Nesta vida há bons e maus
Nunca devemos aceitar qualquer pensamento de desconfiança, tristeza ou desânimo ao presenciarmos o joio atacar o trigo.
Redação (10/11/2022 17:08, Gaudium Press) Ao propor a parábola do joio e do trigo como figura do Reino dos Céus, Nosso Senhor Jesus Cristo quis chamar a atenção de seus ouvintes para esta grande verdade: sempre há uma lição mais alta por trás das realidades comuns da vida.
Destaquemos aqui um importante detalhe: a erva daninha não nasceu espontaneamente, mas foi semeada pelo inimigo “no meio do trigo”, o qual também foi lançado à terra pelo dono do campo. Há, portanto, uma inteira conjugação entre o demônio e seus seguidores, muito inferior, porém, à união que se estabelece entre Deus e os eleitos. A estes cabe levar a sério a aliança oferecida pelo Senhor, para não serem devorados pela cizânia.
A cena montada por Jesus desfaz certa ideia otimista sobre nossa existência neste mundo. Há na sociedade uma mistura entre a boa e a má semente que não pode ser eliminada e, muitas vezes, só se torna perceptível quando ambas estão crescidas. E tal é a quantidade de cizânia espalhada pelo inimigo, que o bem se torna uma porção reduzida no meio dela.
Ademais, cada um de nós carrega sementes de joio dentro de si, sejam inclinações ruins, sejam tentações ou mesmo inseguranças e aflições que o demônio explora para nos perturbar, e contra as quais temos de opor resistência não permitindo que nos dominem.
O sentido da parábola do joio
Nosso Senhor ao retornar a casa, os discípulos pedem-Lhe que explique o sentido da parábola do joio. Com naturalidade, Ele então esclarece, ressaltando o destino final das hostes que se enfrentam no campo deste mundo: o Reino de Deus está constituído pelos filhos da luz, os quais gozarão da eternidade feliz, mas entre eles se encontram também os maus, que no fim dos tempos serão precipitados no inferno juntamente com os demônios.
Jesus “semeia a boa semente”: é Ele quem chama todos os homens a se beneficiarem do seu Sangue redentor e a trilharem as vias da santidade, reservando-lhes graças especiais para, mesmo sendo débeis, manterem-se fiéis ao longo da vida.
Há, de outro lado, aqueles que “pertencem ao maligno”, ou seja, os que resolveram seguir o caminho do pecado e dar as costas à virtude. Quem assim os desvia e os transforma em joio é o próprio satanás.
Jesus ressalta a necessidade de sermos vigilantes em face do inimigo, o qual nunca desiste do intuito de nos perder, e de lidarmos com ele de maneira prudente, aguardando o momento mais adequado para extirpá-lo.
Vivendo no meio do joio sem pactuar com ele nem se deixar influenciar, os bons tornam patente o poder da vigilância e da oração na batalha contra as tentações e assaltos do inimigo.
No momento da colheita, distingue-se sem dificuldade a cizânia do trigo: arranca-se primeiro aquela, destinando-a ao fogo, e depois se recolhe este no celeiro. A certeza do juízo infalível de Deus, que separará bons e maus no fim do mundo concedendo a cada um o prêmio ou o castigo de seus merecimentos, incentiva-nos à confiança. Desde que nos mantenhamos no caminho do bem e procurando corresponder à graça, Ele não permitirá ao mal nos sufocar e destruir.
Forma-se, assim, um quadro em que se destaca o papel imprescindível da luta para a santificação dos filhos da luz. Luta guiada pela virtude da prudência, a qual indica o caminho mais curto e eficaz, todo feito de sabedoria, para se alcançar o fim.
A luta, nota característica do Reino
Explicitada por Nosso Senhor na parábola do joio e do trigo, a luta é a signa de nossa passagem pela terra. Quem se compenetra dessa verdade vive cheio de alegria e não se perturba quando o mal se levanta com ódio de destruição, pois sabe que a vitalidade dos bons vem do próprio Deus. Nunca devemos, portanto, aceitar qualquer pensamento de desconfiança, tristeza ou desânimo ao presenciarmos o joio atacar o trigo. Pelo contrário, cabe-nos manter a convicção de nossa superioridade enquanto combatentes de Deus em face dos que foram plantados pelo inimigo.
Um grande auxílio para jamais perdermos essa esperança está em não deixarmos se apagar em nosso horizonte interior os acontecimentos que encerrarão a História da humanidade. Vivemos no tempo e os pequenos episódios do dia a dia nos impressionam, causando-nos às vezes aflições, mas tudo isso passa.
No dia do Juízo, pesará nosso amor Àquele que nos semeou e nossa generosidade em retribuir a Ele a seiva que infundiu em nós e os cuidados que nos dispensou.
Nos momentos mais árduos do embate contra o mal, tenhamos presente que nossa oração é sempre ouvida pelo Céu. Deus pode demorar em atender, mas jamais nos abandonará, sobretudo quando Lhe pedirmos que vença o joio germinado dentro de nós. Lembremos que Ele é a Integridade e não rompe a aliança estabelecida com aqueles que confiam na onipotência do seu perdão; Ele é a Bondade e continuamente quer nos fazer o bem; Ele é nosso Redentor e prometeu-nos a ressurreição gloriosa, deixando-nos como penhor o “fermento” que nem sequer os Anjos podem receber: a Eucaristia.
Em suma, Deus nos concede misericórdia, bondade e perdão infinito, desde que reconheçamos nossa pequenez e saibamos louvá-Lo, não só com os lábios, mas também com os atos, lutando por sua glória nesta terra.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 223, julho 2020.
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