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O grande e incomparável Cornélio a Lápide

O sacerdote jesuíta belga Cornélio a Lápide pode ser considerado o melhor comentarista da Sagrada Escritura.

Foto: Wikipedia

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Redação (24/12/2025 11:29, Gaudium Press) De família camponesa, Cornélio a Lápide nasceu em 1567, numa aldeia do Principado de Liege, Leste da Bélgica. Dotado de privilegiada inteligência, estudou em colégios jesuítas de Maastricht, Holanda, e de Colônia, Alemanha, onde doutorou-se em Artes liberais que eram compostas do trivium – gramática, dialética, retórica –, e do quadrivium – aritmética, música, geometria e astronomia.

Era de pequena estatura e frágil compleição, mas de ânimo forte, pugnaz e decidido. Entrou para a Companhia de Jesus, cursou Teologia na célebre Universidade de Louvain, Bélgica, e foi ordenado sacerdote em 1595, com 28 anos de idade.

Pouco depois, tornou-se Professor de Filosofia, Teologia e hebreu nessa mesma universidade que foi nessa época foco de heresias, entre as quais o jansenismo.

Visando glorificar a Deus e combater os hereges que deturpavam a Bíblia, começou a escrever comentários sobre os Livros sagrados, com muitíssimas citações de trechos dos Padres da Igreja, nos quais “se encontram mil vezes mais gênio, profundidade e encanto do que nas mais belas obras do mundo grego e romano”.[1] Trata-se de um ataque direto ao espírito renascentista que divinizava os autores pagãos greco-romanos.

Com olhar cheio de cólera, afugentou hereges

Enquanto ele redigia sua obra, protestantes perseguiam ferozmente os católicos no Brabante, província da Bélgica cuja capital é Louvain.

Em 1604, ele se dirigiu a uma capela das proximidades – onde se realizara milagres – a fim de atender confissões e depois celebrar Missa. De repente, surgiu uma chusma de calvinistas holandeses que fizeram uma carnificina espantosa de católicos e atearam fogo no prédio.

Cornélio pegou as hóstias consagradas, envolveu-as junto ao peito e começou a caminhar, pedindo o auxílio da Santíssima Virgem. Alguns hereges o cercaram, mas logo fugiram devido ao olhar cheio de cólera que o varão de Deus lançara contra eles.

Professor de São João Berchmans

Por ordem do Superior geral dos jesuítas, em 1166, mudou-se para Roma a fim de ensinar Sagrada Escritura no Colégio Romano. Entre seus alunos se encontrava São João Berchmans, seu compatriota, que se destacava por sua capacidade intelectual e excelsas virtudes.

Filho de um curtidor de peles e sapateiro, João Berchmans nasceu numa cidade próxima de Bruxelas e sempre manteve sua inocência ilibada. Aos sete anos de idade, levantava-se de madrugada e, antes de ir para a escola, se dirigia à igreja onde acolitava duas ou três Missas.

Estudou Retórica em Malines, onde brilhou pela sua santidade e inteligência. Tornou-se noviço da Companhia de Jesus e, em 1619, foi enviado à Cidade eterna a fim de cursar Filosofia no Colégio Romano. Em 13 de agosto de 1621, entregou sua alma a Deus. Seu corpo está sepultado na Igreja de Santo Inácio de Loyola, em Roma, e seu coração foi transladado para a Igreja São Miguel, em Louvain.

O valoroso Cornélio, devido a problemas de saúde, deixou de lecionar no Colégio Romano e dedicou-se a continuar seus comentários à Bíblia, recolhido em sua simples cela na qual, conforme escreveu, “sentado aos pés de Cristo, recebo com recolhimento de sua boca as palavras de vida para logo transmiti-las aos demais homens”.[2]

Escrevendo manualmente, realizou uma obra magnífica. Entre outras virtudes, é admirável sua constância heroica para efetuar duríssimo trabalho. Como ele mesmo afirmou, para perseverar no bem é preciso “desejar ardentemente progredir na virtude”.[3]

Morreu em Roma, em 12 de março de 1637, aos 70 anos de idade.

Deixou manuscritos nos quais fez comentários sobre quase toda a Sagrada Escritura.  Além de explicar o sentido de palavras ou frases, ele cita trechos de grandes teólogos, de filósofos e poetas pagãos, fatos da História da Igreja e dos homens, bem como da vida dos Santos.

Atmosfera de combate no Céu

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira o admirava intensamente, chamando-o de “grande e incomparável Cornélio”. Transcrevemos alguns trechos de conferências por ele pronunciadas em São Paulo.

Diz Cornélio a Lápide:

“Os que estão no Inferno têm um conhecimento sem delícias, sem alegria, sem amor, amargurado que, pelo contrário, dá-lhes uma situação de desagrado profundo do que se passa no Céu. Eles veem, quer dizer, conhecem Nossa Senhora posta na presença do Altíssimo e inundada de felicidade, etc.  e o ódio neles aumenta. E do fundo do Inferno blasfemam contra Ela.

 “Em oposição a essas blasfêmias, Maria Santíssima executa neles um ato de justiça, mandando que outros Bem-aventurados respondam a elas. E se trava uma espécie de polêmica, de luta, não à maneira da batalha que houve no Céu quando satanás foi mandado embora por São Miguel Arcanjo, mas uma controvérsia em que os Bem-aventurados aclamam ainda mais a Ela por causa das blasfêmias que os precitos soltaram, e uma atmosfera de combate se torna notória no Céu, e Nossa Senhora é a vencedora que esmaga com o seu calcanhar a cabeça da serpente. (…)

“Todos os precitos, todos os demônios que estão no Inferno uivam contra Nossa Senhora, ao menos em certas ocasiões em que Ela (…) mete o pé em cima deles e os esmaga, e isso se dá gloriosamente.

Devoção contrarrevolucionária a Nossa Senhora

“O católico deve ter isso diante dos olhos, pelo menos algumas vezes, e precisa sentir que falta alguma coisa quando, na sua devoção mariana, isso jamais lhe passa pela mente.

“Nunca me ensinaram isso e eu sentia que, na minha devoção à Nossa Senhora, faltava alguma coisa que procurava e não entendia o que era. Até que os meus olhos caíram sobre esse texto de Cornélio a Lápide.

“Eu ali senti que havia um recôncavo da minha alma que estava vazio do necessário da devoção à Santíssima Virgem, e exultei porque me senti cheio de Nossa Senhora. E acho que a devoção contrarrevolucionária a Ela comporta este aspecto de um modo relevante”.[4]

“Espero firmemente podermos juntos, no Céu – quem sabe se próximos ao Cornélio a Lápide –, (…) dizermos a ele: “Muito obrigado por nos ter dado, já na Terra, uma noção disso”.[5]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] CORNÉLIO A LÁPIDE. In BARBIER, Jean-André. Tesoros de Cornelio a Lapide. Madri: Librerias de Miguel Olamendi y outros. 1866, v. I, p. XVI.

[2] Idem, ibidem, v. 1, p. XVIII.

[3] CORNÉLIO A LÁPIDE. In BARBIER, Jean-André. Les trésors de Cornelius a Lapide. Paris: Librairie Ch. Possielgue. 1876, v. IV, 6. ed., p. 37.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Devoção mariana contrarrevolucionária. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXI, n. 249 (dezembro 2018), p.12-13.

[5] Idem. Os Anjos no Céu empíreo e durante o Juízo Final. Ano XX, n. 232 (julho 2027), p. 31.

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