Pode a Bondade de Deus irar-se?
A festa da Páscoa se aproxima. E se Jesus voltasse à Terra e fosse a algum Templo celebrá-la? A liturgia desse 3º Domingo da Quaresma nos apresenta um aspecto pouco considerado do Divino Mestre e, quiçá, até mesmo posto de lado…
Redação (03/03/2024 14:45, Gaudium Press) O Evangelho deste Domingo nos relata a expulsão dos vendilhões do templo.
“Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém” (Jo 2, 13).
As Sagradas Escrituras nos ensinam que a Páscoa era a festa sagrada e de preceito máximo para o povo judeu, pois nela não só se rememorava, mas se celebrava, a modo de “atualização”, isto é, tornando presente, os grandiosos prodígios realizados por Deus a favor de seu povo durante a escravidão ao faraó, no Egito. E, todos os anos, das mais diversas regiões, subiam peregrinos a Jerusalém a fim de oferecer o sacrifício no Templo.
Ora, como para muitos era incômodo — e até por vezes, impossível — transportar os animais que seriam oferecidos na ocasião, havia na parte de fora do recinto sagrado uma área destinada a atender os peregrinos recém-chegados. Se não bastasse, a muitos ainda era necessário trocar suas moedas, consideradas estrangeiras, por moedas sagradas, para que pudessem efetuar a aquisição dos produtos. Para isso, havia cambistas por todas as partes.
Assim, podemos imaginar um pouco o ambiente que todo esse cadre criava em torno de si: os cambistas vociferando e oferecendo suas moedas; os vendedores fazendo o mesmo; e, como é inevitável, os animais ali postos não estavam em silêncio.
Por mais que todo esse comércio fosse praticado dentro da lei, a situação ainda não estaria justificada. Ora, sabemos que, onde há negócios, ou existe muita virtude por detrás, ou os meios transformam-se em fim e, o que era bom no início, torna-se desvirtuado ao longo do caminho. E foi o que, certamente, acontecia no Templo.
Sendo assim, não havia ambiente mais propício a destruir a sacralidade do Templo e profaná-lo como aquele… O sumo-sacerdote e demais responsáveis pela liturgia estavam com uma mordaça nos lábios e atadura nas mãos, ou estavam sendo coniventes com a situação?
O zelo por tua casa me consumirá
“No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados” (Jo 2,14).
Nesse contexto, Nosso Senhor dirige-se ao recinto sagrado para, também Ele, que não tinha a menor necessidade de se sujeitar à lei, oferecer seu sacrifício. Chegando lá, deparou-se com tão deplorável cena: a casa de seu Pai transformada numa casa de negócios.
“Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,15-16).
Seguramente, o espírito irenista do século XXI, ao se deparar com uma atitude tão enérgica da parte de Deus, poderia ficar perplexo. De fato, para que usar um chicote, se uma simples ordem d’Ele – que afinal de contas ordenou ao mar que se calasse, e assim se fez – poria em ordem a situação em poucos instantes?
“Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa Me consumirá” (Jo 2,17).
Nenhuma atitude de Nosso Senhor era irrefletida. Tudo nele, até o mínimo gesto, tinha um significado. Ora, se isso é assim, tal seria que uma reviravolta dessas no cerne do Judaísmo — pois o Templo e a religião para o povo eram sinônimos inseparáveis — seria um acaso.
Nós, católicos, sabemos que a Divina Providência tudo preparou durante a vida de Jesus para que, em determinado momento, a religião do povo eleito desse um “passo à frente” e se tornasse a religião do novo povo eleito, isto é, a Santa Igreja Católica. E o Divino Mestre, que era o Templo da Divindade por excelência, ao ver a situação em que se encontrava o recinto Sagrado, quis mostrar o seu zelo pela casa de seu Pai. Ora, na bíblia, encontramos inúmeros fatos nos quais Nosso Senhor distribui seu perdão prodigamente. Entretanto, em se tratando do Templo, não há diálogo nem transigências! Nesses casos, Aquele que é a Bondade por excelência, manifesta uma outra faceta de sua Divina Alma, a Justiça, e não deixa nada passar impune.
Ora, se isso foi assim com o Templo, que era uma pré-figura de sua Igreja, qual não será sua atitude em relação a seu Corpo Místico? Por isso, nos perguntamos: quando Nosso Senhor voltar, e se deparar com a lamentável situação a que reduziram sua Esposa Mística, será que deixará pedra sobre pedra?
Uma coisa é certa, a Igreja é imortal. Façam o que quiserem, inclusive desfigurando-A, Ela sempre estará reluzindo em algum lugar. Quanto a nós, cabe procurarmos, nos dias atuais, onde a Santa Igreja manifesta seus esplendores, e rejeitar, do mais fundo da alma, a tudo aquilo que procura denegri-la.
Por Guilherme Maia
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