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O mês de Maria

Em maio há três celebrações marianas profundamente enraizadas na piedade popular: Nossa Senhora de Fátima, Maria Auxiliadora e a Visitação de Maria à sua prima Santa Isabel.

Mes de Maria

Foto: Pixabay/Anna Sulencka.

Redação (23/05/2024 10:15, Gaudium Press) No hemisfério norte o mês de Maria corresponde ao mês de maio, enquanto no sul costuma ser comemorado em novembro e parte de dezembro. É uma pena que, hoje em dia, em muitos lugares de ambos os hemisférios já não se celebre com a piedade e o colorido de antigamente.

Quando dizemos “antigamente”, não pensamos na Idade Média ou em tempos tão distantes, pois em tempos posteriores ao último Concílio Vaticano vimos uma profusão de missas, festas, procissões, cantos, flores… “Vinde e vamos todos, com flores para Maria, com flores à porfia, ela é nossa Mãe”, se cantava com fervor.

Três datas marianas celebradas no mês de maio

Em todo o caso, em Maio há três datas marianas profundamente enraizadas na piedade popular: o 13 de maio, Nossa Senhora de Fátima; o dia 24, Maria Auxiliadora; e o dia 31, a Visitação de Maria à sua prima Santa Isabel, acontecimento que contemplamos no segundo mistério gozoso do Rosário.

Sabemos que todas as homenagens prestadas à Santíssima Virgem no seu mês – e em qualquer dia do ano – têm como motivação última o culto devido a Jesus Cristo, e, por Ele, ao Pai Eterno; é o caminho de toda oração.

Mas não se trata de homenagens nostálgicas aos que viveram há dois mil anos, mas antes um reconhecimento agradecido pela presença perene e atuante, tanto do Filho quanto da Mãe: Jesus oculto sob os véus eucarísticos; e Maria, dispensadora das graças que nos sustentam na profissão da nossa Fé.

A teologia nos ensina que Deus, ao dispôr desde toda a eternidade a encarnação do Verbo, predestinou a ambos em um mesmo desígnio. Devemos ter em mente esta proximidade tão íntima entre Ele e ela quando vamos à Missa, comungamos ou fazemos adoração. Sim, porque na Eucaristia está contida, se oferece e é comida, aquela mesma carne que Jesus Cristo Nosso Senhor recebeu da sua Mãe.

Rainha dos Coracoes

Tratado sobre a Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem

Quanto à grandeza de Nossa Senhora, o Magistério da Igreja é pródigo nos ensinamentos. Muito foi dito e escrito… e ainda há muito a ser dito e escrito. Assim se expressa São Luís Grignion de Montfort no seu ‘Tratado sobre a Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem’: “Maria não foi suficientemente falada, exaltada, honrada, amada e servida. Ela merece ainda mais elogios, respeito, amor e serviços” (nº 10). Além disso: “Maria era desconhecida até agora e esta é uma das razões pelas quais Jesus Cristo não é conhecido como deveria ser” (n. 13). Outra citação do Santo de Montfort: “Quando chegará este tempo afortunado em que Maria será reconhecida como a senhora e soberana dos corações… quando as almas respirarão Maria, como os corpos respiram o ar?” (nº 217).

Esta expectativa diz respeito plenamente às almas eucarísticas. Entre outras razões, porque a devoção mariana leva a dar todo o valor que convém à Eucaristia, pois, sendo Maria a mediadora de todas as graças, é a medianeira da distinta graça de aproximação ao altar, da comunhão, do sacrário e da custódia. Através do chamado ‘sensus fidei’ os fiéis intuem estas verdades com relativa acuidade, embora nem sempre consigam explicá-las, nem assumi-las em todas as suas consequências. Mas… o que é precisamente o ‘sensus fidei’?

O Sensus Fidei

Esta frase latina é traduzida como “o sentido da Fé”; vamos a uma definição cuidadosa: “O ‘Sensus fidei fidelis’ é uma espécie de instinto espiritual que permite ao fiel julgar espontaneamente se determinado ensinamento ou prática está ou não de acordo com o Evangelho e com a Fé Apostólica. Está intrinsecamente ligado à própria virtude da Fé; Ele flui da Fé e é uma propriedade dela. É comparado a um instinto porque não é principalmente o resultado de uma deliberação racional, mas sim uma forma de conhecimento espontâneo e natural, um tipo de percepção. (“O Sensus Fidei na vida da Igreja”, Comissão Teológica Internacional, BAC, Madrid, 2014. Pág. 49).

Exercitar este sentido de Fé é sempre benéfico e torna-se muito necessário nos dias de hoje, quando reina um relativismo doutrinário e moral que confunde as mentes e condiciona tanto os comportamentos. A Fé recebida no Batismo importa em um compromisso, não pode permanecer adormecida e inoperante. Este precioso subsídio sobrenatural de que tratamos, ao ser ignorado ou confundido, pode perder-se. Por outro lado, as pessoas atentas a esse sentido de Fé, discernem realidades materiais ou espirituais, algumas delas sutis, que os incrédulos definitivamente não compreendem, por mais inteligentes que sejam.

Estes últimos tendem a considerá-los sonhadores, vaidosos ou infantis. Deveriam meditar esta sentença do Senhor: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus” (Mt 18, 3). Aqueles que se tornam “como crianças” são sensíveis aos sinais mediante os quais Deus se manifesta, e não acreditam que o céu e a terra estejam fatalmente isolados por uma espessa placa de aço… Quantos são cativados dão crédito à chamada ‘inteligência artificial’, anônima e falível, ignorando as verdadeiras riquezas proporcionadas pelo maravilhoso dom da Fé!

O Cardeal Arcebispo animou as pessoas que sofrem a não ceder à tentação de considerar a dor ou o sofrimento como apenas uma experiência negativa e a não duvidar da bondade de Deus.

Binômio Eucaristia-Maria

O binômio Eucaristia-Maria que temos tratado nos é proposto pela Igreja mediante exposições racionais bem fundamentadas, mas também é percebido, com maior ou menor clareza, através do ‘sensus fidei’. Este vínculo tão estreito entre o Pão do Céu e a Virgem Mãe foi cunhado pela piedade medieval na fórmula “Caro Christi, caro Maria”: a carne de Cristo na Eucaristia é a carne tirada de Maria. Na Idade Média, quando a Filosofia do Evangelho permeava a sociedade, o ‘sensus fidei’ era vivíssimo.

Em homenagem a Maria, meditemos e coloquemos em seus patamares três noções abordadas nesta reflexão: 1) A intimidade extrema que existe entre Jesus e Maria. 2) Que ainda estão por se conhecer as excelências da Virgem, e que queira Deus que seja em breve. 3) Que no dia a dia possamos utilizar o ‘sensus fidei’, tão útil em tempos turbulentos.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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