Nossa Senhora sabia que era imaculada?
Como podemos afirmar que Santa Maria sabia que era uma criatura imaculada desde a concepção no ventre de Santa Ana?
Redação (08/06/2023 11:13, Gaudium Press) Sim! Maria Santíssima conhecia esta sublime e quase única condição entre os seres humanos: a concepção sem o pecado original. A propósito, apenas quatro pessoas foram criadas isentas do pecado original: Jesus, na sua humanidade; Maria; Adão e Eva. Os dois últimos cometeram o pecado original. São João Batista, malgrado concebido com o pecado original, “nasceu” sem esta nódoa. Situação diferente.
Mas, como podemos afirmar que Santa Maria sabia que era uma criatura imaculada desde a concepção no ventre de Santa Ana? Ora, a saudação do anjo fê-la refletir profundamente: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!” (Lc 1, 28). “Perturbou-se Ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação” (Lc 1, 29). Com base nestas perícopes, a Igreja declarou o dogma da Imaculada Conceição. Igualmente estribou-se a Santa Igreja neste dito de Maria Santíssima sacado do Magnificat: “porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1, 49). Se, historicamente, Maria proferiu mesmo as palavras que compõem o Magnificat, isto pouco importa, pois, como explica frei Clodovis Boff, São Lucas, em fase posterior, apresenta-nos um texto burilado e literário (“Mariologia Social”, Paulus, p. 326), porém, absolutamente fiel aos acontecimentos, principalmente pelo fato de o autor do terceiro Evangelho sinótico destacar-se como meticuloso historiador.
Vociferar que Nossa Senhora veio a saber somente no céu que era imaculada, data maxima venia, parece-me ilação desprovida de fundamento histórico e teológico. No mínimo, caberia aqui o silêncio obsequioso. Com efeito, “[…] parafraseando Heráclito: dos grandes Mistérios de Deus se deve falar baixo, pondo a mão na boca e com a máxima verecúndia, como recomendava o próprio Aristóteles” (Clodovis Boff, “Experiência de Deus”, Paulus, p. 149). Os teólogos que ousam este tipo de asserção marial também não insistiriam na tese cristológica heterodoxa de que Jesus não sabia que era Deus e soube-o somente depois da Páscoa?
Edson Luiz Sampel
Professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina
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