Pelo menos… é batizado!
Todos podem receber a mais alta das recompensas. De onde vem tão inapreciável benefício?
Redação (23/09/2020 11:17, Gaudium Press) Há poucos dias, encontrava-me rezando o Rosário em uma igreja, quando, sem me dar conta, interrompi a oração para analisar um personagem que acabava de entrar.
Pobremente vestido, seu andar e seu rosto denotavam um homem maltratado pelos anos e por duros sofrimentos. Tudo nele indicava o que no mundo de hoje se chama um “fracassado na vida”, ou, em outros termos, um “João Ninguém”: sem dinheiro, sem saúde, sem prestígio, talvez sem amigos.
Tomado de compaixão pelo pobre homem, notei com alegria que, ao passar diante do Tabernáculo, dobrou ele um dos joelhos e fez pausadamente o sinal-da-cruz. Pensei com meus botões: “Pelo menos é batizado, tem fé, é um membro da Santa Igreja”.
E mal terminei essa cogitação, dei-me conta do paradoxo nela inserido: “Pelo menos…é batizado!!!”
Quando, certo dia, um sacerdote derramou água sobre a cabeça deste pobre João Ninguém e disse: “Eu te batizo, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, algo de muito especial aconteceu na sua alma. As três divinas pessoas da Santíssima Trindade passaram a habitá-la. Tornou-se possível para ele crer nas verdades da Santa Igreja, esperar a recompensa demasiadamente grande do Céu e amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Viu-se ele transformado em filho adotivo do Rei do Universo e herdeiro de seu maravilhoso Reino. Ficou limpo da terrível culpa de nossos primeiros pais, o pecado original, e abriram-se para ele as portas do Céu.
Sim, por efeito do Batismo, todo João Ninguém é elevado a um nível que nem o governante mais poderoso, o gênio mais brilhante, o filósofo mais erudito poderiam alcançar por sua própria natureza e méritos.
E a pessoa não-batizada, em que situação está?
Imaginemos um lindo passarinho que, entretanto, nasceu aleijado e — coitadinho! — nunca levantou voo. Andou pelos campos e quiçá até traçou um caminho reto… Mas se não voar, que será ele em relação às outras aves? O infortúnio desse pássaro imaginário é semelhante ao do homem não-batizado. Tal como a ave incapaz de voar, ele tem sua finalidade truncada, ainda que levando uma vida direita. Pois não possui as asas da Fé, Esperança e Caridade para cumprir a finalidade de todo ser humano, isto é, “conhecer, amar e servir a Deus e mediante isto salvar sua alma”, conforme nos ensina Santo Inácio.
Mas, poderíamos pensar, o que fez esse João Ninguém para merecer tal glória? Não haveria outros que mereceriam mais? Esta é uma pergunta baseada exclusivamente nos critérios humanos. Ninguém recebe a graça do Batismo por merecimento próprio, mas sim pelos méritos infinitos de Jesus que nasceu de Maria Virgem, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos e foi crucificado para nos redimir. Quando na Cruz Ele, “inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19, 30), conquistou para João Ninguém e para a humanidade inteira essa graça incomensurável.
Após estas reflexões sobre a grandeza de todo “pobre” João Ninguém, tabernáculo da Santíssima Trindade, ofereci o resto do meu Rosário para agradecer o dom imenso do Batismo, não só a Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também a Maria, sua Mãe Santíssima, pois Ela deu seu consentimento para que seu Filho Divino morresse por nós, e contribuiu com suas lágrimas para resgatar todos os João Ninguém que passam despercebidos diante dos “grandes” do mundo.
Texto extraído da revista Arautos do Evangelho n.26 fevereiro 2004. Pe. Ignacio Montojo,EP
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