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Pentecostes: esperança para o século XXI

A imediata e radical mudança interior dos Apóstolos no dia de Pentecostes, há dois mil anos, deita fachos de luz nas obscuras perspectivas de um século que parece voltar as costas a Deus.

Pentecostes - Catedral de Valência (Espanha) - Foto: Sergio Hollmann

Pentecostes – Catedral de Valência (Espanha) – Foto: Sergio Hollmann

Redação (19/05/2024 08:13, Gaudium Press) A Solenidade de Pentecostes, na qual celebramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, é uma das festividades mais importantes do calendário litúrgico. Este acontecimento conferiu maturidade à Igreja, pois até então ela repousava nas mãos da Santíssima Virgem, como criança. E assim como Maria estivera presente no Calvário, aos pés da Cruz, enquanto Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Cenáculo Ela estava como Mãe do Corpo Místico de Cristo. Mãe da Cabeça no Calvário, Mãe do Corpo no Cenáculo, Ela queria que esta Igreja recém-nascida crescesse e se desenvolvesse, a fim de tornar-se apta a exercer sua missão evangelizadora.

Naquele dia de Pentecostes, Nossa Senhora pôde ver como este amadurecimento se deu num instante, quando Se derramou o Espírito Santo em línguas de fogo, primeiro sobre Ela e, depois, a partir d’Ela para todos os Apóstolos, discípulos e santas mulheres que ali se encontravam em grande número. A partir daí a Igreja passou a ter mais efusão de santidade, de dons e de graça, e foi instituída na prática, no que se refere à sua ação externa, potência e expansão. O Cenáculo é o começo do assombroso crescimento da Igreja, uma verdadeira explosão evangelizadora.

A respeito deste grandioso acontecimento, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Apesar de tudo quanto Nosso Senhor até então fizera pela Igreja, poder-se-ia de algum modo dizer — não quero fazer uma comparação exata — que a Igreja era, antes de Pentecostes, um boneco de barro, que recebeu de Deus um sopro de vida em Pentecostes, com o Divino Espírito Santo. Ali tudo mudou, tudo passou a viver e tudo passou a pegar fogo no mundo, a contagiar o mundo, até o apogeu dos dias de hoje, em que o Evangelho é pregado a todos os povos”.[1]

Mudança instantânea e completa

É evidente que, já antes, os Apóstolos estavam na graça de Deus, como testemunha o episódio ocorrido no lava-pés, durante a Santa Ceia, quando São Pedro manifestou resistência e o Divino Mestre o admoestou: “‘Se Eu não os lavar, não terás parte comigo’. Exclamou então Simão Pedro: ‘Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça’. Disse-lhe Jesus: ‘Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros’” (Jo 13,8-10). Entretanto, a presença divina tem graus; condição altíssima é o estado de graça, porém, é melhor ter o Espírito Santo na alma de uma maneira tão atuante que ela seja cumulada de sabedoria e de discernimento.

Tal foi o transbordamento de sobrenatural que se verificou em Pentecostes que podemos comprovar pela diferença dos Apóstolos depois da vinda do Espírito Santo: eles se tornaram outros; decerto, até a fisionomia se transformou, começaram a se exprimir numa linguagem mais elevada, os gestos devem ter mudado… Por quê? Porque algo se havia operado no fundo de suas almas e, uma vez que a alma é a forma do corpo,[2] é indubitável que esta repercussão se tenha feito sentir em suas feições. Também alcançaram ciência e compreensão, como no passado não possuíam, conforme Nosso Senhor lhes anunciara: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14,26). Receberam, ainda, os dons de profecia, de fazer milagres e o das línguas, pelo qual falavam no seu idioma e todos os que os ouviam entendiam no próprio!

O impulso imprescindível para a expansão da Igreja

Vemos ali uma infusão de graças, totalmente sui generis, que deu início a uma nova etapa para a Igreja, pois, para os Apóstolos e discípulos exercerem a missão de pregar o Evangelho e administrar os Sacramentos de modo que a face da Terra fosse penetrada pela Boa-nova, era indispensável serem confirmados na fé e pervadidos por uma plenitude, um ímpeto de amor. Eles foram inflamados, como bem o simbolizam as línguas de fogo! A língua é sinal de comunicação e interlocução, mas, neste caso, elas eram de fogo porque vinham aquecidas e cheias de luz, isto é, prenunciando que as palavras deles comoveriam. A tal ponto que, ao sair dali, São Pedro fez um eloquente sermão, em virtude do qual três mil pessoas se converteram e foram batizadas (cf. At 2,41).

Eis uma rápida síntese de tudo quanto o Espírito Santo trouxe à Igreja nascente naquela ocasião insuperável. Contudo, ao celebrar este acontecimento, podemos cair no engano de considerá-lo um episódio longínquo, meramente histórico, sem qualquer relação conosco. Acaso Pentecostes não deita seu abundante fulgor também em nossos dias?

Pentecostes em nossos dias?

O grande santo mariano, São Luís Maria Grignion de Montfort, é quem prognostica uma era histórica na qual as almas quererão praticar a virtude de uma maneira extraordinária. De onde virá esta força? “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da Terra toda a face renovai”, é o que pedimos há dois mil anos e o que cantamos no Salmo Responsorial (cf. Sl 103,30). Sim, tudo pode ser renovado, nós podemos ser completamente mudados como o foram os discípulos! Então participaremos, de forma singular, da descida do Espírito Santo sobre Maria Santíssima e os Apóstolos, que hoje celebramos. Devemos nos firmar na fé de que para Deus nada é impossível e Ele está reservando suas mais especiais graças para esta fase da História chamada por tantos Santos de últimos tempos.[3]

“Acontecerá particularmente no fim do mundo e, logo, porque o Altíssimo com sua Santa Mãe devem formar grandes Santos que ultrapassarão tanto em santidade a maioria dos outros Santos, quanto os cedros do Líbano suplantam os pequenos arbustos. […] Eles serão pequenos e pobres segundo o mundo […]; mas, pelo contrário, serão ricos em graça de Deus, que Maria lhes distribuirá abundantemente; grandes e eminentes em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura por seu zelo animoso, e tão fortemente apoiados pelo socorro divino que, com a humildade de seu calcanhar e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e farão triunfar Jesus Cristo”.[4]

A humanidade tem uma necessidade vital dessa efusão do Divino Espírito Santo. E esta é a razão de nos reunirmos ardorosamente em torno do altar, para pedir à Mãe das mães, Àquela a cujo amor todos nós fomos entregues pelo Filho no alto da Cruz (cf. Jo 19,26-27), que, enquanto Mãe do Corpo Místico, obtenha de seu Divino Esposo graças de maior fervor, de maior consolo, de maior piedade, de maior força para enfrentarmos todos os males, e que venha sem tardar o Paráclito e a face da Terra seja renovada!

Extraído, com adaptações de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 3, p. 393-405.


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 6 jun. 1978.

[2] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q. 76, a. 1

[3] Cf. LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n. 55-59. In: Œuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p. 520-522.

[4] Idem, n. 47; 54, p. 512-513; 519.

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