Não confunda o verdadeiro sentido da Páscoa com o ovo!
Se tirar Jesus Cristo do centro de sua própria história é uma forma de “não repetir tradições”, e deixar no lugar apenas ovos e coelhos é uma forma de “ressignificar as práticas pedagógicas”, temos sorte de o Natal ser comemorado nas férias escolares…
Foto: Brian Wegman/ Unsplash
Redação (19/04/2025 09:28, Gaudium Press) Vez ou outra, como qualquer cidadão comum, preciso ir ao supermercado e, hoje pela manhã, numa dessas idas, encontrei um velho conhecido que me olhou com uma expressão tão indignada que chegava a fazer dó. O coitado precisava desabafar com alguém, e até errou o meu nome, me chamando de “seu Adolfo”.
Parei o carrinho perto dele, cumprimentei-o e me coloquei na atitude de quem está disponível para ouvir qualquer lamento. O que não fez diferença, porque ele falaria de qualquer jeito:
– Seu Adolfo! Como é possível uma coisa dessas? Onde este mundo vai parar?
Preciso explicar que ele estava embaixo de uma daquelas “parreiras” de ovos de Páscoa que os supermercados montam, mal terminado o carnaval. Tinha um ovo de chocolate em cada mão, e olhava de um para o outro, como se estivesse indeciso entre os dois.
– Onde já se viu! Cem reis um ovinho desses! E eles ainda têm a cara de pau de escrever R$ 99,98, achando que vão enganar a gente!
Continuei calado, e ele, falando:
– Eu tenho quatro netos, seu Adolfo! Quatro netos! Sem contar a filha, a nora, a patroa e a mocinha que ajuda em casa. Vou gastar metade da minha aposentadoria em ovos de chocolate! Isso é um absurdo! Uma ladroagem!
Nem precisei responder, fui salvo por uma menina de uns oito anos que se equilibrava sobre um par de patins:
– Esse não, vô! Quero aquele ali!
– Mas aquele custa R$ 138,00!!!
Deixei-o às voltas com a neta e embiquei o carrinho no primeiro corredor.
Muito pior que o preço do ovo!
Fui do mercado para casa pensando na expressão de sofrimento do sujeito. Não que eu seja insensível, mas nunca me soou bem essa história de se enfiar ovos de chocolate na Páscoa e, preciso admitir, me irrita profundamente ver pessoas sofrendo por causa do aumento no preço desses tais ovos.
Certamente, não daria maior importância ao caso, não fosse o que ocorreu depois…
Logo após do almoço, recebi uma mensagem perguntando se eu estava sabendo da polêmica de Pouso Alegre, seguida de um link com a notícia sobre um documento de orientação sobre práticas pedagógicas durante a Páscoa, na rede municipal de ensino de Pouso Alegre (MG).
Li o documento enviado aos diretores, supervisores e professores daquele município e, aí sim me entristeci de fato.
A orientação da Secretaria de Educação pede que os professores “evitem atividades que façam referência direta a elementos próprios da fé cristã, como a crucificação, a ressurreição ou celebrações litúrgicas. Tais conteúdos pertencem ao âmbito da religiosidade particular e não devem compor o planejamento pedagógico de uma instituição pública de ensino”.
Um fato histórico, não religiosidade particular!
Talvez a pessoa que redigiu o documento não use o calendário gregoriano, mas sim o calendário judaico, hoje no ano 5785, ou o calendário chinês, hoje no ano 4723. Digo isso porque, se usasse o calendário corrente, que a maioria usa, principalmente as escolas, saberia que estamos no ano 2025 porque houve um evento que dividiu o tempo em dois: “antes de Cristo” e “depois de Cristo”, e não faria a besteira de dizer que a Crucificação e a Ressurreição pertencem ao “âmbito da religiosidade particular”, pois saberia que a Paixão, a Crucificação e a Morte de Jesus Cristo são fatos e não conceitos.
Isso sem falar na Ressurreição, termo tão forte e, certamente tão controverso para ela que sequer ousou usá-lo, substituindo-o por “celebrações litúrgicas”.
O pedagógico documento poderia ter parado aí, e o estrago já teria sido suficiente, posto que a Páscoa é o evento mais importante do universo cristão, no qual o Brasil, majoritariamente, se insere. Existam as religiões que existirem, nada vai mudar os eventos da vida de Jesus. E nem tampouco o que aconteceu no Egito à época de Moisés, pois foi lá que a Páscoa começou…
Foto: Timothy Ring
Não confundir o significado da Páscoa com o ovo
Mas o documento vai um pouco além e determina que os “símbolos culturais e lúdicos, como o coelho, os ovos, as cores, as brincadeiras e as narrativas de fantasia devem ser desvinculados de mensagens religiosas”, o resto da frase é aquele discursinho batido: “contribuindo para o desenvolvimento da linguagem, da imaginação, da ludicidade e da interação social”.
