Padres, usem ao menos o cabeção!
Que o presbítero seja reconhecido pela comunidade, também pelo hábito que traz como sinal inequívoco da sua dedicação e da identidade de detentor de um ministério público.
Redação (28/01/2021 10:06, Gaudium Press) Antes de mais nada, esclareço que “cabeção” é a palavra portuguesa para o que inadequadamente se convencionou chamar de “clergyman”, vocábulo inglês que significa “clérigo”. O cabeção, em suma, é o colarinho eclesiástico, ou seja, uma gola branca, adaptada à camisa, em volta do pescoço do sacerdote. Dispomos de um termo em nossa língua. Empreguemo-lo! Não há mister recorrer ao glossário alienígena. Não nos humilhemos!
Traduzo o cânon 284 do código latino: “Os clérigos usem hábito eclesiástico decoroso, de acordo com as normas da conferência episcopal e com os legítimos costumes locais.” A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) regulamentou esse cânon, dispondo que os clérigos têm de usar “um traje eclesiástico digno e simples, de preferência o clergyman ou a batina.” (Legislação Complementar). Infelizmente, deslembrou-se do nosso castigadíssimo vocábulo cabeção.
Parece apodítico que ao direito eclesial repugna a ideia do padre ou do bispo vestido como leigo. Daí o valor do cabeção, o qual “distingue claramente os sacerdotes dos leigos e dá a entender o caráter sagrado do seu ministério, recordando ao próprio presbítero que, sempre e em qualquer momento, é sacerdote (…)” (Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, n.º 61). Com efeito, preceitua também o mesmo diretório: “Numa sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero – homem de Deus, dispensador dos seus mistérios – seja reconhecido pela comunidade, também pelo hábito que traz como sinal inequívoco da sua dedicação e da identidade de detentor de um ministério público.”(n.º 61).
Discursava Bento XVI, o papa emérito, aos participantes de um congresso teológico realizado em 2010, na Cidade Eterna: “No modo de pensar, falar, julgar os acontecimentos do mundo, servir e amar, e de se relacionar com as pessoas, também no hábito [por exemplo: cabeção], o presbítero deve haurir força profética da sua pertença sacramental.”
Remato este artigo, dando um testemunho. Na Igreja particular onde resido, a Diocese de Santo Amaro, uma das cinco dioceses localizadas no município de São Paulo, a esmagadora maioria dos padres usa o cabeção. Alguns até trajam veste talar, isto é, batina (assista ao vídeo abaixo). Cumprimento-os por terem a coragem de cumprir a lei canônica. Outrossim, cumprimento os diletos padres dos Arautos do Evangelho, que ostentam finíssimo hábito talar, porquanto compreenderam o espírito benfazejo da norma canônica, já que a veste eclesiástica é “um sinal exterior de uma realidade interior da alma do homem de Deus” (Diretório acima referido, n.º 61).
Edson Luiz Sampel
Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (da Arquidiocese de São Paulo)
Breve documentário sobre o valor da batina:
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