Os Congressos Eucarísticos e a paz social
Nada tem o valor daquele minúsculo disco branco de pão de trigo consagrado que vemos na custódia, o mesmo Deus feito alimento restaurador e remédio de imortalidade. Diga-se aqui algo muito triste e evidente: a Eucaristia é o remédio ignorado na atual pandemia…
Redação (07/06/2021 14:13, Gaudium Press) Apresento aos amáveis leitores alguns parágrafos de um artigo eucarístico do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicado em 14/10/1934 no “O Legionário”, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo, do qual o autor foi fundador e diretor. O tempo que nos separa da publicação deste escrito em nada diminui a atualidade de suas reflexões.
O referido artigo veio à luz a propósito do encerramento do XXXII Congresso Eucarístico Internacional realizado em Buenos Aires em 1934, que, pela magnitude do público que compareceu aos eventos públicos, foi o acontecimento de massas mais importante da Argentina até hoje. Eram outros tempos…
Hoje é a vez da cidade húngara de Budapeste, uma das mais belas capitais da Europa, ser sede de um novo grande evento eucarístico; sob os auspícios do Cardeal Peter Erdô, Arcebispo de Budapeste, em setembro será realizado o Congresso Eucarístico Internacional onde estará presente nossa Federação.
É sempre importante preservar a paz social. As boas relações entre as nações e a harmonia dentro de cada uma delas é uma preocupação primordial em tempos de tensões armadas – o que, aliás, não faltam nestes tempos – e também a vista de desordens e agitações nas ruas motivada pelo descontentamento social, é também a ordem do dia. Enquanto fervia o caldo que daria origem à II Guerra Mundial, o Dr. Plinio apontava o culto eucarístico como caminho privilegiado para obter a paz, que, nas palavras de Santo Agostinho, nada mais é do que “a tranquilidade na ordem”.
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Não é difícil encontrar relação entre os Congressos Eucarísticos e a paz social. As guerras são sempre fruto de paixões exacerbadas. E, como entre os indivíduos, a virtude das partes domina os ímpetos do amor-próprio e conserva em harmonia as relações recíprocas, também entre as nações é necessário que reine a virtude cristã que impeça os excessos das paixões nacionais.
Ora, para tanto, muito concorrem os Congressos Eucarísticos. Primeiramente, porque neles há uma consagração da realeza transcendente de Nosso Senhor Jesus Cristo. Reúnem-se representantes dos mais diversos países para, prostrados, reconhecer a soberania suprema do Rei dos reis, de quem procede todo o poder na Terra. Este espetáculo não pode deixar de impressionar os soberanos deste mundo (…) sentirão a precariedade de sua soberania, perceberão que sua autoridade não é absoluta ou ilimitada, mas que deve curvar-se diante de outra mais excelsa a que peça normas por que se regular (…).
Depois, os Congressos Eucarísticos favorecem um conhecimento mais profundo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele já não aparece apenas como o Redentor que uma vez se sacrificou pelos homens para merecer-lhes uma coroa de glória na vida de além-túmulo. Sua vida eucarística, perpetuando o sacrifício, convida os homens a uma reflexão sobre a perenidade de sua paixão, os motivos que a determinam, seu influxo diuturno nas almas. E vem à luz a vida da graça, a vida estabelecida por Nosso Senhor, como uma realidade que deve ser vivida e intensamente. Daí os frutos mais ocultos, que amadurecem no íntimo dos corações: a reforma dos indivíduos.
Uma vida na qual a religião não é um acréscimo acidental, mas o móvel único que da vitalidade sobrenatural a todas as ações do indivíduo, um revestimento de Cristo, na frase de São Paulo.
Não se diga que, todos espirituais, estes frutos, na sociedade são valores somenos. Absolutamente. Não é possível uma separação real entre os indivíduos e a sociedade. Não há uma sociedade abstrata à qual se apliquem normas e reformas sem considerar os homens que a compõem. Estes são sempre os membros daquela na qual ingressam, todo inteiro, corpo e alma, vícios e virtudes que porventura possuam. E como os vícios concorrem para a desordem e intranqüilidade, as virtudes são elementos de ordem e de paz.
A paz social depende, pois, e muito, da paz interna de seus membros. Esta só se obterá quando se compenetrem os homens de sua finalidade extraterrena, sobrenatural, e saibam que ela se subordina ao cumprimento exato de seus deveres para com Deus e para com o próximo. Tal compreensão proporcionam os ensinamentos de Nosso Senhor; executá-la facilitam os exemplos de Nosso Senhor: uma e outra coisa se obtêm nos Congressos Eucarísticos (…). Realmente a paz de Cristo só se pode obter com o reinado de Cristo nos indivíduos e na sociedade.
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Quando os fiéis compreenderem sua finalidade sobrenatural e começarem a cumprir seus deveres para com Deus e para com o próximo, as coisas serão diferentes! Entre os deveres a serem assumidos, um prima: o culto ao Santíssimo Sacramento do Altar.
Embalada pelas águas do Danúbio, Budapeste se enriquecerá com a maravilhosa experiência de ver o divino Prisioneiro do tabernáculo, reconhecido e festejado em suas igrejas, ruas e praças. Muitos monumentos da cidade evocam páginas gloriosas de sua história, seja de júbilo, seja de dor; alguns foram declarados Patrimônio da Humanidade. Mas nada tem o valor daquele minúsculo disco branco de pão de trigo consagrado que vemos na custódia, o mesmo Deus feito alimento restaurador e remédio de imortalidade. Diga-se aqui algo muito triste e evidente: a Eucaristia é o remédio ignorado na atual pandemia…
Que Santo Estêvão, primeiro Rei magiar e santo fundador da Hungria, cujo milênio estamos celebrando, e o Beato Carlos IV de Habsburgo, último Rei Apostólico desse nobre povo, intercedam do céu para que o Congresso Eucarístico Internacional seja uma ocasião de grande graças e contribua para o estabelecimento da “tranquilidade da ordem” na nação húngara, em toda a terra.
Mairiporã, junho de 2021.
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
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