“Nosso fracasso não é culpa dos brancos”, assegura Cardeal do Congo
“Quisemos ganhar poder não para servir, mas para ter os privilégios dos brancos. Deixamos de lado a ideia de servir aos outros e enfatizamos o prazer”, destacou Dom Besungu.
Congo – Kinshasa (08/07/2020 16:00, Gaudium Press) O Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, Arcebispo de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo presidiu uma Santa Missa por ocasião do aniversário de 60 anos da independência do país.
Em sua homilia, o purpurado recordou que a independência foi conquistada com muito sacrifício e sangue derramado pelos valentes filhos e filhas do Congo, entretanto nela também está, “em parte, a base de nossas dificuldades atuais”.
“Foi uma independência mais sonhada do que pensada: enquanto outros refletiam sobre o significado da independência e preparavam as pessoas para suas conseqüências; nós, no Congo, sonhávamos com uma independência com emoção, paixão, irracionalidade, tanto que, quando chegou o momento, não sabíamos o que passaria no dia seguinte. As consequências ainda são visíveis hoje”, destacou.
Ocupar lugares brancos
De acordo com o Cardeal Besungu, “para o povo congolenho da época, sonhar com a independência significava sonhar em ocupar lugares brancos, sentar-se em cadeiras brancas, desfrutar dos benefícios reservados aos brancos. Para muitos, significava o fim do trabalho forçado, mas além disso, a independência era vista como o fim de todo o trabalho duro”.
Tudo isso aconteceu, “os congolenhos ocuparam os lugares brancos”, entretanto, “como eles não entendiam nada que os brancos faziam quando ocupavam este ou aquele lugar, uma vez que não entendiam o exercício da autoridade ou o exercício dos cargos, qualquer tarefa política, socioeconômica ou administrativa era vista como a oportunidade de desfrutar benefícios dos brancos”.
Ter os privilégios dos brancos
O exercício da autoridade no Congo, segundo o purpurado também foi entendido dessa maneira. “As pessoas tentavam ganhar poder não para servir às pessoas sob sua própria responsabilidade, mas para ter os privilégios dos brancos. Mas estes, enquanto estavam sentados em suas cadeiras, não estavam apenas se divertindo. Eles também trabalhavam. Entenderam o significado do seu trabalho. Por outro lado, nós deixamos de lado a ideia de servir aos outros e enfatizamos o prazer”.
“Ao observar rapidamente os 60 anos que se passaram, vemos que este grande sonho do povo congolenho se quebrou progressivamente devido a uma série de fatos e eventos”, lamenta. “Como podemos aceitar que 60 anos depois da independência, o povo congolenho continua empobrecendo até o ponto de estar entre os povos mais pobres da Terra hoje? (…) Devemos reconhecer, queridos irmãos e irmãs, que após 60 anos de independência fracassamos vergonhosamente. Não conseguimos fazer do Congo um país mais bonito do que antes. Em suma, todos nós falhamos”.
Prestar contas diante de Deus
Concluindo sua homilia, o Cardeal Besungu recordou que “cada um de nós terá que prestar contas diante de Deus “o que fizeste com teu país? Esta será a pergunta que nos fará a Corte Suprema. (…) Não é a classe política que ajudará o país a sair dos seus problemas. Devemos sair da mentalidade que se escuta: que o presidente ou o governo devem fazer isto ou aquilo. Estes são comportamentos irresponsáveis. São as pessoas que devem atuar”. (EPC)
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