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Pedro é mortal?

Muitas vezes é preciso ensinar sobre o que não se quer ver…

Vanitas Still Life by Giovanni Francesco Barbieri

Redação (26/11/2020 09:36, Gaudium Press) Conta-se que, certa vez, Alexandre Magno encontrou Diógenes remexendo uma pilha de ossos humanos. Com um fêmur na mão, o filósofo revirava crânio por crânio, observando atentamente cada um. Curioso, o conquistador indagou: “O que fazes, Diógenes?”. Ao que respondeu o pensador: “Procuro o crânio de teu pai, o rei Felipe. Mas não consigo reconhecê-lo”.

A moral da anedota é clara: depois da morte todos somos iguais. Rei ou plebeu, rico ou pobre, trabalhador ou preguiçoso, inteligente ou incapacitado, a morte nos coloca a todos em pé de igualdade. Todavia, esse discurso que faria o prato de tantos pregadores contemporâneos – mais ecônomos e politizados que religiosos – é superficial.

Hoje em dia, em primeiro lugar, é necessário recordar ao homem que ele morre. Apesar de cotidianamente nós nos depararmos com esse fenômeno, recusamo-nos a pensar nele, preferimos viver como se ele não existisse, e acabamos cometendo o disparate de crer que somos imortais ou de agir como se o fôssemos. Assim, nessa tentativa desesperada de maquiar e disfarçar a morte, a linguagem criou incontáveis eufemismos: “dormiu”, “partiu”, “viajou”, “bateu as botas”, “se foi”. E se, por um absurdo, nos fosse dado arrancar do silogismo clássico a segunda premissa – “Todo homem é mortal” – fá-lo-íamos sem hesitar.

Entretanto, tudo ao nosso redor parece indicar que um dia morreremos: as folhas das árvores secam e caem; as flores murcham; as frutas apodrecem; os animais morrem; nós envelhecemos, adoecemos e… sumimos. “Todo movimento tende ao repouso”, reza um antigo princípio filosófico e ao qual devemos acrescentar outro: “é próprio da matéria se decompor”. Sim, os cadáveres se decompõem, e, ao cabo de alguns anos, todos nós poderemos ser remexidos por algum Diógenes.

Verdade terrível que nos causa horror, mas que precisa ser dita: eu morrerei.

A segunda conclusão que tiramos da anedota também faz parte das evidências que precisam ser recordadas com frequência: mortos, não levaremos nada conosco. Claro, “caixão não tem gaveta e mortalha não tem bolso”. Quantas vezes, porém, isso é esquecido… Tão esquecido que passamos a vida a acumular bens e dinheiro, os quais terminam, invariavelmente, nas mãos de outros. Com o óbito, cessam as amizades, terminam as relações e acabam as famas, porque não houve ainda quem criasse uma “rede social” para defuntos. Para o túmulo não levamos nada.

Mas tudo isso nos assusta. Essas palavras penetram desagradavelmente no nosso aparelho auditivo, e giram sem cessar em nossa consciência, causando-nos uma sensação de mal-estar e vazio, aos quais, em termos de psicologia, chamamos de remorso.

Faz bem pensar na morte. A Igreja, qual terna mãe, não faz isso para aterrorizar seus filhos. Pelo contrário, ela age com carinho, falando da morte a fim de nos preparar para esse momento supremo, diante do qual todo homem é grande. A morte é um castigo merecido pela falta de Adão, mas é também a hora do encontro com Deus, o começo da verdadeira vida, da qual o cristão é herdeiro quando se comporta como tal, com o auxílio de Maria Santíssima.

Para o católico, a morte não deve ser causa de amargura ou de desespero, e sim de seriedade, de serenidade, de esperança. Tudo ficará nesta terra, é verdade. Contudo, nada se compara à felicidade que teremos na posse do Céu.

A Igreja possui o “Munus Sanctificandi”, e não o “munus economizandi” ou o “munus socializandi”. Por isso, aos Ministros de Deus cabe falar dos bens eternos. Cabe falar da morte, diante da qual, ninguém se iluda, todos compareceremos um dia.

Por Paulo da Cruz

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