Gaudium news > Os médicos questionam: como está a medula óssea do Papa, ele tem secreção de muco após 15 dias e os antibióticos fazem efeito?

Os médicos questionam: como está a medula óssea do Papa, ele tem secreção de muco após 15 dias e os antibióticos fazem efeito?

O Dr. José Manuel Viudes, pneumologista e gerontologista, dá sua opinião sobre o que se sabe a respeito da condição do Pontífice. “São muitas batalhas para um corpo que está inflamado”.

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Redação (06/03/2025 18:33, Gaudium Press) Há três semanas que o Papa está hospitalizado, e os comunicados matutinos da Sala de Imprensa do Vaticano se repetem, quase sempre iguais (A noite foi tranquila, o Papa ainda está em repouso, conforme o comunicado de hoje). Devido à escassez de informações médicas provenientes do décimo andar da policlínica Gemelli, os meios de comunicação estão recorrendo a médicos particulares conhecidos.

Por exemplo, o site de notícias Religión En Libertad, escreve: “Como está realmente o Papa?”. Esta é uma questão para a qual José Manuel Viudes, um pneumologista e gerontologista argentino, entrevistado pelo canal A24 de seu país, procura responder com base nas informações dos relatórios médicos que estão sendo divulgados sobre a saúde do Papa.

“O que lamentavelmente vemos neste momento é que o Papa, a cada dia internado, reduz sua capacidade corporal e sua massa muscular em 3% e, nessa proporção, aumenta a inflamação de que falamos no primeiro dia. Essa inflamação consome toda a sua energia e seus órgãos, que são cada vez mais insuficientes para resolver esse problema”, alerta o médico.

A respeito da intervenção que teve de ser realizada no Pontífice há alguns dias, para remover uma grande secreção interna de muco, o Dr. Viudes expressa preocupação: “A situação nova que aconteceu, que é muito marcante e a que mais me preocupa, é que nessa fase não se esperava que ele tivesse tantas secreções. Porque a pneumonia começou há duas semanas, e a maioria das pneumonias se resolve depois de duas semanas, período em que normalmente há uma secreção mínima. Mas, há alguns dias, o fluido gástrico foi para o pulmão – chamado de broncoaspiração – e isso causa uma nova pneumonia. Infelizmente, é uma pneumonia química, ou seja, o ácido gástrico é muito prejudicial aos pulmões e produz muitas secreções. Acho que foi isso que aconteceu, e é isso que o relatório não diz.

Os relatórios do Vaticano podem ser interpretados como indicando que a absorção de fluidos gástricos em seus pulmões não teve sequelas, mas isso não está afirmado categoricamente.  O Dr. Viudes frisa que, se os fluidos gástricos aumentaram a pneumonia, “ é preciso voltar a aplicar novos antibióticos, porque os germes que ele tinha no estômago são muito tóxicos quando chegam aos pulmões, são germes intra-hospitalares, porque ele já está lá há mais de duas semanas. Ele começou com antibióticos para germes que estavam fora do hospital e agora está tomando antibióticos para germes intra-hospitalares. O ácido gástrico aumentou as secreções em um homem que está muito fatigado metabolicamente e do ponto de vista inflamatório. O que vemos hoje é um paciente em estado crítico que é muito mais difícil de reabilitar a cada dia que passa; a cada dia que passa ele perde 3% de sua capacidade”, observa o médico.

Os antibióticos estão surtindo efeito?

O pneumologista Viudes diz que há também o risco de que os próprios antibióticos estejam perdendo a eficácia.

“O problema não é a quantidade de tempo que o corpo pode suportar, mas que está se tornando resistente e é cada vez mais difícil encontrar o antibiótico certo. Repare que o rim dele falhou e uma das causas foi o fato de ele tem que purificar o antibiótico por muito tempo, o que faz com que o rim sofra, o fígado sofra… É um problema de longo prazo, e já estamos no longo prazo, já passamos duas semanas tomando antibióticos, isso é muito tempo”, explica.

Sobre o nível de glóbulos brancos, ao qual os comunicados da Sala de Imprensa fizeram alusão, o Dr. Viudes também levantou dúvidas:

“Sabemos que a recuperação desses pacientes levará pelo menos duas semanas, mesmo que o relatório seja otimista. Uma coisa que me preocupa é que o relatório diz que os glóbulos brancos estão baixos, como se isso fosse uma boa notícia. Isso tem um duplo sentido. Em um corpo normal, ele deveria ter glóbulos brancos em altas concentrações porque está travando uma batalha, os glóbulos brancos são os bombeiros que vão trabalhar lá para tentar combater a infecção, e ele toma corticoides, que também aumentam os glóbulos brancos. O fato de eles estarem baixos… Não sei se isso me deixa tranquilo. Pensando bem, seria que ele está melhor, mas se você pensar mal, a medula óssea, que produz os glóbulos brancos e vermelhos – que já falhou, e é por isso que ele fez transfusões – pode ser que não esteja.

Com relação à terapia de oxigenação do Papa, o pneumologista Viudes fala sobre os vários tipos existentes:

“A ventilação mecânica não invasiva é algo que está sendo feito com muito bom critério, utilizando-se todos os meios possíveis para que o Papa não acabe conectado a um respirador, pois seria um fracasso terapêutico um paciente de 88 anos acabar em um respirador. A partir daí, seria muito difícil tirá-lo do respirador, e o paciente ficaria sem massa muscular e sem capacidade aeróbica. A ventilação não invasiva é uma máscara que colocamos no paciente e que lhe dá muita pressão. Ela abre as áreas que não são ventiladas.

“O ácido gástrico causa muita irritação e faz com que o pulmão, assim como o olho quando uma sujeirinha cai nele, se feche abruptamente. O pulmão se fecha nessa área irritada pelo ácido gástrico, e a ventilação não invasiva, com pressão positiva, faz com que essa área se abra, dilate, traga oxigênio e ventile essa área”, acrescenta.

“Você pode ver que começamos com oxigênio comum, depois adicionamos alto fluxo de oxigênio e agora temos que adicionar um segundo turbo, que é a ventilação invasiva. Em outras palavras, estamos usando cada vez mais ferramentas, e isso significa que o Papa é um homem forte que está saindo de todas elas, mas já são muitas batalhas para um corpo que está inflamado, e não apenas agora, mas nos últimos cinco anos”, conclui.

Francesco Blasi, professor de doenças respiratórias da Universidade de Milão, ressalta que “parece que ainda há muita inflamação pulmonar, e o Papa produz muito muco que obstrui as vias aéreas. Estamos em uma situação bastante grave, tanto que o prognóstico continua reservado”. Blasi diz que “se ele melhorar, o que não está descartado, a permanência no hospital não pode ser inferior a duas semanas e, nesse caso, será necessário pelo menos um mês de convalescença. Então, ficaria excluída qualquer atividade que pudesse envolvê-lo fisicamente por dois ou três meses”.

Por sua vez, o jornal Il Messaggero começou a entrevista com o Dr. Massimo Andreoni com a pergunta: “Como está o Papa Francisco? Do que ele está sofrendo?

O Dr. Andreoni respondeu que “as crises respiratórias agudas sugerem que ele está sofrendo de uma pneumopatia subjacente, ou seja, uma condição na qual as estruturas fundamentais dos pulmões estão danificadas, mesmo que o risco de resistência a antibióticos seja muito alto e ainda mais aumentado pela longa permanência no hospital”. O Dr. Andreoni insiste na possibilidade de que já exista resistência aos antibióticos.

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