Os comunistas não comem criancinhas…
Não, os comunistas não comiam criancinhas, eles faziam muito pior do que isso, eles as deturpavam, corrompiam e doutrinavam, transformando-as em criaturas sem Deus.
Redação (08/12/2022 11:04, Gaudium Press) Os comunistas não comem criancinhas, mas levaram milhares de pessoas a fazê-lo. Os comunistas não comem criancinhas, mas mataram bispos, religiosos e civis que se opuseram ao regime totalitário ofertado ao mundo como o paraíso na terra: um mundo sem desigualdade e sem exploração, mas também sem a garantia dos direitos fundamentais, como a liberdade religiosa, a liberdade de expressão, o direito à propriedade e o acesso à comida. Cerca de 20 milhões de ‘opositores’ foram assassinados.
Porém a afirmação de que comunistas comiam criancinhas, cuja negativa é usada ironicamente pelos simpatizantes deste regime – embora hoje travestido com outras denominações e até desprovido de qualquer denominação – não é fruto de um delírio de opositores dele.
Canibalismo
Podemos citar vários historiadores, entre os quais o britânico Orlando Figes, na obra A tragédia de um Povo: A Revolução Russa: 1891 – 1924, na qual ele narra o desespero de mães que, para alimentar seus filhos, decepavam os membros de cadáveres e ferviam a carne; as pessoas alimentavam-se dos seus próprios parentes e, com frequência, até mesmo dos bebês: “A fome transformou as pessoas em canibais. Um homem condenado, após ter devorado várias crianças, confessou: ‘Em nossa aldeia, todos consomem carne humana, mas não revelam que o fazem’”.
O historiador russo, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1970, Aleksandr Solzhenitsyn (1918-2008), relembra a tragédia na obra O Arquipélago Gulag: “Aquela fome horrível levou ao canibalismo, ao consumo de crianças por seus próprios pais.”
E sobre o evento que ficou conhecido como Holodomor, causado pelas políticas stalinistas de coletivização das fazendas da Ucrânia, o confisco de grãos e gado, e o impedimento dos camponeses de deixarem as áreas de fome à procura de alimento, levando à morte aproximadamente 4 milhões de ucranianos e outros milhões de soviéticos (1932-1933), a escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, relata vários casos de canibalismo como consequência direta da fome, no livro A Fome Vermelha: A guerra de Stalin na Ucrânia.
E estes são apenas alguns, entre muitos casos relatados em livros, por pesquisadores sérios. Dessa forma, podemos entender que os comunistas realmente não comiam criancinhas, eles exterminavam e enlouqueciam pessoas, levando-as a essa prática hedionda, no desespero pela sobrevivência.
Bem-aventurado Janos Scheffler
O dia em que escrevo este artigo marca os 70 anos da morte do Bem-aventurado Janos Scheffler, um bispo húngaro, que foi preso e torturado por sua oposição ao regime comunista, morrendo na prisão de Jilava, próximo à Bucareste, capital da Romênia, no dia 6 de dezembro de 1952.
Graduado em Direito Canônico e doutor em Ciências Teológicas, Janos Scheffler foi um dedicado professor de Teologia e um pastor zeloso dos fiéis da Diocese de Satu Mare, na Romênia. Ele exerceu o episcopado em plena II Guerra Mundial, quando sua diocese foi invadida pelo exército comunista. Finda a guerra, houve uma grande perseguição aos católicos e o próprio Estado começou a se envolver nas questões da Igreja, tentando formar uma fusão entre católicos e ortodoxos, separando a igreja local de Roma.
Dom Janos não se dobrou a tais exigências, mantendo-se fiel a Roma e defendendo os seus fiéis e a essência do catolicismo. Foi preso pela polícia secreta no dia 23 de maio de 1950, sendo, primeiro, condenado à prisão domiciliar; em seguida, foi levado para a prisão, onde permaneceu em condições desumanas.
Na manhã de 6 de dezembro de 1952, foi torturado com água fervente jogada sobre o seu corpo. Manteve-se firme interiormente, sem sucumbir à pressão, porém, a sua saúde precária e o corpo debilitado não resistiram e ele acabou morrendo.
O Papa Bento XVI confirmou que Dom Janos Scheffler foi morto “in odium fidei” (em ódio à fé) e aprovou a sua beatificação, que ocorreu no dia 3 de julho de 2011.
Sem religião
Tão logo se deu a Revolução Comunista na União Soviética, as primeiras providências dos líderes do novo regime foram a supressão da religião, a perseguição aos cristãos e o encorajamento do ateísmo. Era preciso destruir a religião para manipular o povo. Igrejas, mesquitas e sinagogas foram demolidas, líderes religiosos foram ridicularizados, perseguidos, presos, torturados e executados.
