometido tinha duplo alcance, pois ofendera o Altíssimo e seu representante: “Pecamos, falando contra o Senhor e contra ti” (Nm 21, 7).
A serpente de bronze
Deus respondeu aos rogos de Moisés com a seguinte recomendação: “Faze uma serpente de bronze e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela, viverá” (Nm 21, 8). E não eliminou as serpentes, permitindo que elas continuassem suas investidas contra os hebreus.
Moisés cumpriu a determinação divina. Quem era picado sabia que não existia remédio para o seu mal, e a única chance de sobrevivência estava junto a Moisés, pois o profeta sempre levava consigo o cajado em cuja extremidade fixara a serpente de bronze.
Assim, Deus manifestava empenho em manter o princípio de mediação e fazia os israelitas comprovarem não só sua onipotência e bondade, como também os benefícios de ter um profeta que os guiasse e interviesse em favor deles.
Por que a imagem da serpente?
A imagem da serpente de bronze apresenta-se como pré-figura da ação redentora de Jesus Cristo na Cruz.
Deus quis que este mesmo animal, por cuja sugestão o pecado e a morte se introduziram no mundo, se transformasse em sinal de cura para os filhos de Israel, representando o Divino Redentor, que nos traria a verdadeira vida.
Explicando essa pré-figura, São Justino assevera que nela “Deus anunciava um mistério por meio do qual haveria de destruir o poder da serpente, autora da transgressão de Adão, e, ao mesmo tempo, a salvação para os que cressem em quem era simbolizado por este sinal, ou seja, n’Aquele que haveria de ser crucificado e de livrá-los das picadas da serpente, que são as más ações, as idolatrias e demais iniquidades”.
Apesar de nos causar certo choque, essa imagem da serpente é rica em simbolismo. Com efeito, trata-se de um animal perigoso e que, curiosamente, sempre esteve relacionado à medicina, sendo emblemático do poder curativo. Seu veneno é letal, mas também possui propriedades terapêuticas que, uma vez trabalhadas, são utilizadas como remédio.
Eis a vida e a morte sintetizadas num mesmo animal, qual pedra de escândalo: quem sabe aproveitá-lo obtém elementos para a restauração da saúde; quem se descuida é picado e morre.
A verdadeira serpente levantada na haste
Ao contrastarmos a figura com a realidade, veremos que Deus também poderia ter operado a Redenção, eliminando para sempre o pecado e seus efeitos, por uma simples deliberação, sem o concurso de nenhum intercessor. Todavia, permitiu que os homens continuassem pecáveis, deixando à disposição de todos a possibilidade de encontrar o perdão junto ao “mediador da Nova Aliança” (Hb 12, 24), Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem é tocado pelo pecado e O olha encontra o remédio para seus males. Mas, ai de quem procura a solução fora d’Ele!
Assim, sempre que tivermos a desgraça de cometer algum pecado, voltemos os nossos olhos à verdadeira serpente levantada na haste, Jesus Cristo, que Se deixou prender e crucificar, por amor a nós.
Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho n.136. Setembro 2014. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
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