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O Caminho de Emaús hoje

O caminho de Emaús significa simplesmente um caminho de deserção que, pela intervenção do Senhor, acabou se tornando um caminho de conversão.

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Redação (25/07/2024 12:22, Gaudium Press) Parece que o mundo está em falência espiritual. E se acrescentarmos a isso as atuais tensões internacionais, o panorama que surge está longe de ser auspicioso. Mas… consideremos uma reconfortante lição da história.

“Fica conosco” (Lc 24,29) disseram os discípulos de Emaús ao Viajante que com tanta paciência e benefício para as suas almas lhes explicou as Escrituras.

Como sabemos, dois desencantados e tristes discípulos de Cristo iam para Emaús, deixando para trás todo um drama que não souberam compreender e preferiram esquecer. Deixavam Jerusalém, o Cenáculo, seus amigos e todas as esperanças e promessas para as quais haviam dado crédito. Houve um agravante: resistiram aos sinais que desafiavam a sua consciência embotada; “É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos assustaram, porque tendo ido ao túmulo muito cedo pela manhã, e não tendo encontrado o seu corpo, vieram dizer que tinham até visto uma aparição de anjos, que dizem que ele está vivo” (Lucas 24, 22-23) e: “alguns de nós também foram ao sepulcro e encontraram-no como as mulheres haviam dito…” (Lc 24, 24).

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Dúvida, desânimo, cegueira. Eles se negavam a acreditar diante de dados confiáveis.

Mas o Ressuscitado apareceu-lhes no caminho que haviam percorrido, invertendo o rumo: depois de uma celebração eucarística ‘sui generis’ em uma hospedaria, os dois vira-casacas – chamavam-se Cleofas e Lucas – abriram os olhos, reconheceram Jesus e voltaram apressados à Jerusalém, voltando ao redil, “e contaram o que lhes havia acontecido no caminho e como o reconheceram ao partir o pão” (Lc 24, 35).

O caminho de Emaús significa simplesmente um caminho de deserção que, pela intervenção do Senhor, acabou se tornando um caminho de conversão. Foi assim também, embora em circunstâncias e disposições diferentes, o que aconteceu com Saulo no caminho de Damasco, um caminho de maldade que se tornou um caminho de salvação para o Apóstolo e para os gentios.

Depois de vinte séculos destas “estradas” – Emaús e Damasco –, hoje a humanidade caminha em direções infelizes pelas estradas da vida, virando as costas à Igreja que foi a arquiteta do Cristianismo, quando, nas palavras de Leão XIII, “a filosofia do Evangelho governava os estados”. Como uma mãe amorosa, a Igreja dispensou a graça sobrenatural para que o reino de Cristo pudesse se expandir, e quantos foram receptivos ao dom de Deus!

Reflitamos apenas sobre este fato: Muito antes de existirem os atuais e caros ministérios da educação, da saúde, da defesa, da justiça e outros, já existiam os mensageiros do Evangelho – monges, religiosas e cavalheiros cristãos – que administravam a justiça, defendiam os povos nas invasões e guerras, fundaram hospitais, escolas, universidades e outros espaços de dignidade, domando a barbárie, extirpando a escravidão, dignificando as mulheres e protegendo os mais fracos.

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Naquela época, a consciência do dever e a ideia de honra eram elevadas, a vida era respeitada em todas as suas etapas, as famílias eram unidas e fecundas e as pessoas eram corajosas para defender os seus próprios direitos e os dos outros, às vezes ao preço de seu próprio sangue. A religião era professada sem respeito humano e floresceu em todas as áreas da existência. São inúmeros os documentos que atestam esta realidade. Na raiz destas conquistas está, naturalmente, o sacrifício do Calvário e a sua renovação permanente e incruenta.

Como os dois de Emaús, a humanidade contemporânea vai progressivamente abandonando a Fé Cristã. Em vez de “abrir os olhos” e “retornar para Jerusalém”, recusa-se a reconhecer o amável Peregrino que lhe convida à mesa da Palavra e da Eucaristia nas encruzilhadas de seu louco caminho.

Acontece que as pessoas, por causa da natureza ferida pelo pecado, não podem, sem auxílio divino, cumprir o seu dever nem emendar-se de suas faltas. Isto é o que proclama o Novo Testamento em duas afirmações equivalentes. Uma delas é: “Tudo posso naquele que me conforta” (Filipenses 4, 13). E a outra: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Esse “tudo” e esse “nada” são a Palavra de Deus!

A miséria que demonstramos ao nos afastarmos dos caminhos de Deus não é uma atenuante que possa nos justificar, mas um incentivo para reconsiderar e reverter o nosso caminho. Na realidade, esse “tudo posso” pressupõe abandonar-se ao poder de Deus. Mais do que “fazer”, trata-se de “deixar fazer”. E esse “nada” do Evangelho de João leva ao reconhecimento da impotência da criatura. Então, como se comportar diante de tamanha incapacidade?

Santa Maravilhas de Jesus, religiosa espanhola do século XX, foi, como Santa Teresa de Jesus, mística, fundadora e reformadora de muitas comunidades de carmelitas descalças; ela repetia uma frase que era seu lema preferido: “Se você deixar…”. Temos que deixar Deus fazer. Multiplicamos planos, projetos, originalidades e quimeras que nos distanciam Dele em vez de deixar que Ele forje a Sua obra em nós e na sociedade.

Não pense que retomar o caminho perdido seja um retorno no tempo, rumo a um passado almejado e que teria sido melhor. É abrir novos caminhos para o futuro que nos chegam não da frágil engenhosidade dos homens, mas da Divina Providência. Mais do que ir em direção a Deus, trata-se de acolhê-lo e suplicar-lhe: “fica conosco”.

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A Virgem Mãe nos ajudará nesta empreitada.

Voltemos à Emaús da História Sagrada. Os dois discípulos, pela força do mistério do “Pão partido”, converteram-se. Agora, a energia própria do sacramento eucarístico continua sendo sempre a mesma e é capaz de transformar, não apenas dois andarilhos extraviados, mas a humanidade inteira… de mais de sete bilhões de habitantes! Se o mundo se deixasse vencer pelo suave jugo do Santíssimo Sacramento… Oh mundo, “se você deixasse”.

Leitor, seja racional e reconheça: se eu deixar, movido pela onipotência do Pão Eucarístico partido, o mundo ficará melhor.

Mairiporã, Brasil, julho de 2024.

Por Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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