Mesmo após o aparente fracasso do regime comunista, que hoje sobrevive em apenas cinco países (China, Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba), muitas pessoas ainda alimentam a ideia romântica de que o que aconteceu na extinta União Soviética foi uma revolução feita pelo povo, quando, na realidade, foi um regime ideológico imposto ao povo com uma grande dose de violência, que provocou a morte de milhões de pessoas.
No entanto, não é verdade que os comunistas comiam criancinhas. Não, eles não comiam, eles faziam muito pior do que isso, eles as deturpavam, corrompiam, doutrinavam e transformavam em criaturas sem Deus, ensinando-as sobre os “erros e os malefícios” da religião e a “legitimidade e superioridade” do ateísmo.
Na foto, veem-se crianças em uma manifestação, no ano de 1929, com faixas que dizem: “Pais, não nos confundam, não façam árvores de Natal” e “Educar crianças através de professores, e não de Deus.”
Renunciar à fé
Os ateus foram convencidos de serem indivíduos politicamente mais astutos e virtuosos, uma crença que se espalhou pelo mundo e, ainda hoje é um recurso bastante utilizado para desacreditar os cristãos, tentando mostrar que a fé é um atributo das pessoas simplórias, sinônimo de ignorância, a despeito da enorme quantidade de mestres e doutores que há dentro da Igreja Católica, por exemplo. E, se, diante disso, o rótulo de ignorante não faz sentido, apela-se para o de “radical” e “conservador”.
Alguns cristãos que tentaram resistir à renúncia da fé chegaram a ser privados do pátrio poder sobre seus filhos e o governo realizou um expurgo em massa de intelectuais cristãos, a maioria dos quais morreram nos campos ou nas prisões. Essa medida visava fortalecer a propaganda oficial que afirmava que apenas as pessoas retrógradas acreditavam em Deus.
A penetração e o poder de cooptação e destruição da oposição, utilizado pelas ideologias de esquerda são muito fortes. Nos primeiros anos da revolução, a União Soviética, apesar de ter fechado igrejas, prendido, torturado e assassinado líderes religiosos, mantinha alguns locais destinados ao culto, mas fazia de tudo para desacreditar as pessoas que conservavam alguma espécie de fé, convencendo-as do mal que faziam a si mesmas, às suas famílias e ao regime, tentando levá-las a uma adesão espontânea ao ateísmo.
A capa de uma edição da Bezbozhnik (Sem Deus), uma revista que tinha como objetivo promover o ateísmo e a desvalorização da religião por meio de conteúdo satírico e humorístico, desenvolvida pela Liga dos Ateus Militantes, mostrava um operário despejando Jesus de um carrinho de mão, sugerindo a substituição do Dia da Transfiguração de Jesus pelo Dia da Industrialização. Bem, nem é preciso dizer que, por aqui, continuamos vendo muito desse “humor” na atualidade…
Eliminação dos religiosos
Um decreto de Lenin sobre a separação Igreja-Estado, no início de 1918, proibiu a Igreja de ensinar religião nas escolas públicas e privadas ou a qualquer grupo de menores de idade.
Igrejas, conventos e mosteiros foram fechados, propriedades foram confiscadas, cristãos foram enviados para campos de trabalho forçado ou para hospitais psiquiátricos, onde muitos foram submetidos a experimentos de controle da mente, a fim de forçá-los a desistir de suas convicções religiosas. Durante os primeiros anos do poder soviético, foram executados 28 bispos e cerca de 8 mil padres. Muitos outros foram presos ou exilados.
Em 1935, o número de sacerdotes presos passava de 130 mil, dos quais 95 mil foram executados e, até 1940, o número de igrejas na Rússia caiu de 29.584 para menos de 500. Catedrais magníficas foram demolidas. Documentos da Igreja registram que, entre 1937 e 1938, houve dois grandes expurgos e 168.300 clérigos ortodoxos foram presos. Destes, mais de 100 mil foram fuzilados.
Embora muitas pessoas mantivessem suas crenças privadamente, a campanha antirreligiosa e as táticas de terror do regime ateu tinham eliminado de maneira eficaz todas as formas públicas de expressão religiosa e reuniões de fiéis fora das paredes das poucas igrejas em que os serviços religiosos ainda eram realizados, sob a custódia do Estado. Em apenas duas décadas, a religião estava praticamente destruída no país que tinha tido uma vida e uma cultura profundamente cristãs, durante quase mil anos.
Fim do comunismo?
Com a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, muitos acreditaram que o comunismo estava morto e os próprios socialistas, tidos por muito tempo como uma versão light do comunismo, procuram dissociar-se da ancestral ideologia. O historiador Richard Pipes, autor de mais de duas dezenas de livros sobre o comunismo e a história da Rússia e da União Soviética, admite que “o ideal socialista é utópico e sempre sobrevive, pois as pessoas gostam de acreditar que é possível criar o mundo perfeito”.
