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Mozart: “Eu sou o rei da música”

Mozart, com sua música, conseguiu transparecer a resposta luminosa do Amor divino, da esperança, mesmo quando a vida humana é assolada pelo sofrimento e pela morte.

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Redação (04/01/2022 10:01, Gaudium Press) Hoje gostaríamos de convidar o leitor a dar um passeio pelos jardins da história.

Vamos recuar dois séculos no tempo e lançar as vistas sobre uma bela cidade. Em seu centro, a catedral de Santo Estevão, com sua torre aguda e rendilhada, adornando o panorama; edifícios medievais, renascentistas e barrocos, mesclam-se harmoniosamente ao longo de ruas tortuosas e pitorescas.

Falamos de Viena, capital da Áustria, sede de um império até o fim da Primeira Guerra Mundial, ponto de união entre ocidente e oriente europeus. Viena que o Danúbio envolve docemente nas suas sinuosidades ao longo da planície. Viena, cheia de vida, harmoniosa e alegre, acolhedora e afável, aquela que, provavelmente, foi uma das cidades que mais soube desenvolver um estilo de vida caracterizado pela douceur de vivre [1]. Viena, a capital… da música.

Mozart, o “rei da música”

Houve um compositor vienense que, por certo, soube mais que nenhum outro exprimir em música os bons valores do século XVIII: Wolfgang Amadeus Mozart.

Nascido a 27 de janeiro de 1756, seus dotes musicais desabrocharam muito cedo; aliás, se pode dizer que a música era coisa de família, já muito presente em sua casa: seu pai, Leopold Mozart, era um grande compositor e violinista, e exerceu um importante papel na formação musical do filho. Já aos cinco anos, Wolfgang compunha suas primeiras peças…

Quando contava seis anos, deu-se um fato muito singular. Mozart teve, então, a oportunidade de apresentar suas composições na corte da Áustria. Nessa ocasião pediu ingenuamente à imperatriz que desse sua filha, Maria Antonieta – que viria a ser rainha da França – em futuro casamento.

Os presentes alegaram que ele não possuía título de nobreza e, portanto, não poderia casar-se com a filha do imperador, ao que ele respondeu inocentemente: “Mas eu sou o rei da música.” Realmente, não mentiu…

O caso do “Miserere” de Allegri

Num dia do ano de 1770, estando ele na Capela Sistina assistindo a Semana Santa oficiada pelo papa Clemente XIV, escutou o famoso Miserere de Allegri interpretado pelo coro pontifício. Terminada a cerimônia, dirigiu-se com o embaixador da Áustria ao palácio da embaixada. O jovem Mozart, que contava então 14 anos, retirou-se precipitadamente ao seu quarto e começou a escrever, com caracteres peculiares, em seu caderno.

No jantar, o embaixador comentou a cerimônia, lamentando-se por não poder fazer conhecido o Miserere de Allegri ao mundo inteiro, dado que a partitura da música nunca fora concedida a ninguém.

Na Sexta-feira Santa, Mozart estava novamente sentado na Capela Sistina escutando o coro que cantava, mas desta vez olhando para o caderno que levara escondido dentro de seu chapéu. Um cardeal que ali se encontrava não deixou de observá-lo.

À noite, houve um grande concerto na vila de Borghese, o palácio e os jardins estavam iluminados e pelas janelas do palácio se faziam ouvir sons melodiosos de peças de músicas instrumentais. Houve um momento em que os assistentes se dirigiram para a galeria de mármore: “é ele! é ele! é a maravilha de nosso país”, diziam do menino que acabava de executar belamente algumas peças ao cravo.

O embaixador se acercou e, apoiando seu cotovelo no cravo, lançou-lhe um olhar encorajador. Para surpresa de todos, o pequeno Mozart começou a interpretar com maestria o cobiçado Miserere, ao que todos ficaram surpresos: uns falavam em prodígio, outros, porém, alegavam roubo da partitura. “Para que seja tão perfeito, é necessário que tenha sido escrito enquanto o executavam!”, disseram alguns.

O cardeal, que tinha observado o menino na Capela Sistina durante a manhã, afirmou resolutamente que viu o insigne intérprete olhando seu caderno ao decorrer da cerimônia no Vaticano. Entretanto, o embaixador da Áustria, segurando a pequena mão do menino, replicou ao cardeal: “vossa eminência está seguro disso?”, ao que o cardeal respondeu que sim. Nesse instante, o menino lhe dirigiu a palavra, dizendo que, nessa hora em que o cardeal o observava, não fazia mais que conferir suas anotações, pois já tinha escrito tudo de memória desde a primeira vez em que ouvira a música.

Num outro dia, o pequeno gênio foi levado ao Vaticano. Depois de ter passado por alguns salões, foi introduzido no recinto papal. Clemente XIV perguntou-lhe com bondade:

– É verdade, meu filho, que esta música sacra, reservada somente para Roma, a tendes guardado em tua memória desde a primeira vez em que a ouvistes?

– É verdade, santo padre

– E como isso é possível?

– Sem dúvida, pela permissão de Deus – replicou o artista.

– Sim, foi Deus que te fez gênio, diz o santo padre, e tu és evidentemente um de seus escolhidos para fazer pela Igreja coisas assim, belas e maravilhosas”.

Suas músicas não morreram com ele

Até mesmo os derradeiros momentos de sua vida não se deram sem a presença da música: enquanto Mozart compunha, a pedido de outrem, uma missa de réquiem, rendeu sua alma a Deus a 5 de março de 1791. Aliás, esta sua última composição seria cantada por ocasião de sua morte.

Suas músicas, entretanto, não foram sepultadas com ele. Mozart deixou-nos inúmeras composições que constituem um verdadeiro tesouro cultural. Neste sentido, afirmou Bento XVI: “Mozart, em sua música […], conseguiu transparecer a resposta luminosa do Amor divino, da esperança, mesmo quando a vida humana é assolada pelo sofrimento e pela morte”.[2]

Por Andrés Sierra e Paulo Rozanski


[1] Expressão francesa que se traduz literalmente por: “doçura de viver”.

[2] BENTO XVI. Discurso ao final do concerto oferecido ao Santo Padre pela Academia Pontifícia das Ciências. Castel-Gandolfo, 7 set. 2010.

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