A redatora do trágico texto quis limitar o significado da Páscoa a ovos, coelhos e brincadeiras, desvirtuando o seu verdadeiro sentido religioso: a Ressurreição de Jesus.
É claro que a divulgação da referida instrução pedagógica causou um alvoroço, com muitas críticas, cobertura da imprensa, posicionamento de entidades cristãs e diversos discursos políticos.
A situação deixou o prefeito de Pouso Alegre em maus lençóis e levou-o a gravar um vídeo de retratação junto ao vice-prefeito, que deu a seguinte justificativa: “Trata-se de um documento não revisado e não oficial que partiu do departamento pedagógico”.
Não sei por que, mas essa frase lembrou-me a atitude de Adão depois de comer do fruto proibido: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi” (Gn 3, 12); ou seja, ele quis imputar a culpa em Eva.
Numa administração pública não é muito diferente: quando não fica claro o que fica a cargo de quem, nem o que é e o que não é oficial, um texto ideológico “sem revisão” pode colocar Adão, digo, o prefeito numa situação delicada.
No vídeo, uma contradição
Por sorte, o documento restringia apenas a ação dos professores, porque, em sua fala, o prefeito, acabou contradizendo a determinação pedagógica e falou em crucificação: “Infelizmente temos políticos e assessores que de forma inescrupulosa estão aproveitando esse momento para difundir, para propagar a crucificação dessa servidora que produziu esse documento de forma errônea.”
Mas quem foi crucificado, não foi a funcionária, foi Jesus Cristo, que é o Senhor da Páscoa, evento que mudou a História do mundo e o destino particular de cada um; afinal, Ele morreu por todos.
A prefeitura divulgou também uma nota que acabou imitando Eva: “O que foi feito pela equipe técnica foi apenas um ato informativo, que replicou o que determina a legislação federal”, ou seja, a culpada é a serpente, quer dizer, a legislação federal.
Nessa mesma nota, foi desdito o antes dito pelo prefeito e a “servidora crucificada” se transformou em “equipe técnica”…
Mas há um inegável sentido ideológico nesta frase: “Mais do que repetir tradições, é fundamental reconhecer as atuais concepções e ressignificar as práticas pedagógicas de acordo às diretrizes curriculares visando à formação cidadã das crianças”.
Se tirar Jesus Cristo do centro de sua própria história é uma forma de “não repetir tradições”, e deixar no lugar apenas ovos e coelhos é uma forma de “ressignificar as práticas pedagógicas”, temos sorte de o Natal ser comemorado nas férias escolares…
Caso contrário, não demoraria para que os professores se vissem na contingência de terem que tirar Jesus do Natal e ensinar as crianças a comemorarem o nascimento do Papai Noel – ou do coelho, que estaria adulto na Páscoa!
Tudo será esquecido, até que se repita e vire regra
Ainda não vi o que a Igreja Católica manifestou a esse respeito, mas a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) expressou preocupação com os efeitos de medidas como esta, esclarecendo que “a expressão cultural da fé cristã exposta em feriados religiosos é reconhecida pela Lei nº 14.969/2024 como manifestação cultural nacional”.
Por fim, o prefeito até pareceu sincero ao tentar sair desse imbróglio e jogar a culpa na oposição, enquanto o seu vice garantia que, em Pouso Alegre, “nunca foi proibido falar de Jesus nas escolas”, apesar de não ser o que o documento diz.
Inclino-me a acreditar que o prefeito não tinha mesmo conhecimento da redação do documento, enviado a todas as escolas do município em papel timbrado e em duas versões; uma delas com uma historinha para ser contada no lugar do verdadeiro significado da Páscoa.
Afinal, se não respeitam nem Jesus Cristo, iriam respeitar o prefeito? Melhor ele ficar mais atento ao que acontece ao seu redor…
Esse caso ficará na mídia uns dias e depois será esquecido, até que brote algo parecido em outro lugar, e mais outro e mais outro, até que vire regra uma Páscoa sem Jesus.
Há pessoas cuja única preocupação é o preço exorbitante dos ovos, porém, os cristãos sofrem com a ofensa feita a Deus pela supressão do verdadeiro significado da Páscoa: a Ressurreição de Cristo Crucificado.
Por Afonso Pessoa
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