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O melhor “vinho” da História

Quando Nossa Senhora for efetivamente a Rainha dos Corações, “coisas maravilhosas acontecerão neste mundo”. Na História, à semelhança das Bodas de Caná, o melhor vinho está sendo reservado para o fim…

Bodas de cana

Redação (17/01/2022 09:07, Gaudium Press) Perfumam as páginas do Antigo Testamento os feitos das santas mulheres que edificaram as sucessivas gerações do povo eleito. Todas elas são, sob algum aspecto, prefiguras de Nossa Senhora, e anteciparam o insuperável exemplo de Maria Santíssima na prática das virtudes.

Assim foram Ruth, a moabita, a casta Susana e Judite, a qual venceu o terrível Holofernes quando os governantes de Israel já preparavam a entrega da cidade. O mesmo sucedeu com Ester. Embora frágil, ela foi sensível às súplicas de seu tio Mardoqueu, para interceder junto ao rei a fim de salvar do extermínio os israelitas. Ela rezou, pediu forças e, correndo risco de vida, obteve as boas graças do rei, deixando patente o quanto amava o seu povo.

Como todo símbolo, essas prefiguras são inferiores àquilo que representam, mas elas revelam aspectos da inigualável alma da Virgem Maria. Uma vez que “Deus Pai reuniu todas as águas e as nomeou mar; reuniu todas as suas graças e as chamou Maria”,[1] qualquer perfeição existente no universo criado — exceção de Jesus Cristo, o Homem-Deus — é insuficiente para se comparar devidamente com a Mãe de Deus.[2] É nessa perspectiva que devemos analisar o Evangelho das Bodas de Caná, onde a insuficiência do vinho deu ocasião ao primeiro milagre de Jesus Cristo, por intercessão de Maria.

A confiança em Nossa Senhora deve ser total

Houve um casamento em Caná da Galileia. A Mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. Como o vinho veio a faltar, a Mãe de Jesus Lhe disse: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 1-3).

Caná distava dez quilômetros de Nazaré e era uma cidade mais importante do que esta. A Mãe de Jesus certamente tinha relações de amizade com a família de um dos nubentes e por isso foi à festa. Nosso Senhor acompanhou-A, levando consigo os seus primeiros discípulos: João, Tiago, Pedro, André, Filipe e Natanael.

Como sempre, despreocupada de Si, Maria Santíssima prestava atenção em tudo, desejosa de fazer o bem aos outros. Percebeu, então, talvez sem ninguém Lhe ter comunicado, a situação embaraçosa: acabara o vinho. Nossa Senhora tudo interpretava com sabedoria e por certo considerou que a Providência permitira a falta de vinho para dar a Jesus ocasião de manifestar sua Divindade.

Sua Mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

Conhecia muito bem Nossa Senhora o Sagrado Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, gerado nesse templo sublime que é o seu claustro materno. “Por conhecer privilegiadamente, como Mãe, o Coração de seu Filho, sabe que será atendida e recomenda aos serventes fazer tudo quanto Ele lhes mandar. E assim, a pedido de Maria, antecipa-se excepcionalmente a hora dos milagres de Cristo”.[3] É a eficácia da Onipotência suplicante.

Isso nos mostra como devemos confiar em Nossa Senhora sem restrições, mesmo quando pareçamos ser merecedores da rejeição de Nosso Senhor. Será Ela quem nos socorrerá quando, também a nós, “faltar o vinho”. Pois é absoluto, por desígnio divino, o poder de impetração da Medianeira de todas as graças.

Em sua insondável bondade, prometeu o Redentor: “Tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei” (Jo 14, 13). Ora, se isso é válido para nós, concebidos no pecado original e com tantas misérias pessoais, como não o será em altíssimo grau para sua incomparável Mãe? Se na Terra Jesus nada Lhe negou, agiria de outro modo estando no Céu? Se Ele fez esse estupendo milagre, embora não fosse ainda a hora, podemos ter certeza de que, agora sim, chegou a sua hora, pois está no Céu como Sacerdote Eterno junto ao Pai para interceder por nós (cf. Hb 4, 14). Lá está para atender nossas solicitações, permanece à mercê dos pedidos de Nossa Senhora.

Bem conclui o piedoso Cardeal de La Luzerne: “No píncaro da glória, teria Ela perdido seu poder? O prêmio de suas incomparáveis virtudes seria o de ter menos crédito perante Deus? […] Aquele que na Terra estava submisso às suas ordens rejeitará, no Céu, suas preces?”.[4] Desse modo, estejamos certos de que, recorrendo a Maria, seremos atendidos em qualquer circunstância.

O melhor vinho da história: o Reino de Maria

Perante as perplexidades e apreensões que o mundo de hoje possa causar-nos, o Evangelho deste domingo nos convida à esperança. Pois sabemos que, quando a humanidade chegar a um nível de decadência moral onde tudo parecer perdido, a intercessão onipotente de Maria obterá de seu Filho Divino a mutação da água — neste caso, uma água poluída pelo pecado — no melhor vinho. A miséria espiritual do mundo se transformará, por intercessão da Mãe de Deus, em algo de extraordinário, que não podemos sequer imaginar: o Reino de Maria, isto é, o triunfo do seu Sapiencial e Imaculado Coração, anunciado por Ela em Fátima. A frase do Evangelho de hoje: “Tu deixaste o melhor vinho para o fim”, bem pode significar: “Deixastes, ó Deus, vossas melhores graças para os tempos vindouros”. As graças mais excelentes, os mais insignes benefícios, os maiores santos, as culturas mais requintadas — tudo quanto pode haver de melhor foi reservado para essa era marial.

Nessa venturosa era, Maria será estabelecida Rainha dos Corações, e “coisas maravilhosas se produzirão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, nelas sobrevirá abundantemente, e as encherá com seus dons, particularmente com o dom da sabedoria, para operar as maravilhas da graça. […] quando virá este tempo feliz e este século de Maria, onde inúmeras almas escolhidas e obtidas do Altíssimo por Maria, perdendo-se elas mesmas no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo?”[5]

Por amoroso desígnio de seu Divino Filho, o melhor “vinho” da História virá no fim, e será o “vinho de Maria”!

Extraído, com alterações, de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v.6, p. 23-35.


[1]  SÃO LUÍS GRIGNION DE MONTFORT. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n. 23. In: Œuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p. 498.

[2]  Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q. 25, a. 6, ad 4.

[3] TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v. V, p. 1003.

[4] LA LUZERNE, César-Guillaume de. Explication des Évangiles. Paris: Mequignon Junior, 1847, v. I, p. 194.

[5]  SÃO LUÍS GRIGNION DE MONTFORT, op. cit., n. 217, p. 634-635.

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