O eminente pensador católico, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, em seu livro Revolução e Contrarrevolução, também se refere à “utopia marxista de um paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e ‘emancipada’ de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e em uma liberdade total da qual, entretanto, não decorresse qualquer desigualdade.”
Ele elucida que a Revolução gerou “toda uma cadeia de sistemas ideológicos, dos quais o comunismo é um deles.” E nos chama a atenção para a afirmação das pessoas que aparentam repúdio ao comunismo, mas defendem o socialismo, como algo politicamente correto e aceito:
“Assim, o socialismo repudia o comunismo, mas o admira em silêncio e tende para ele. […] O fracasso dos extremistas é, pois, apenas aparente. Eles colaboram indireta mas possantemente para a Revolução, atraindo paulatinamente para a realização de seus culposos e exacerbados devaneios a multidão incontável dos “prudentes”, dos “moderados” e dos medíocres.”
E eu ouso afirmar que não é com manifestações extremistas e desprovidas de sentido, eivadas de ações ridículas e desesperadas que o cristão deve lutar. O que nós, como católicos devemos fazer, é viver plenamente a nossa religião, ensinando-a aos nossos filhos desde a mais tenra idade. E precisamos estar atentos, deixar um pouco de lado nossas ocupações, entre elas o celular e as redes sociais, e prestar mais atenção ao que as nossas crianças aprendem nas escolas, ao que elas discutem com seus amigos, ao que elas leem, às músicas e programas que ouvem e assistem e aos seus jogos.
Permito-me ainda citar duas afirmações importantes do Dr. Plinio, a primeira delas é que: “Entre o comunismo, seita que contém em si a plenitude da Revolução, e a Igreja, não há conciliação possível.”; e a segunda: “Se todos os católicos fôssemos o que devemos ser, o Brasil seria hoje uma das mais admiráveis potências católicas nascidas ao longo dos vinte séculos de vida da Igreja.”
Guerra psicológica
O mais triste é quando pessoas ligadas ao poder, não importa de que lado estejam, usam a religião e o nome de Deus, não porque a praticam e acreditam nEle, mas só e exclusivamente para angariar vantagens, usando as pessoas cristãs como massa de manobra. Mais triste do que isso é os católicos verem e não compreenderem ou compreenderem e não levarem a sério.
Dr. Plinio deixa ainda muito claro que a atual instância da Revolução é a guerra psicológica: “Com efeito, a guerra psicológica visa a psique toda do homem, isto é, “trabalha-o” nas várias potências de sua alma, e em todas as fibras de sua mentalidade.”
E essa guerra psicológica conta hoje com um grande aliado: o próprio católico, que se deixa persuadir de que a prática da religião não é algo importante, que a Igreja “evoluiu” e que ficar rezando e frequentar os sacramentos com regularidade é para pessoas fracas e ignorantes. E, ingênuos e distraídos, como as mariposas em volta da luz, se ornam de modernidade e se mostram simpatizantes de ideologias ‘bonitinhas’, sem perceber que elas não passam de tentáculos de um apavorante monstro que finge estar adormecido, enquanto estende o seu domínio pelo mundo inteiro, sem guerra, sem violência e sem extermínio, porque já não encontra resistência.
Se já nos tornamos tão tíbios e tão incapazes de agir com bom senso e convicção, deveríamos ao menos agir dignamente, em respeito aos mártires vitimados por esse sistema que não só não morreu, como sequer adormeceu. Com efeito, ele continua vivo e atuante e, pior, com a nossa própria colaboração.
Se a memória dos mártires não for forte o bastante, tenhamos a dignidade de nos lembrarmos de que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu por nós numa cruz, e é contra Ele que o comunismo e as suas vertentes se arvoram. Eles não comem criancinhas, e nem precisam, pois nós mesmos as sacrificamos, com nossa indiferença e passiva aceitação da rede preparada para nos pescar.
E nada adiantaria ficarmos brigando e nos atacando se não escolhermos o Bem, Jesus Cristo. Seu quartel-general se chama Igreja Católica Apostólica Romana e é lá que devemos estar! Sem oração, o inimigo nadará de braçada.
Por Afonso Pessoa
Referências:
APPLEBAUM, Anne. A Fome Vermelha: A guerra de Stalin na Ucrânia. Rio de Janeiro: Record, 2019.
CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contrarrevolução. 4.ed. São Paulo: Artpress, 1998.
FIGES, Orlando. A tragédia de um Povo: A Revolução Russa: 1891 – 1924. Alfragide: Dom Quixote, 2017.
POSPIELOVSKY, Dimitry V. History Of Marxist-Leninist Atheism And Soviet Antireligious: A History Of Soviet Atheism In Theory And Practice And The Believer. v.1. Berlim: 1987.
SOLZHENITSYN, Aleksandr. O Arquipélago Gulag. São Paulo: Ed. Carambaia, 2019.
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