O justo e o cego
Neste 8o Domingo do Tempo Comum, a liturgia nos convida a realizarmos uma escolha: a quem desejamos seguir?
Redação (27/02/2022 14:39, Gaudium Press) Todo homem possui para si alguém que seja o seu “modelo” de vida.
De fato, é muito comum ver uma criancinha prestar uma atenção única naqueles que a circundam, procurando, aos poucos, imitá-los. Com o passar do tempo – sem que ela o perceba –, já está à busca de alguém que represente para ela um modo de ser e de viver ao qual deverá seguir. Esse fenômeno, embora se inicie desde a idade pueril, exerce um importante papel na vida inteira do homem.
Os melhores modelos
Christianus alter Christus, o cristão é um outro Cristo, afirma o ditado. Nosso Senhor Jesus Cristo constitui para todo cristão o perfeito e supremo “modelo” de vida. Ele mesmo o ratificou, quando disse: “Eu sou o caminho a verdade e a vida” (Jo 14,6). Além de nos deixar o Seu exemplo, Jesus fundou a Igreja que é o Seu corpo místico, ao qual cabe a missão de conduzir os povos rumo à perfeita identificação com a Sua Cabeça, que é o Divino Salvador.
Sendo a Santa Igreja uma sociedade espiritual, porém visível, composta de membros humanos, Deus sempre suscita nela arquétipos para que os fiéis sigam retamente as veredas que os conduzam às mansões celestes. Estes são os que ela considera como santos: pessoas que moldaram plenamente as suas vidas conforme os ditames evangélicos, tornando-se modelos vivos para os demais católicos, seus irmãos na fé.
Foi o caso de um São Domingos de Gusmão, que surgiu, quando a heresia cátara grassava pela França, para defender admiravelmente a verdadeira fé. Ou ainda, para tomar um exemplo mais próximo de nós, o grande missionário São José de Anchieta, que deixou a sua pátria a fim de vir ao Brasil para evangelizar essas terras que depois se tornaram tão fecundas para o catolicismo.
Assim sendo, Deus nunca permite que faltem guias incumbidos de conduzir o seu povo.
Os verdadeiros e falsos guias
Ora, na liturgia de hoje, Nosso Senhor em sua infinita sabedoria, conhecedor de todo o desenrolar da história da humanidade, quis advertir os seus discípulos contra qualquer falso modelo que pudesse se apresentar ao longo dos tempos, até ao fim do mundo.
Na parábola elaborada pelo Divino Mestre, vemos como um cego não pode se deixar guiar por outro cego, com o perigo de caírem no mesmo buraco (Cf. Lc 6, 39). Ora, Ele ainda afirma que:
“Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre” (Lc 6,40).
Aqui temos uma perfeita descrição de um falso modelo. Ele é como um cego que não vê as coisas à luz dos verdadeiros ensinamentos de Cristo e, portanto, em nada é “como o mestre”, pois prega uma doutrina incoerente com a doutrina anunciada por Nosso Senhor. Este, está muito longe de ser um “discípulo bem formado”.
O problema é que ele muitas vezes se apresenta como um verdadeiro seguidor do Mestre e assim consegue desviar várias pessoas do rumo verdadeiro. Como, pois, diferenciar entre o real do falso modelo?
O Salvador nos deixou uma resposta:
“Não existe árvore boa que dê frutos ruins nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos” (Lc 6,43-44).
São as obras que dão testemunho da veracidade e credibilidade do verdadeiro discípulo de Cristo. Este é sempre íntegro e defende a verdade, seja qual for o preço. Podem vir por cima dele tempestades e provas, perseguições e dificuldades, ele nunca se dobra diante das ameaças dos ímpios. Aquele que realmente conduz os outros segundo o Evangelho sempre ostenta o estandarte da autêntica catolicidade. Mas sobretudo, a sua vida é irrepreensível, de uma honestidade total.
Deste modo, a liturgia de hoje esclarece que tais pastores sempre os haverá, apesar de o mundo estar numa situação quase irremediável. Pois que deve haver homens justos, exímios modelos de vida, a quem podemos (e precisamos) seguir. Destarte, exclama o Apóstolo:
“Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo” (1 Cor 15,57).
Por Jerome Sequeira Vaz
Deixe seu comentário