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O triunfo de Maria Santíssima

“Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn 3,15).

Foto: Gustavo Kralj/ Arautos do Evangelho

Foto: Gustavo Kralj/ Arautos do Evangelho

Redação (20/08/2023 16:38, Gaudium Press) A Santa Igreja celebra hoje a solenidade da Assunção de Nossa Senhora de corpo e alma à glória celeste.

Tão extraordinário fato é de crença católica desde os tempos apostólicos. Já documentos litúrgicos datados do século V demonstram que nessa época celebrava-se uma Missa especial em honra à Mãe de Deus por sua Assunção aos Céus.

Contudo, somente no ano de 1950 o Magistério pronunciou-se oficialmente sobre o fato. Na ocasião, Pio XII proclamou: “Declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado, que a imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, completado o curso da vida terrestre, foi assumida em corpo e alma na glória celeste”.[1]

Maria não podia conter mais graça

Ao declarar o dogma da Assunção, Pio XII não mencionou se Nossa Senhora sofreu ou não a morte antes de ascender aos Céus. O Magistério da Igreja, até o presente momento, tampouco opinou sobre essa questão. O fato, porém, é que os teólogos divergem sobre o assunto.

Independentemente disso, “ensina a doutrina católica ser a caridade uma virtude que se radica na vontade.[2] Quando a caridade — que se caracteriza pelo amor a Deus e ao próximo — é muito forte, o amor impele quem ama a unir-se a quem é amado. Por isso, todo cristão, no dia do Juízo, deve apresentar seu progresso nesta virtude, por ser ela imprescindível para entrar no Céu.

Ora, houve alguém que partiu desta vida plena de amor a Deus: Nossa Senhora. Afirma Santo Alberto Magno que “mais obrigação tem de amar aquele a quem se dá mais. À Beatíssima Virgem foi dado mais do que a todas as criaturas; logo, estava obrigada a amar mais do que qualquer outra”.[3] E assim o fez – conclui o santo doutor.

N’ela, com efeito, a caridade intensificou-se de tal maneira que o corpo não mais podia sustentar a alma, e o desejo de contemplar a Deus face a face para unir-Se a Ele fez com que a alma de Maria Santíssima, ao subir, levasse também o corpo. A par disso, é certo que nela a graça, embora plena desde sua concepção, aumentou incessantemente ao longo da vida a ponto de não mais comportá-la quando ocorreu a Assunção.

Eis a maravilha de uma criatura humana que, de plenitude em plenitude, de perfeição em perfeição, havia chegado ao extremo limite de todas as medidas, até quase não existir diferença entre a sua compreensão do universo criado e a própria visão de Deus.

O que lhe faltava? Apenas a Assunção. Sua alma atingiu tal sublimidade e esplendor que o véu de separação entre a natureza humana e a visão beatífica tornou-se tênue, desfez-se e, sem necessidade de passar por qualquer julgamento, ela passou a contemplar a Deus na bem-aventurança. Em consequência, seu corpo tornou-se glorioso, e ela elevou-Se ao Céu.[4]

O triunfo da Santa Igreja

Maria Santíssima foi elevada aos Céus e assenta-se num trono de glória, mas cabe-lhe também a honra de ser a Mãe da Igreja.

Se sua vida nessa terra foi uma constante luta, a história de seus filhos, membros do Corpo Místico de Cristo, não poderia ser diferente. Não nos esqueçamos de que já no início da criação Deus estabeleceu inimizade entre a serpente e a mulher, entre a descendência dele e a dela. E fora profetizado que a Virgem esmagaria a cabeça de satanás, e este vil dragão haveria de lhe ferir o calcanhar (cf. Gn 1,15). Assim, tendo Ela sido elevada aos céus, somos chamados a continuar o combate iniciado por Ela, até o momento em que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés (cf. 1Cor 15,27).

Em nossos dias, na luta entre o Bem e o mal, uma vez mais Deus mostrará a força de seu braço, dispersando e derrubando do trono os soberbos, e elevando os humildes (cf. Lc 1,51-52), filhos e devotos da Santíssima Virgem.

Na presente fase histórica, palco de uma acentuada crise religiosa, a consideração da Assunção de Maria nos conclama a ter uma confiança inquebrantável no triunfo da Santa Igreja, mesmo quando ela esteja refugiada no deserto (cf. Ap 12,6) ou dormindo o sono de uma aparente morte; porque, como Nossa Senhora, após a sua “Dormição”, a Igreja será exaltada acima dos coros angélicos.

Por Guilherme Maia


[1] Cf. PIO XII. Constituição apostólica Munificentissimus Deus, 1 nov. 1950. (DH 3903). In: DENZINGER, Heinrich; HÜNERMANN, Peter (ed.). Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Trad. José Marino Luz; Johan Konings. São Paulo: Paulinas; Loyola, 2007, p. 866.

[2] Cf. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, II-II, q. 24, a. 1.

[3] ALBERTO MAGNO. Mariale. Q. XLVI, n. 1. Buenos Aires: Emecé, 1948, p. 235.

[4] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 7, p. 233-247.

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