O que é evangelizar?
O mandato de evangelizar nos convida a subir misticamente com Nosso Senhor à Pátria Eterna.
Redação (27/05/2021 11:18, Gaudium Press) O que entendemos por “anunciai o Evangelho”?
Sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo nada deixou escrito, nem sequer um bilhete, quando poderia ter redigido textos de extraordinário valor.
Que seria a obra de um Dante Alighieri, um Camões ou um Calderón de la Barca perto de sua divina literatura? Nos Evangelhos, consta que Ele só escreveu uma vez e sobre a areia (cf. Jo 8, 6.8), pois um de seus objetivos era constituir uma obra e, muito além de qualquer livro, ter modelos, tipos humanos para realizar uma ação direta, de pessoa a pessoa.
Foi o que Ele fez: fundou a Igreja, instituição imortal que se baseia muito mais no apostolado pessoal e na ação de presença do que numa produção intelectual.
É importante a doutrina, mas ela, de si, não é suficiente para converter as almas, porque “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (II Cor 3, 6). Logo, ela precisa ser difundida “pelo mundo inteiro”, mediante o invólucro do Evangelho, isto é, os princípios tornados vida.
Quem devemos evangelizar?
Mais ainda, São Marcos é o único dentre os evangelistas a afirmar que Nosso Senhor deu o mandato de levar a Boa-nova “a toda criatura”, o que abrange não só os homens, mas também os minerais, vegetais, animais e inclusive os Anjos.
À primeira vista julgaríamos que o Evangelho se destina apenas aos seres humanos, pois como pregá-lo, por exemplo, a uma grade, a um panorama ou a um bando de aves?
A universalidade do anúncio se prende a que tudo foi concebido em função do Homem-Deus. O Verbo é a causa eficiente, a causa exemplar e a causa final de toda a criação (cf. Col 1, 16-17). D’Ele parte e para Ele tem de voltar-se sua obra.
Deste modo, a nossa atuação, enquanto batizados, deve visar a disposição de todas as coisas tendo-O como centro. Pregar, então, o Evangelho a uma grade implica em fazê-la bela e ao mesmo tempo funcional, a fim de que dê glória a Deus pelo fato de existir.
Sacralizar
A beleza é um dos reflexos mais salientes e penetrantes da existência de Deus, e quem contempla algo esplendoroso facilmente se eleva até Ele.
Para levar o Evangelho a toda criatura é necessário abraçar a via pulchritudinis, um dos meios mais eficazes de propagar as maravilhas trazidas ao mundo por Cristo.
Isto significa sacralizar os gestos, o modo de se comportar ou de executar qualquer tarefa, desde cultivar a terra de maneira a obter frutos de aspecto atraente até erigir prédios de acordo com padrões inspirados no Evangelho. Numa palavra, é querer que a Terra se transforme num verdadeiro Paraíso.
Chamados a ser modelo para o próximo
Nós temos uma responsabilidade recebida no dia do Batismo: a de sermos verdadeiros apóstolos, pois não somos criaturas independentes da ordem do universo, mas “fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens” (I Cor 4, 9).
Vivemos em sociedade, num relacionamento constante com outras pessoas, com a nossa família e amigos, no ambiente de trabalho e onde nos movemos.
Por isso, tanto no lar como numa comunidade religiosa, acompanha-nos a obrigação seríssima, sublime e grandiosa de sermos modelo para os outros. Cada um é chamado a representar algo de Deus que não cabe a nenhuma outra criatura, seja ela Anjo ou homem.
Pregar o Evangelho não é só ensinar, é também dar bom exemplo, muito mais eloquente do que qualquer palavra.
Na vida religiosa ou no seio da família, todos devem procurar vencer suas más inclinações e edificar o próximo, buscando sua santificação.
De que valem as aflições terrenas sobre coisas transitórias? De que vale gozar os prazeres que o mundo pode oferecer? Acumular honras, aplausos, benefícios, e ao chegar a hora de partir deixar tudo, e apresentarmo-nos com as mãos vazias diante de Deus?
Esperança
Firmemos o propósito de abandonar todo e qualquer apego ao pecado que nos afaste deste objetivo e nos tire “a esperança que o seu chamamento vos dá, […] a riqueza da glória que está na vossa herança com os Santos”.
A este respeito, convém recordar o conselho de Santo Agostinho: “Devemos ter a esperança de que ressuscitaremos e ascenderemos ao Reino de Deus, e ali estaremos para sempre com Ele, numa vida sem fim, alegrando-nos sem nenhuma tristeza e vivendo sem qualquer enfermidade”.
Que a fé e a esperança alimentem a nossa alma no árduo caminho do cristão de nossos dias, e com esta chama sempre acesa enfrentaremos as adversidades.
O mandato de evangelizar nos convida a subir misticamente com Nosso Senhor à Pátria Eterna, para onde iremos em corpo e alma depois da ressurreição.
Peçamos por meio d’Aquela que foi assunta aos Céus, Maria Santíssima, que sejamos para lá conduzidos, celebrando exultantes este mistério.
Mons. João Clá Dias, EP.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 161, maio 2015.
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