O Coração que nos amou até o fim
Único e inesgotável, o amor do Sagrado Coração a cada um de nós foi levado até extremos inimagináveis. Como não ter, em consequência, uma confiança absoluta na misericórdia divina, apesar de nossas misérias? Ou, talvez, até por causa delas?
Redação (11/06/2021 09:47, Gaudium Press) Ao considerar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus — cuja festa a Igreja comemora na sexta-feira seguinte à semana da Solenidade de Corpus Christi —, corremos o risco de ficar muito aquém do tesouro de bondade e misericórdia que essa forma de piedade coloca à disposição dos fiéis.
Porque o Coração de Jesus é o tabernáculo mais autêntico e substancial das três Pessoas da Santíssima Trindade e, em consequência, não há melhor meio de adorar o Pai, o Filho e o Espírito Santo do que através d’Ele.
Com efeito, o Sagrado Coração de Jesus, invocado na ladainha que Lhe é dedicada como “unido substancialmente ao Verbo de Deus”, abarca de maneira insondável ambas as naturezas de Cristo: a humana e a divina.
Assim, com toda propriedade, é por seu intermédio que Deus entra em contato conosco, respeitando as nossas proporções e apresentando-Se ao nosso alcance de maneira a nos inspirar confiança.
E reciprocamente, adorando a Deus através do Sagrado Coração, utilizamo-nos do altar mais privilegiado, supremo até, para nossas orações ascenderem ao Céu de maneira a serem aí recebidas com absoluta complacência.
Deus nos amou desde toda a Eternidade
Símbolo, por excelência, do amor infinito de Deus pelos pecadores e a mais comovente manifestação de sua capacidade de perdoar, abrir-se à misericórdia que d’Ele dimana constitui uma segura fonte de salvação, porque, como acentua o Papa Pio XII:
“Só Aquele que é o Unigênito do Pai e o Verbo feito Carne ‘cheio de graça e de verdade’ (Jo 1, 14), tendo descido até os homens oprimidos de inúmeros pecados e misérias, podia fazer brotar de sua natureza humana, unida hipostaticamente à sua Pessoa Divina, um manancial de água viva que regasse copiosamente a terra árida da humanidade, transformando-a em florido e fértil jardim”.
O Criador nos amou de modo incalculável muito antes de dar-nos a existência. Considerando o mundo dos possíveis divinos, escolheu-nos a cada um em particular, tendo-nos presente em sua Redenção.
Porque Deus não nos ama apenas segundo o bem posto por Ele em nossa natureza humana ao nos criar, mas de acordo com o estado de perfeição que teremos na Visão Beatífica — se até lá chegarmos —, purificados pelo Preciosíssimo Sangue da Redenção.
Em síntese, para o Sagrado Coração de Jesus cada um de nós é filho, e filho único, amado de forma inimaginável desde muito antes de nascer!
Confiança e reciprocidade
Querendo resgatar o gênero humano transviado pelo pecado de nossos primeiros pais, Nosso Senhor Jesus Cristo derramou até sua última gota de sangue na Cruz. E, se necessário fosse, teria feito esse supremo sacrifício para salvar individualmente cada um de nós.
Diante de tão insondável manifestação de benquerença, impossível é deixarmos de nos sentir amados por Deus apesar das nossas misérias. Mesmo após termos rolado na lama do pecado, podemos contar com os infinitos méritos obtidos pelo Sacratíssimo Coração de Jesus durante sua Paixão, pois em virtude daquela luz primordial posta por Ele na nossa alma, reflexo de suas próprias perfeições, tudo fará para nos resgatar.
Inclusive nossas misérias oferecem ao Coração de Jesus oportunidade de manifestar sua infinita bondade e seu incomensurável desejo de perdoar, redundando tudo em maior glória para Deus.
Devemos, pois, nos encher de confiança e afastar a menor incerteza em relação ao amor do Criador por nós. Mas precisamos, sobretudo, ter um desejo ardoroso de nos entregar totalissimamente nas mãos da Divina Providência, sem jamais pensar em obter qualquer benefício pessoal desligado da glória do Altíssimo. Pois qualquer bem que possamos excogitar para nós nada será em relação àquela participação nas perfeições divinas que Ele nos reservou desde todo sempre.
Assim, quando fecharmos os olhos para este tempo e nascermos para a eternidade, teremos uma glória essencial e acidental inimaginável, participação da própria glória de Deus. Por quê? Porque, como ensina Santo Agostinho, quando Deus nos recompensa, Ele coroa seus próprios dons.
Cientes desta maravilha, confiemos nesse Sacratíssimo Coração que nos amou até o fim, e se inclina tanto mais sobre as criaturas quanto mais necessitam elas de perdão.
A grandeza do Imaculado Coração de Maria
Complemento indispensável para estas considerações é uma referência Àquela cujo Imaculado Coração, no dizer de São João Eudes, é tão unido ao do seu divino Filho a ponto de ambos formarem um só: o Sagrado Coração de Jesus e Maria.
E, assim como Nosso Senhor considerou todos os homens no Horto das Oliveiras, assim a Mãe da Igreja deve ter vislumbrado naquele instante todos os que haveriam de fazer parte do Corpo Místico de Cristo.
A grandeza do Imaculado Coração de Maria é um mistério que nossa inteligência não alcança. Sem dúvida, Ela rezou no Calvário por todos. E hoje, Ela acompanha do Céu as dificuldades e alegrias de cada um dos seus filhos, disposta a nos atender com indizível afeto, ternura e carinho.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.126, junho 2012.
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